Como se eu te quisesse

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Às vezes gostaria que você soubesse, mas me escondo na verdade. Eu afirmo que estou feliz, mas continuo preso em nós. Eu não consigo pensar claramente. Sua mente joga esse jogo também? Brinca com suas ideias e inverte qualquer concepção? Te prende ainda mais em nós quando há algo se desconfigurando a cada suspiro?

Acho que vou fingir até que tudo faça sentido. Olha-lo me faz lembrar dos dias em que éramos diferentes juntos. Mas eu não posso fazer uma cena. Não posso te mostrar. Você não tem ideia do quanto eu quero você e mesmo que seja verdade, eu tenho que agir como se te amasse. 

Acho que já passamos do ponto. Você poderia me dizer o seu ponto de vista? Me diga, é minha culpa? Você sempre parece lidar melhor com o ritmo desse relacionamento. Você é o único que dita o nosso ritmo. Por vezes, eu sinto como se estivéssemos em um jantar a dois, você do outro lado da mesa, sorrindo majestoso como sempre, mas falta algo. Há um vazio em seus olhos que eu não alcanço. Eu não me esforço em alcançar. Porque eu fico esperando que você venha por conta própria, que se abra comigo. Mas você nunca vem. 

Tento ser paciente, mas tenho que encarar a verdade. Eu não penso que há motivos para me salvar agora, mas isso significa que não há como salvar a nós?  Se você me ama, vem até mim. Me permita alcançar essa parte sua que eu não consigo. 

Porque é tão difícil para você entender que eu preciso de você todos os dias. Acredite em mim quando digo que eu quero você. E mesmo que seja verdade, eu tenho que agir como se fosse. 

°°°°

Havia os dias mais tempestuoso em que Gulf se mantinha excessivamente quieto e concentrado. Nesses dias, Mew não sabia lidar. Mas ele vinha percebendo que ele não sabia lidar com nada em relação a Gulf. 

O corpo estirado no chão da sala estava tão imóvel quanto os móveis. Mew se aproxima, sentando-se ao lado. Aguarda por alguns minutos, Gulf continua sem se mexer. 

- O que aconteceu? 

- Minha mãe aconteceu. - Seus olhos continuavam fechados. 

Ontem havia sido mais um dos jantares familiares. A cada domingo Mew sentia que Gulf voltava mais estressado. Mas o garoto nunca compartilhava os tópicos das brigas. 

- Você entra muito em embate com sua mãe. Já pensou em ceder? - Mew estende a mão e acaricia os fios pretos. 

Gulf abre os olhos, os focando em Mew. 

Naqueles momentos, que vinham se tornando cada vez mais frequentes, Mew sentia que Gulf queria contar mais. Via em seu olhos o desejo de dizer seja o que fosse que pesava. E o mais velho aguardava ansiosamente, torcendo para que seu namorado confiasse, colocasse fé nele. Mesmo não sabendo o que ele queria dizer, desejava que ele acreditasse que pode pesar seus ombros também. 

Queria que ele se abrisse. 

Mas como das últimas vezes, a sombra da verdade volta a se fundir com os castanhos claros e um sorriso simpático surge, dispensando qualquer ajuda. 

- Eu não tenho porquê ceder. Não estou fazendo nada de errado.  - Então Gulf desvia o olhar, encarando o teto. Um semblante triste.  - Você me ama desse jeito, certo? 

- Eu te amo do jeito que você é. - Mew se inclina, docemente beija a testa dele antes de repousar sua cabeça no peito do rapaz.  - Eu te amo do jeito que você é. 

A cada volta, Gulf também parecia mais inseguro em relação a eles. Não sabia dizer se Glória estava minando sua mente com questionamentos acerca deles, mas em algum ponto dentre os últimos meses Gulf mudava mais. Seu temperamento não era o mesmo. Suas perguntas soavam cada vez mais necessitadas da certeza de afeição. 

Mew não podia pedir para que ele não fosse aos jantares com sua família, não seria justo. No entanto, alguma coisa estava se desgastando e não era o amor que sentiam um pelo outro. 

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora