PRÓLOGO

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CÁTIA

Hoje acordei um pouco mais cedo do que o normal. Não me senti muito bem durante a madrugada, mas não quis alarmar o Geovane. Então levantei e passei um café. Peguei a caneca com o líquido fumegante e sentei na poltrona junto a janela, para admirar a vista do que foi o meu reino desde que eu nasci. Penso no meu marido, em nosso casamento apressado, pouco mais de 20 anos atrás. Apressado, mas não errado. Duvido ter havido nessa região uma união mais certa. Penso na nossa vida ordeira e correta. Nossas filhas gêmeas, que chegaram na véspera do nosso aniversário de 5 anos de casamento, e que por 7 anos pensamos que seriam nossas únicas princesas. Mariana e Manuela eram tão centradas e responsáveis quanto o pai. Até que chegou Milena, quando pensamos que não poderíamos mais ter filhos. Ela nos deu um susto ao chegar de 7 meses, quando nem sabíamos da existência dela. E esse não foi o último susto que ela nos pregou. A pequena parece uma catástrofe natural por onde passa, e esse é um dos traços mais adoráveis de sua personalidade. Nossas filhas tem personalidades tão distintas entre si, mesmo as gêmeas. Não consigo segurar um sorriso orgulhoso ao me lembrar de suas conquistas. Ouço o canto do galo em algum lugar da fazenda, exatamente como nos últimos 38 anos. O dia começa com um espetáculo próprio: o nascer do sol sobre essa terra tão abençoadas. Olhando em perspectiva, não foi uma vida ruim. Sinto uma dor aguda no peito e, como a dona de casa organizada que eu sempre fui, coloco a caneca com o resto do café já frio em uma mesinha ao lado, e recosto na poltrona, já sentindo a vida se esvair. Sinto a tristeza de saber que não verei as conquistas futuras daqueles que eu amo, e que os farei passar por momentos difíceis. Mas foi uma bela vida. Sim, muito boa. Antes do fim, rezo para que os céus tenham piedade dos que ficam e mandem uma anjo para acompanhar aqueles a quem dediquei a minha vida. Fecho os olhos e dou um sorriso, pois sei que meus amores são fortes, e vão ficar bem, mesmo sem mim.

Era uma vez: um quase conto de FadasWhere stories live. Discover now