Garrafa de náufrago

Quando o remédio é pior que a doença

Quando o remédio é pior que a doença.

Estava com uma dor de cabeça irritante, além dos sintomas iniciais daquilo que já foi gripe, porém, hoje, chamam de virose. Encontrei um remédio na gaveta e conferi a validade. Como não o usava há tempos, não me lembrava se deveria tomar de seis em seis, ou de oito em oito horas. Fui à bula. Procurei por toda parte e não encontrei "posologia". Olhei mais detidamente e também não vi "indicações", nem " reações adversas". Foi então que percebi que no lugar de posologia estava a seguinte interrogação: "Como devo tomar esse medicamento?" Meu Deus ! Refleti. A cabeça doeu mais. Parece uma mudança banal, mas não é. Mudar as bulas dos remédios não era o errado, até porque todas as pessoas precisam das informações nelas contidas. A questão é que essa mudança é a constatação da ineficácia do ensino da modalidade da língua, conhecida como "norma culta" no Brasil. O problema, na realidade, é a precariedade do sistema de ensino que vai desde o básico até o ensino superior e isso não se restringe à língua portuguesa. Os advogados se formam, mas passar nas provas da OAB é outra história. Conclusão: tomei o meu remédio na hora certa, porque eu consigo entender a linguagem simplificada da bula. Será que a população em geral entende os textos das leis que regem o país? Será que o próximo passo é fazer uma versão de cada livro importante para que os brasileiros entendam? Constituição Federal ( simplificada para brasileiros ) Já que não entendemos mais o hino, muda-se o hino. Nos manuais é fácil : é só colocar mais desenhos. Os livros infantis já se adiantaram e, agora, vi um que se desdobrava, transformando-se em um lindo castelo: sem nenhuma letra! Até quando vão tentar disfarçar a incompetência do Estado em educar, nomeando isso de evolução ou adaptação aos novos tempos que são mais dinâmicos? Não reconhecer a doença agora virou remédio? O pior é que fazem isso com o endosso de alguns profissionais da educação que acham, por exemplo, que ensinar gramática é coisa do passado. Triste será viver num país em que se precisa ser médico para ler uma bula e ser advogado pra entender uma lei.