Aos extremos

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Quando chego em casa toda minha felicidade, assim como o sorriso estampado na minha face, desmancha. Já esperava que Gloria agisse de modo rabugento, mas ela me surpreendeu.  

Mew me deixou em casa na parte da tarde, acabamos por conhecer mais da localidade da floresta. E eu estava distraído demais com a sensação boa que era andar com Mew de mãos dadas enquanto conhecíamos flores venenosas e víamos diferentes tipos de borboletas. 

E assim que adentro em casa encontro Gloria na sala de estar, concentrada no seu tablet. Provavelmente resolvendo algo de seu trabalho. Ela replica o meu silêncio, me deixando subir sem pedir explicações. Por um momento pensei que ela apenas aceitaria e me deixaria em paz. Claro que pensei demais. 

Algumas horas depois, ela bate na minha porta. Faço meu papel de ir abrir para ela, que nunca antes respeitou o limite e sempre abria antes de eu permitir sua entrada. Assim que a recebo, sua face apresentava-se límpida e calma. 

- Aonde você foi? - Sua pergunta soava inofensiva, mas algo me dizia que não se manteria assim por muito tempo.

- Fui ver o nascer do sol com Mew. - Digo enquanto me afasto da porta, permitindo que entrasse. 

- Claro que foi. Quem mais iria te pedir para sair de madrugada, certo? 

- Na verdade, muita gente poderia me pedir para sair de madrugada mãe, mas calhou de ser o Mew dessa vez. - Sorrio para ela, tentando não me intimidar com os seus olhos de águia. 

- Vocês estão juntos? - Seus olhos me rondam atentos. 

- Como você não sabe? A terapeuta não divide o que eu falo com você? 

Gloria me envolve com um cálido sorriso. 

- Estou vendo que sua personalidade a cada dia se torna, vamos por nesses termos meu filho, cítrica. Cada dia mais o de antes. - Era difícil ler o seu tom, entretanto, não queria admitir que havia sarcasmo nele. 

- Mãe, eu só fui me divertir com Mew, tá? Estamos tentando mais uma vez e eu gostaria que você respeitasse a minha escolha. 

Gloria me olha como se eu fosse um garoto ingênuo. 

- Gulf, você pode fazer o que quiser. Eu não posso evitar que você saia com certas pessoas ou até mesmo se apaixone por outras. Isso é claro como a luz do dia, meu amor. Mas ainda não concordo com o seu relacionamento com esse rapaz. 

- Por que? Qual a razão? Se for por causa do transtorno, isso nunca foi e nunca será culpa dele! E, além do mais, estamos a par disso agora. Se meu quadro voltar a ser o de antes, eu me comprometo a tomar as medicações e fazer o que for possível para não acontecer nada do que rolou antes. Ele está nessa comigo e estamos tentando mãe. Então, por quê? 

Um desejo assola-se em meu coração, um simples pedido de que Gloria pudesse ceder e deixar de ser tão mesquinha com as minhas escolhas. Eu não a julgava uma pessoa ruim, eu sei que ela pensava o melhor para mim, mas doía pensar que mesmo agora, sem motivo nenhum para odiar Mew, ela ainda assim batia na mesma tecla. E ele não merecia esse tratamento. 

- Eu fico feliz que você estrou em termos consigo mesmo. As sessões de terapias e com a psicóloga estão dando resultado. Isso me acalma, meu filho. Mas veja, Mew não deveria ser uma escolha agora. Veja querido, não acho que te levar para sair de madrugada seja uma decisão adequada. Eu sempre quero o melhor para você, contudo, esse rapaz é mais velho que você, já tem toda uma vida feita. Ele provavelmente deve querer formar uma família em breve. Você pode encontrar outra pessoa, alguém da sua idade, com seus gostos e ...

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Where stories live. Discover now