Como eu era com você

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- Como nos encontramos pela primeira vez e como foi o nosso primeiro encontro? - Mateus sorri, um sorriso de lábios fechados e preguiçoso. 

Eu realmente achei que nada mudaria ao vê-lo após esses meses, mas estranhamente eu não estava isento de sentimentos quanto achei que estaria. Ele parecia um tanto diferente da última vez que nos vimos, agora, seu cabelo ondulado estava mais cheio e seu rosto um tanto inchado. O observo dobrar suas pernas e se deixar mais confortável no sofá, seus olhos me encarando de volta. 

- Foi em um ensaio, você estava lá para tirar fotos. E a primeira vez que nos falamos de fato foi num evento privado. - Mateus sorri e balança a cabeça, quase como se a lembrança fosse memorável. - Você veio até mim, me disse que eu era o cara mais bonito do recinto depois de você. Seu ego Gulf, inusitadamente, me prendeu a você. 

Eu não sabia o que falar ou como reagir. E ele continua. 

- Na verdade, eu sabia que você não queria ser só meu amigo, mas eu te coloquei na zona de amizade porque eu realmente não sentia atração por você, além de ser muito novo na época. - Mateus aperta as mãos em frente a seu colo. - E, com o tempo, você foi se aproximando e eu fui te conhecendo, você se mostrou tão o oposto do garoto egocêntrico que por vezes eu achei que você fosse. 

Seus olhos nunca deixavam os meus. Haviam tantas emoções ali, eu não conseguiria enumerá-las. 

- Não sei quando, mas em algum momento, eu queria estar com você, eu não sei como você não cansava. Apesar de suas investidas, acima de tudo, você sempre foi um bom amigo.  Lembro-me do dia exato em que percebi que comecei a me apegar fisicamente e emocionalmente a você. Nós estávamos em um parque de diversões, você sabia que eu não gostava de comemorar meu aniversário, então, você me levou primeiro a uma exposição no centro, o lugar mais chato para se estar, de acordo com você, mas você também amava exposições, amava julgar os quadros abstratos e criar narrativas para eles. Aquela foi a sua desculpa para comemorar meu aniversário e eu sabia.

Eu vi saudades em seus olhos. Mateus sorri mais uma vez, porém, dessa vez, estava carregado de tristeza. 

- Eu nunca te disse que eu fui, aceitei sair, porque eu queria estar com você no meu aniversário. Eu me fiz de difícil nesse dia devo admitir, mas foi muito divertido. Depois, no caminho, encontramos um parque, e lá, eu descobri o menino fofo que você era. E, aquele foi oficialmente o nosso primeiro encontro. Pelo menos para mim. 

Um silencio recai sobre nós. Minha mente vazia de palavras.

- Desculpa. - Ele diz. 

- Por que?

Mateus parecia estar a beira de um decair. 

- Porque eu não tentei te alcançar. Você me pediu para nunca desistir de você, mas eu não posso insistir. - Eu não entendia, mas suas palavras atingiram algum ponto dentro de mim e aquilo me incomodou. 

- Motivo? 

- Eu não fazia bem para você, Gabriel. - E aquilo me surpreendeu, pois eu não esperava. - Eu só posso compartilhar as minhas memórias e não necessariamente elas também serão suas. 

- Seja sincero comigo, Mateus. - A minha voz, para mim soou tão necessitada quanto a do vídeo no meu celular, e parece que para o Mateus também, pois seus olhos arregalaram por alguns segundos. 

- Eu descobri que você se machucava por minha causa. Isso doeu tanto, Gabriel. E eu me sinto um idiota porque eu não quero falar disso com você assim. Você não lembrar me alivia, porque o meu amor para você não era tão lindo conforme eu achei que fosse. Nós tínhamos problemas como qualquer outro casal, mas eu não consigo voltar atrás sem lembrar o fato de que você escondia de mim grande parte do que te incomodava. Isso aqui... - Sinto ele puxar meu pulso, seus longos dedos acariciam as marcas finas em meu pulso. - Isso aqui... você dizia que foi por conta do relógio e eu acreditei. Quando, na verdade, estava se auto imolando. 

O peso e seus olhos me angustiavam. Eu não conseguia organizar meus sentimentos, eu não entendia o que estava sentindo. 

- Tudo o que eu mais queria era poder te entender, entender o motivo por detrás disso. Eu falhei com você porque eu decidi focar em mim e não olhar para você.  Naquele momento, não foi justo o que fiz e penso que... eu possa ter agravado tudo o que acontecia com você. Eu fui um covarde, Gabriel. - Seus olhos voltaram aos meus e eu queria poder dize-lo para parar de falar aquelas coisas, ele não tinha cara de ser covarde. Ele não faria isso. Mas de onde vinha tanta certeza em alguém que eu não conseguia me lembrar? -  Se eu tentasse te impedir, conversasse com você... seria diferente? Eu me pergunto sobre isso, mas não adianta remoer, só me machuca mais. 

- Qual foi o último dia em que nos vimos antes do acidente? - Era difícil ignorar a aflição crescente em meu peito e era mais complicado ainda não querer saber. 

- Quase uma semana antes. Eu não te procurei nesses dias, mas você tentou falar comigo. No dia do acidente você me mandou uma mensagem. Eu não escutei. - Murmura soltando o meu pulso.

Retraio minhas mãos para o meu colo, me sentindo ansioso. Seu toque não era estranho a mim, ao mesmo tempo em que eu não o associava a nada. Esse contraste estava começando a se tornar frequente.

- Onde eu fiquei nesses dias? - Mateus me dá um olhar de curiosidade.

- Pensei que estivesse em casa. 

Mateus não sabia onde eu estava? Quer dizer que existe um entre lugar que eu não me lembro de estar antes do acidente? Luia me disse que fiquei uma semana sem ir para casa, o mesmo tempo sem vê-lo. Aonde eu poderia estar?

- Eu tenho um apartamento, certo? 

- Sim, mas você o deixou. Alugou para um casal mexicano. - Aceno, tentando em vão lembrar. 

Apoio minha cabeça em minhas mãos.

- Isso é tão cansativo. Tentar entender quem eu era. Como éramos. - Sussurro. 

- Sinto muito. Mas você não precisa se forçar a tanto. Apenas volte a viver, Gabriel.

Sorrio incrédulo. 

- Todos me dizem isso. Volte a viver. Aproveite essa nova oportunidade. - Mateus não sorri de volta, não reagia. Eu queria lê-lo, mas eu não sabia como. 

Nada encaixava. O que significava toda a sua fala? Ele desistiu de nosso relacionamento? Por que todo mundo me aconselha a desistir também? A culpa parecia ser mais minha do que dele, então porque ele se sentia culpado? Eu queria rir na sua cara. Eu queria duvidar de seu amor, mas que direito eu tinha agora quando não restava nenhuma lembrança sua em mim. 

- Eu vou embora. - Não espero ele responder. 

Eu vim com o objetivo de poder apenas estar a par do que éramos e sair do que fosse o arranjo feito antes do acidente, não seria justo com ele e nem comigo. Mas eu não sabia lidar com esse sentimento no meu peito. Não comecei a me sentir assim durante a conversa, mas sim quando eu entrei no quarto. Parecia algo tão distante de mim. Eu reconheci minhas roupas e a foto na cabeceira mais uma vez esfregando na minha cara seja quem for quem eu era. O tecido da cama entre meus dedos me traziam certas sensações, mas nada vinha.

Nada! 

Essa sensação era abafadora. Me impedia de organizar as falhas dentro de minha memória. Eu estava lutando com um vazio mental a todo tempo. E esse apartamento, Mateus... eu não sabia por em palavras o que me remetiam. Mas me deixavam confuso e irritado. 

Por que o fato dele desistir me irritava tanto quando eu fui lá planejando fazer exatamente isso?  


Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Onde histórias criam vida. Descubra agora