São Paulo - SP, Abril de 1995.
Eu cheguei cedo ao nosso bunker, claro que o nosso 'bunker' se resumia a um balcão enorme onde usávamos nossas porcarias e sonhávamos com uma vida que se não deixássemos aquela em que vivíamos jamais realizaríamos tais sonhos, subi até a lage e fiquei olhando as estrelas, era um dos poucos lugares nessa selva de pedra que era possível ver as estrelas de maneira tão maravilhosa.
- Imaginei que você estivesse aqui admirando as estrelas. Já disse para você parar com essa boiolagem, as pessoas já estão comentando que eu tenho um sobrinho boiola. - Retrucou Jorge, como se eu me importasse com isso.
- Eu não sou seu sobrinho! - Resmungo.
- Mas eu estou no lugar de seu tio, e é melhor você ter mais respeito. - Disse deitando ao meu lado.
- Você nem sabe o que é respeito.
- E você é mal agradecido, eu trouxe um presentinho para você, e veja como você me trata. - Disse me entregando minha preciosidade, olhei de esguelha para ele.
- O que você quer que eu faça? - Ele só me dava drogas de graça quando queria que eu fizesse alguma coisa para ele.
- Estou em um dilema, o Leo quer que eu quebre as pernas do Enrico, porque o playboy está enrolando para pagar a dívida, mas eu não posso fazer isso.
- E porque não? - Perguntei preparando meu lance.
- Porque o senador disse que vai pagar, só está dando um gelo no garoto, e eu namoro a irmã do cara, como que eu posso fazer um negócio desses com o irmão dela?
- Quem escuta até acredita que você é apaixonado por ela.
- Claro que eu a amo! A Érica faz com eu me sinta especial, se eu fosse deixar essa vida por alguém com certeza seria por ela. - Disse sonhador, até eu acreditei.
- Sei! E a loirinha vizinha dela?
- Nem me lembre daquela desgraçada. - Disse furioso.
- Ok, ok! E o que você quer de mim? Sabe que não tem a menor chance de eu quebrar as pernas do playboy.
- Claro que não, você é covarde demais para isso.
- O seu sócio é mais covarde que eu, e eu não vejo você chamando ele de covarde.
- Ele não faz, mas tem quem faz por ele. - Tentei me concentrar, ele não me traria do seu melhor bagulho, para apenas desabafar comigo, isso ele já fazia o tempo todo só para me atormentar.
- Diz logo o que você quer, já o pessoal começa a chegar.
- Quero que você me dê uma solução, um modo que eu tire o Leo do meu pé e não precise fazer nada contra o Enrico.
- Simples, paga a parte que ele deve para o Leo e diga a ele para te trazer a vizinha gostosa dele pra você por sei lá... Uma noite? Ou o quanto você precisar para tirar ela da sua cabeça. - Assustei com ele me empurrando.
- Você é um gênio!
- Sou? - Perguntei confuso.
- Pega, hoje você merece só o melhor.
No dia seguinte, acordei com o Jorge me sacudindo, minha cabeça doía e meu estômago revirava.
- Para cara! Ou vou vomitar na sua cara.
- Eca! - Disse se afastando.
- Eu estou indo para a faculdade, e vou fazer a proposta para o Enrico.
- Proposta, que proposta?
- A que você me sugeriu ontem, eu nem dormi pensando no que eu vou fazer com aquela loirinha.
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Deus também estava lá.
RomanceClaudia é uma jovem traumatizada, protegida pelos pais, e descrente. Ela decide morar sozinha e trabalhar, e quer ser livre e independente. Mas a mãe dela contrata Luciana para trabalhar na casa dela e o primo Marcelo vai passar uns dias com ela, e...