46 - A fé é a prova das coisas que não se vê.

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Claudia acordou com uma dor horrível no ferimento, surpresa percebeu que já era dia. Recordou- se de ter falado exaustivamente com a irmã, e devido ao esforço o ferimento voltara a doer, mas a enfermeira lhe aplicara uma medicação e disse que ficaria bem, mas a dor estava forte, pelo menos não doía tanto quanto doía da primeira vez que acordara e tentara se movimentar. Olhou ao redor a procura da irmã, encontrou a mãe que olhava pela janela.

- Mamãe! - Sussurrou, temerosa que a dor piorasse; a mãe se virou para ela, com o rosto inexpressivo.

- "A mamãe carinhosa e atenciosa já se foi, vamos ver o que acontece agora"! - Pensou com tristeza.

- Como você está? - Perguntou a mãe se aproximando.

- A senhora está bem? - Respondeu com outra pergunta.

- Eu não sei minha filha, por que você não me fala? Como você pôde envolver a sua irmã nessa situação?  - Perguntou baixo.

- Eu não a envolvi em nada, eu precisei de ajuda e ela me ajudou, como qualquer irmã faria. - Respondeu nervosa, devido a dor e a tensão de uma possível discussão com a mãe sentindo dor, talvez devesse dizer logo que estava com o peito doendo.

- Sua irmã? - Disse entredentes. - Foi para convencê-la a te ajudar que você derramou em cima dela a sua história trágica não foi? - Perguntou com desdém.

Claudia sentiu as lágrimas chegarem ao seu ouvido, quando disse a verdade à irmã sua intenção era que ela 'compreendesse' a necessidade que ela sentia em querer ajudar o menino Guilherme, naquele momento ela não cogitou a possibilidade de que a irmã se sensibilizaria com a sua 'história trágica', pelo contrário, foi uma agradável surpresa ver sua irmã  sensibilizada com a sua narrativa.

- Não foi essa a minha intenção. Ela tem todo o direito de saber o porquê da vida dela ter tomado um rumo tão diferente!

- Você não tinha o direito de envolver a minha filha nas suas histórias mal contadas, de leva-la para o meio de um tiroteio, e ainda fazer com que ela mentisse pra mim e para o pai dela, ao contrário de você ela não me teve ao lado dela o tempo todo, aliás por sua causa, eu estive ausente na vida dela.

- E eu sinto muito por isso. - Sussurrou triste.

- Por que você sempre faz isso? Sempre me faz falar o que eu não quero?

- "A senhora sempre fala isso, e como sempre, eu acho que a senhora quer falar exatamente isso". - Pensou fechando os olhos.

- Mãe o que a senhora está fazendo aqui? - Sussurrou respirando mal, abriu os olhos em pânico.

- Porque é minha obrigação. - Respondeu furiosa andando de um lado para o outro no quarto.

Claudia olhava para a mãe, e as lágrimas desciam, ela não sabia se devido a dor no ferimento, ou a dor no próprio coração. Talvez afinal a bala tivesse sim atingido o seu coração e por isso doía tanto.

A mãe passara tanto tempo, cuidando dela, vigiando para que ela não se metesse em encrenca que não cuidou das próprias filhas, não sabe pelo quê elas passaram, não sabe pelas dúvidas e confusões pela qual Carla passou. A intenção dela sempre foi proteger a todas, mas na verdade não protegeu nenhuma e hoje as filhas são todas desconhecidas para ela.

- Mamãe a senhora está livre. - Disse baixo fechando os olhos devido as dores, agora tudo lhe doía.

- O que você disse? - Perguntou se aproximando.

- A senhora não tem obrigação nenhuma de ficar aqui comigo, pode ir para casa. Espero que a sua conversa com a Carla tenha sido o mais verdadeira possível, e a senhora aproveite essa chance de ficar perto dela, e cuide um pouco dela.

Deus também estava lá.Where stories live. Discover now