O terrorista brasileiro

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              Malditos chineses e seus preços microscópicos, praguejava Salim. A renda do comerciante da SAARA, centro de comércio popular do Rio de Janeiro, não parava de cair. Ele calculava... Se 30 chineses fazem duas mil bolsas LouisVuitton, ganhando vinte centavos por dia, quantos brasileiros...? Percebeu que se continuasse sua regra de três, constataria a impossibilidade de concorrência. Para competir com essa mais-valia, não bastava ter nariz de turco, precisava de um poço de petróleo. Nesse momento, recebeu um aviso da prefeitura informando que o alvará de funcionamento de sua loja seria cassado, por haver funcionários em situação irregular. Salim se revoltou . Governo de ladrões! Permitir aquela concorrência desleal, achacá-lo com impostos e ainda fechar sua loja. Isso não podia ficar assim. Foi aí que a ideia surgiu: Um atentado terrorista! Agora o Estado brasileiro iria experimentar a ira de um Libanês. Na verdade, Salim nasceu Nilópolis, logo após seus pais chegarem do Líbano, mas o que importava isso? Seu sangue era libanês e por isso não teria medo de dar a vida em sacrifício por uma causa, ou melhor... , isto é... fazer qualquer sacrifício por uma causa. Infelizmente, não teria a honra de morrer na ação, uma vez que pretendia causar explosões simultâneas na prefeitura e na assembleia legislativa. Se ele se explodisse em um dos eventos, não poderia estar no outro. Isso seria uma desfeita. O jeito era detonar a distância. Pra começar, procurou seu guia espiritual, pai Nezinho de Xangô, e perguntou qual seria a melhor data para uma ação grandiosa. Logicamente não deu detalhes da natureza da ação. Olhando nos búzios, pai Nezinho descartou segunda-feira: É dia das almas, as energias não são propícias. Salim pensou ainda que segunda é dia de começar dietas, não de entrar pra história. É melhor na terça. Nesse dia , no entanto, lembrou que a Cet-rio previa engarrafamentos, por mudanças no trânsito. Melhor não. Na quarta, jogo no Maracanã. Chegou à conclusão: Tem que ser domingo, para a cobertura do atentado não competir com as novelas. Ele põe o plano em prática. É chegado o grande dia. Salim está com o detonador nas mãos. Então aperta o botão. Espera o estrondo... e nada. Nada acontece. Procura, no manual dos explosivos que comprou, alguma informação do fabricante e vê aqueles símbolos incompreensíveis do mandarim. Malditos chineses!

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