A noite passada

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É de manhã. Sinto meu rosto no chão fresco que me alivia o calor. Acordo, mas não quero abrir os olhos. Pura preguiça. Minto: é preguiça somada à vontade de reviver a noite de ontem. Ela se mudou aqui pro prédio faz quinze dias. Seu nome é Mel: Doce como seu olhar. Doçura que só perde para seu jeito de mexer as cadeiras quando anda. Ah! Desde então nos vimos raramente. Até ontem, quando fomos fazer uma visita de boas-vindas e já na entrada nossos olhos se cruzaram... bom de lembrar...Tomo coragem pra levantar. Faço um alongamento e estico todo meu corpo, que parece pesar toneladas. No meio do movimento, a moleza me ataca novamente e largo o corpo na posição. Bocejo. Olho pela varanda. Lá vai o gato do apartamento em frente. Debruço na sacada fazendo barulho. Ele me vê e sai correndo. No início, a noite de ontem foi angustiante, não tinha fim. Eu tão perto e não podia tocá-la. Nossas famílias sempre nos vigiando. Até que conseguimos um minuto de privacidade. Minuto que valeu a pena. O cheiro dela ainda está no meu nariz. Pensar que só uma parede nos separa... Que coceira boa na orelha... De repente, ouço sua voz. Ela fala com alguém. Acho que é com a empregada. Será que é sobre mim? Então, a empregada a repreende:

- Para de latir, Melzinha, é cedo demais. Vai acordar os vizinhos.

Me meto:

- Eu já estava acordado!

A empregada:

- Tá vendo?! O cachorro do vizinho você já acordou!

Resmungo:

- Insensível! (coçando a orelha)

Garrafa de  náufragoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum