Antes do nosso adeus

366 81 12
                                    


MEW

Havia uma tempestade dentro de mim, destrutível ondas de dor e ressentimentos. Mas acima de tudo, amor. Era estranho o ter diante de mim. De certa forma me acostumei a viver sem ele, aguardando o dia perfeito, quando ele abrisse os olhos e quando tudo pudesse voltar a ser bom. E agora, mesmo o tendo aqui, perto o suficiente para ver, mas distante o suficiente para não poder tocá-lo. Seu lugar na minha vida continuava intacto e vazio. 

Me agarro nos detalhes de seu rosto, nas tentativas de relembrar de seus olhos; me apego ao jeito como sabia que estava tenso e ansioso. Vou levar tudo comigo. Esse debate foi feito e finalizado por mim meses atrás, revisitei minha decisão algumas semanas atrás e Naila tinha razão. Eu poderia ser egoísta às vezes. 

Do início de nossa história até hoje, mesmo diante da separação de nossos caminhos, eu ainda me encontro perdido no labirinto de seu coração. Mas agora eu não tenho apenas o amor comigo, eu tenho o medo também. Possivelmente fui infiel com as minhas palavras, talvez eu acreditasse na mãe dele. E se ferrasse tudo de novo, mas dessa vez completamente consciente do que está acontecendo? 

E se ele mesmo perceber que apenas estava se agarrando a mim por ser algo mais fácil, tal qual era antes? Eu não queria questionar, mas a minha mente me bombardeia pensamentos como esses há semanas. 

- Por que a gente não pode tentar mais uma vez? Me dê a oportunidade de reconquistá-lo, me dê a oportunidade de entender meus sentimentos por você Mew. - Em momentos como esse, ele era o Gulf de antes. Sempre foi ele, mas agora eu não vivia em suas lembranças e isso era a única coisa que me agarrava a essa decisão. Seria mais fácil para ele me esquecer uma vez que já não se lembrava. 

Tudo seria melhor para nós dois, até Glória pararia de importuna-lo. 

Se o meu destino é desaparecer, então essa é a minha última chance de dizer as palavras que serão esquecidas com o tempo. 

- Não tenho que lhe explicar meus motivos, mas não quero que isso fique entre nós. - Os olhos castanhos não escondiam a confusão, a dor que eu nunca fui capaz de ver antes. 

- Eu tenho tantos sentimentos por você, mas eu me desconectei de mim de tal forma que não posso retornar ao meu antigo eu. Eu deixarei você ir Gulf. Foram tantos dias cheio de trabalho na tentativa da fuga de você. Me mantive ocupado por longos dias, enchendo minha agenda de maneira que a única coisa a pensar seria qual o próximo arquivo para resolver. E mesmo assim, eu nunca me esqueci, você sempre estará gravado em mim. Acredite. Mas me desculpe, eu não sei se posso fazer isso. Eu disse que te amo e não foi mentira, nunca foi, só que talvez agora seja o nosso fim. Acho que seria o melhor ... 

Me seguro o máximo que posso. Na vontade de pergunta-lo o que ele tem feito ultimamente, quais eram seus pensamentos quando estava distraído. Queria tirar do meu peito a assombração dos dias que era estar sem ele. Mas eu não tenho escolha a não ser continuar, isso não era apenas por ele, mas por mim também. 

No entanto ele me surpreende com suas próximas palavras. 

- Você não vai fazer isso. Não quando eu estou uma bagunça por dentro! Você foi o único a chegar até mim e dizer que era o meu namorado! Que se foda! Você está sendo um filho da puta irresponsável com os meus sentimentos. Ok, eu não lembro de você, nossa relação era uma merda porque eu era um fodido mentalmente, mas você nem ao menos está reconsiderando. - Gulf se levanta, com os olhos o acompanho sair do restaurante. 

Suspiro, tirando a tensão de meus pulmões. Meu corpo doía de maneira abstrata que quase parecia física. Não era justo eu ter de encarar os fantasmas de nossa relação sozinho, mas era como era. A lembrança dos seus olhos magoados da última vez em que nos vimos a mais de um ano atrás volta como uma pintura bem feita, criando um conjunto  mosaico com a forma como seus olhos não mudaram e com tudo o que sei agora. 

°°°

Se houvesse animo suficiente eu sorriria. Ao chegar no estacionamento Gulf estava apoiado no carro, me esperando. Do mesmo jeito de sempre. Ele nunca apenas ia embora, mesmo chateado, ele nunca era o primeiro a desistir. Seus olhos encontram os meus quando me aproximo. Me coloco a seu lado, ainda mantendo certa distancia. 

- Você poderia facilitar para mim. - Murmuro.

- Eu te disse que não seria fácil se livrar de mim. - Sua voz audivelmente irritada. 

- Como você quer reconstruir algo que não lembra Gulf? Sinceramente, você está sendo egoísta! - Se virando para mim, podia sentir o seu descontentamento em minha direção. - Eu estou tentando ser condescendente aqui, afinal eu sou aquele que lembra de tudo! Mas você tem a chance de sair dessa relacionamento sem qualquer marca e eu sou um poço dos momentos que não posso consertar! 

Não era assim que queria prosseguir nossa conversa, mas havia extensa comoção interna, pronta para ser expostas junto a minha dor. 

- Não é fácil para mim como parece ser. Você não tem ideia do quanto eu quero dizer sim, eu enfrentaria a porra do mundo de novo, eu tentaria Gulf. Mas eu não posso fazer isso com você de novo. E nem comigo. Eu tenho medo ok,  você pode me chamar de covarde, mas eu te amo demais e eu posso desistir de nós. Eu posso fazer isso. Me deixa fazer isso Gulf. Pela primeira vez, me deixe ir. 

GULF 

Mew agarra o meu rosto, seus olhos frios de antes romperam o gélido para um fogo que ardia no meu coração. E não da maneira boa. 

O conflito de sentimentos dentro de mim me deixavam desfocado, mas não perdido, pelo menos, não completamente. Agarro um de seus pulsos e a sua nuca, trazendo sua cabeça para o meu ombro. Mew cede facilmente. Sua respiração soava pesada, arrastada. 

- Eu entendo que há muitas histórias entre nós que não foram resolvidas, mas nós não podemos viver do passado Mew. Posso não me lembrar conscientemente de nós, de você... - Seguro seu rosto, sentindo sua pele macia. - Mas eu ainda consigo senti-lo aqui dentro. Não me pergunte como, eu não sei, mas não é que eu não posso te deixar ir, eu não consigo. 

Lágrimas desciam pelos olhos bonitos. Seco a cada nova que cismava em permear a bela face dele. 

- Não posso mudar o passado e muito menos resolver os assuntos abertos, me desculpe. Mas eu tenho certeza de que podemos tentar reconstruir algo novo, não no mesmo formato de antes mas num que caiba esse novo Gulf que sou e esse novo Mew que você é. Por favor Mew, tente. Seja qual for suas preocupações, podemos resolver juntos. Eu prometo. 

Havia tanta recusa misturado a dor no jeito em que ele me olhava. Beijo sua bochecha e sussurro. -  Não desista de mim. 

Sinto o líquido em meus lábios. - Não desista de nós. 

Beijo mais uma vez quando  sinto seu corpo relaxar diante de mim. Era possível eu dizer que eu tinha o céu em minhas mãos? 

- Por favor! Me dê mais uma chance, se não der certo, se você se sentir desconfortável, eu deixo para lá. Por favor bebê.

Não notei que tremia até as mãos de Mew recobrir as minhas sobre seu rosto. Ele respira a pele de minha mão. A cada segundo sem resposta meu coração afundava mais. Se ele negasse, o que mais eu poderia fazer? Tudo em mim gritava pelo seu apelo, pelos sentimentos que eu sabia que ele tinha por mim. 

Eu quero saber como é ser amado por você Mew. Eu quero sentir o que eu sentia quando estava em seus braços. Me deixe vivenciar isso, me permita ser seu mais uma vez, por favor!

- Você às vezes repetia uma frase, quando tudo der errado, segure o meu coração. - Mew solta uma risada seca. - Eu nunca entendi, até agora. 

- Eu acho que talvez eu soubesse que esse momento chegaria. Então, isso é um sim? - Procuro qualquer resquício de oposição, qualquer lance de duvida, no entanto, tudo o que encontro eram tantos sentimentos entrelaçados que me sinto ofuscado. 

- Vamos tentar. - Seu tom era vacilante, muito vacilante. Mas me apego a seus olhos e tudo o que me diziam. As palavras não eram o suficiente para explicar nós dois, disso eu tinha certeza. 




Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Where stories live. Discover now