O safadão

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Era o início dos anos noventa. Naquele tempo o que movimentava a vida dos garotos e garotas entre 12 e 16 anos eram as festinhas americanas. O garotos levavam garrafas de refrigerantes de 2 litros; as meninas, um prato com salgadinhos. Cada festa ficava a cargo de um dos integrantes do grupo. Quase sempre ocorriam nas casas das meninas. Tudo não passava de um pretexto para que os candidatos a namorados pudessem ter um encontro com mais privacidade que no pátio do colégio. Ali podiam dançar no escuro aquelas músicas bem lentas. Dançar é modo de dizer. Ficava-se praticamente parado com os corpos bem juntos e rosto colado até que rolasse o tão esperado beijo.

Inicialmente, ele apoiou sua mão nas costa dela. Por trás da menina, sem que ela pudesse ver, os amigos mais velhos incentivavam para que ele abaixasse aquela mão. Embora tivesse vontade de fazer aquilo, ele não tinha coragem. Convidá-la para dançar, retirando-a do meio do grupo de amigas já tinha sido um ato heroico, tendo vista sua timidez. Como os amigos eram insistentes e ele sempre cedia à pressão do grupo, foi descendo lentamente a mão. Não desceu de uma vez. Descia um pouco e parava. Depois continuou descendo. A menina percebeu a intenção dele e esperou para ver aonde ele queria chegar com aquilo. Aquela ousadia a surpreendeu, pois ela achava o menino bonitinho, mas com cara de bobo. Os amigos gesticulavam apontando pra baixo "desce mais". Então, mesmo sem acreditar no que fazia, sua mão desceu e se apoiou em cheio na bunda da menina. Ele prendeu a respiração, fechou os olhos e esperou o tapa. Os amigos que assistiam a tudo se abraçavam de alegria como técnicos quando o time faz um gol. Faziam sinal de positivo para ele que mal pode ver. Isso só durou alguns segundos, até que a menina, sem interromper a dança, pegou a mão dele e colocou na própria cintura, mostrando para ele qual era o limite. A partir dali, seguiu-se o protocolo: Dançaram mais algumas músicas, veio o beijo e eles saíram de lá namorando. Aquela experiência lhe ensinou proveitosas lições sobre o sexo feminino que lhe seriam muito úteis no futuro. Mas ele adorou mesmo as consequências imediatas, quando na semana seguinte, ao passar pelos corredores do colégio, ouviu várias meninas o recriminando com ar de riso mal disfarçado: "Você hein, quem diria?"

=D*ugF

Garrafa de  náufragoWhere stories live. Discover now