Pílula da (falsa) felicidade

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 Não penso muito sobre a vestimenta, um único olhar no reflexo e parecia adequado. Assim que saio do quarto encontro meu pai, lendo no seu tablet, óculos de grau e cenho franzido.  Quando ele nota a minha presença, seus olhos escaneiam todo o meu corpo.

- Vai sair? - O questionamento tentava soar isento de dúvida. 

- Vou! Para uma festa. 

Seus olhos desviam dos meus por alguns segundos, a hesitação borbulhando nos seus gestos. Ao voltar-se para mim, abaixa o seu tablet, os olhos agora mostravam preocupados. 

- Sair é bom! Muito bom. Pessoas jovens saem muito! - Tanan me envia um sorriso tenso. Parecia debater-se acerca do que diria a seguir, por fim, parece que perde a batalha quando recosta no sofá, expirando. - Cuidado. Não beba do copo de ninguém e não aceite qualquer bebida que não tenha visto a fonte. Me mande mensagem se precisar de algo, ok? 

Imaginava que teria de reclamar minha posição de pessoa maior de idade, mas Tanan facilitou o processo. Isso em deixou mais tranquilo, não queria embates com o meu pai. 

- Pode deixar. Provavelmente volto amanhã, mas vou deixa-lo saber. - Damos o nosso toque de mãos, que ele mesmo inventou, e caminho para porta, sentindo-me leve. 

- Gulf? - Viro-me antes de abrir a porta, os olhos de Tanan atentos em mim. - Mew sabe que você vai sair? Ou melhor, ele vai com você? 

Por algum motivo essa pergunta me irritou. Suspiro para manter o tom da minha voz em equilíbrio. 

- Não, pai. Ele não vai e sim, ele está sabendo. Essa noite é mais dos meus amigos que não são do ciclo dele. Estou indo. 

Sem esperar por sua resposta deixo a casa. 

No meu caminho para chamar o carro me sinto repreendido. Tanan achava que Mew era a droga do meu salvador. Eu tinha uma vida sem Mew Suppasit, assim como ele tinha a sua. Todo o problema desde que acordei, além da minha mãe ser uma maluca homofóbica, Mew estava de alguma forma envolvido. 

Não tinha raiva dele, porém, por vezes, sentia que ninguém colocava crédito em mim. Era como se eu lutasse apenas para existir para Mew. O que não é verdade. E se foi um dia, não é mais. Eu preciso de mim mesmo. Eu necessito me encontrar. Como posso me entregar sem ressalvas para alguém quando não sei delimitar quando termina o eu e começa o próximo? E o entendimento disso estava me deixando mais irritado. 

Eu gostava de estar com ele, senti-lo ao meu lado, ouvi-lo. Era tudo muito encantador quando estávamos juntos porque fazia sentido estar com ele. Sentido demais. No entanto, tinha o meu pai sempre perguntando por Mew e se estávamos bem; Naila que me odiava e mal ficava no mesmo cômodo que eu quando ia na casa deles; até a minha terapeuta queria saber sobre ele. Eu entendo que ela pergunta com fim de adentrar na minha cabeça, mas tudo isso se solidificava quando eu estava sozinho, pensando. 

Pensar se tornou perigoso para mim, porque aumentava a minha raiva. De tudo. 

Mas decidi que hoje eu iria me divertir. Nem que seja por uma maldita noite. Se for hoje o dia em que o Gulf de antes do acidente e como eu sou agora ira finalmente entrar em acordo, que seja. A parte do medo foi superada pela vontade de sentir algo mais do que essa insistente ausência de sentimentos. 

Mew não poderia ser o único meio que me fazia sentir bem comigo mesmo.  

°°°

Luke não gostava nada do que estava vendo. Guia estava completamente bêbada, mas isso já era de se esperar. Sabia que sua amiga era cachaceira nata, contudo, o que o estava preocupando era Gulf. O rapaz aceitou, mesmo sob pedidos negativos de Luke, tomar a pílula de uma das colegas em comum. Luke quase vomitou quando a garota forçou beijar Gulf, quando ele estava visivelmente alterado. 

Quando tudo der errado, segure o meu coração (Reeditando)Where stories live. Discover now