Quem era eu

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- Dezenas de vadias adolescentes me jogaram na piscina. Eu tenho culpa de ser linda até mesmo debaixo d'água? - Guia narrava sua aventura no aniversário de sua prima. Ela era uma garota extremamente divertida, até nos desastre, que foi ela ser jogada na piscina com seu vestido caro com o qual iria ter um encontro depois da festa, ela fez parecer uma anedota.  - Sério G, aquelas piranhinhas mirins, quem disse que adolescente não pode apanhar? 

- O estatuto da criança e do adolescente? - Luke retorna a nossa mesa com os sucos e as sacolas de lanches. 

- É, mas esta lá no artigo 1.852 da puta que pariu que diz que podemos fazer as coisinhas pequenas pagar pelas merdas que fizeram. - Guia encerra a conversa com um dado obviamente tirado da aleatoriedade, ameaçando Luke com os seus olhos. 

- Ela está certa. - Murmura Luke , decidindo não irrita-la hoje. 

- Enfim, G, não querendo me meter na sua vida mas já me metendo porque somos amigos e por mais que você não lembre eu lembro, então preciso reatualizar as fofocas, eu vi o Mateus ontem no prédio da Avoc, vocês ainda estão juntos? - Eu juro que Guia disse tudo em três segundos, porque saiu de modo tão veloz que meu cérebro quase não registrou. Provável eu ainda estava expirando enquanto ela falava. 

- Ele estava no prédio em que ele trabalha. O que você foi fazer lá? - Luke se pronuncia antes que eu pudesse. 

- Eu sou fotógrafa bebê, fui lá ver meus jobs. A fada aqui não é pouca merda não lindo! - Guia lança um beijo no ar para Luke e se volta para mim. 

- Não sei, ele não veio falar comigo e eu...só não sei. - Murmuro, continuo a olhar nos olhos castanhos dela, Guia era a pessoa mais dissimulada em relação a suas emoções, e eu sabia disso antes mesmo do nosso segundo encontro de fato. 

- Vocês não deveriam conversar ? Tipo, eram tão fofos e apaixonados. - Sorrio sem muita verdade. 

- Vocês sempre dizem isso, mas não muda a situação atual. - Reparo que Luke se movimenta de modo desconfortável, demonstrando seu descontentamento com o rumo da conversa. - Quer falar algo? - Me direciono a ele. 

- Se for falar merda, não fale. - Guia sussurra, mesmo estando ciente de minha presença. 

Luke tirou seu tempo a me encarar, visivelmente se questionando se deveria ou não verbalizar o que pensava.

- Sabe, G. Antes do seu acidente, tipo, uns meses antes, você havia se tornando um tanto quanto irritadiço. - Luke começa a falar e Guia afunda em sua cadeira, mostrando não estar nada contente com a decisão do outro, e mesmo assim ele continua.  - Eu te conheço desde da facul cara, você sempre foi bom em esconder seus pensamentos, então, grande parte das vezes nós não sabíamos pelo o que você estava passando até você decidir falar. 

Aceno. Eu já categorizei meus comportamentos mais notáveis antes do acidente. E o número um era minha personalidade controversa, seguida de meu sufocamento pessoal. 

- Um dia desses, você me chamou para beber, eu vi que você não estava em um dia legal, e depois de finalmente estar chapado, decidiu me contar o que rolou ou pelo menos parte da historia. - Luke dobra os braços, a cada frase ele parecia tomar mais certeza diante de suas palavras. Seus olhos direcionados a mim, me fazendo captar o que ele queria passar com a mensagem. - Você disse que não aguentava mais não ser você, disse que na relação de vocês dois, você era o único a amar mais. Disse que o Mateus não te amava tanto quanto você o amava e que mesmo assim, você se moldaria por ele e diante de tanto esforço, não via saída, porque parecia que estava o perdendo sendo quem ele queria que você fosse. 

Eram nesses momentos, quando as pessoas falavam sobre mim e eu não sentia nenhuma conexão com o que eles apontavam, que eu me sentia descolado no tempo e no espaço. Porque revelavam um traço do meu eu antigo, que não necessariamente estaria comigo agora, e eu não sei o que fazer com tamanha informação. 

- Quer dizer, você estava bêbado. E você e o Mateus estavam passando por uma fase meio estranha, mas ele sempre te amou. - Guia havia se inclinado para frente, se ocupou em segurar a minha mão e aperta-la. Ela estava me consolando, por quê? Não era como se eu estivesse triste. 

- Se ele o amasse, teria feito alguma coisa após ele acordar. Já fizeram  meses, quase sete agora, se ele realmente o amasse teria vindo até você. - Luke não parecia ser muito simpatizante de Mateus, mais um para lista. 

- A gente não sabe, ok? - Guia diz o repreendendo com seus olhos, então ela se vira para mim. - Mesmo que você não queira saber de nada sobre vocês dois, finalize então do modo correto. E, além do mais, apenas conversando com ele que você poderá ter mais informações sobre a relação de vocês. Porque querendo ou não, G,. Nós não sabemos tudo, só sabemos o que você deixou mostrar. 

Guia me instruiu a tentar me acertar com o meu passado enquanto Luke fazia o reverso. Não me entenda mal, não estava confuso sobre o que fazer, mas sim sobre como fazer. A assimilação de minha vida está acontecendo por osmose, não faço esforço extra para que tudo volte ao normal, porque não tem como fingir que não existe uma lacuna nas minhas memórias que me impossibilita de sentir as coisas em seu todo. 

Em casa, me distraio lendo minhas antigas anotações da faculdade. E, surpreendentemente, eu conseguia definir os termos, mesmo não lembrando deles em exato. E assim, relembrando pequenas coisas, me fazia seguir sem pirar. Mas Mateus sempre voltava a minha mente. 

Pego meu celular e percorro a galeria pela milésima vez, talvez? Não sabia, nem comecei a contar, na verdade. Mas parecia um ato vicioso.

Vendo as fotos de Mateus com um sorriso sem graça diante de um prato de macarrão; eu e Mateus na praia; Eu beijando a bochecha de um Mateus sonolento na cama; as mãos de dele sobre as minhas; Mateus deitado no meu colo e eu fazendo pose para câmera; Eu e ele alegres trajados de ternos; 

Eram tantas lembranças que provavelmente nunca voltariam. Eu gostaria de apagar Mateus de minha vida, entretanto, era difícil diante de tanta prova de que nosso relacionamento não foi apenas uma passagem amorosa e sim fruto de problemas e momentos importantes. Não conseguia ignorar meu próprio sorriso acompanhado daquele homem. 

E ao mesmo tempo, os comentários de Jino e Luke circulavam pela minha cabeça. Eu e Mateus estávamos tendo problemas antes do acidente? Por qual motivo ele não veio me ver? Que tipo de relação nós mantínhamos e qual sua influencia para meu próprio comportamento abusivo? Eram perguntas que, de certo, algumas delas ou grande maioria, Mateus poderia sanar. 

Quem eu era? 

A cada dia, uma sombra se formava, pedaço a pedaço, montando um resquício do Gabriel antigo. Toco meu pulso direito. Por que eu me machuquei?  Essa parecia uma boa solução na época?

Minha sombra começou a pesar, sua leveza de antes sumia conforme os fragmentos iam se ligando.

Eu queria voltar a ser aquele Gabriel? 








Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Where stories live. Discover now