Ela estava sem jeito. Não sabia como começar. Ele não percebeu. Só queria falar e tirar logo aquele bolo da garganta:
- Roberta, não dá mais!
- Não dá mais o quê, Luís Cláudio?
- A gente. Não dá mais!
- Você tem certeza disso?
- Tenho.
- Então tá.
Ele olha para ela surpreso. Esperava uma reação: inconformismo, raiva ou até desespero(desespero seria bom). Ela estava serena.
- É isso que você tem pra me dizer? "Então tá" depois de tanto tempo juntos. Tanta cumplicidade... você falava de um encontro entre almas e agora essa secura?
- Secura? A tristeza é tenta que fiquei sem palavras. Você não imagina o quanto está doendo, mas eu prometo que um dia vou conseguir me refazer.
Coitada, pensa ele, enquanto briga para equilibrar uma lágrima que começa a fugir do olho. Passa a mão no rosto pra disfarçar e tenta argumentar:
- Acho que se a gente...
- Não, Luís Cláudio, não quero que fique comigo por piedade. Vejo que você está decidido e admiro isso em você.
Então ela puxa do bolso um molho de chaves( do apartamento dele) preso a um bilhete que ela arranca e esconde de volta no bolso sem que ele perceba, pois está em guerra contra seus olhos, agora, visivelmente marejados.
- Toma. Não é bom que a gente se veja tão cedo. Seria muito doloroso. Adeus!
Foi só ela sair, para ele desabar no sofá aos prantos. Nunca pensou que sofreria tanto para conseguir o queria. Pensou consigo mesmo: se eu estou assim, imagino como ela está. Então ouve um barulho de motor arrancar e lembra que ela chegou ao apartamento dele de ônibus. Olha pela sacada e só vê um carro preto virar a esquina na rua deserta.
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Garrafa de náufrago
Short StoryDivirtam-se com esta coletânea de contos e crônicas sobre assuntos do cotidiano, além de artigos que misturam humor e crítica social fugindo dos modismos intelectuais. ESTA COLETÂNEA ESTÁ REGISTRADA NOS DIREITOS AUTORAIS. PLÁGIO É CRIME!