CAPÍTULO 25

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LUCIAN

Acordar e sentir o calor da pessoa amada em um aconchego suave não tem preço. E foi sentindo a respiração compassada de Geovane que eu acordei essa manhã. Poucas vezes na vida fui tão feliz. Sentindo flutuar em uma bruma de felicidade, mas com a carência característica da cafeína pra dar comando de início no meu sistema, resmunguei minha necessidade imediata em uma única palavra, antes de sair correndo do quarto em busca de café.

Ainda bem que hoje, contrariando o meu costume, vesti a calça antes de descer.  Na pressa de conseguir uma xícara fumegante do líquido energético, não prestei atenção aos sons e movimentos na sala, até que eu vi algumas pessoas sentadas no sofá em frente ao último degrau, e meu corpo paralisou completamente.

Enquanto via essas pessoas quase tão constrangidas quanto eu, meu cérebro começou a trabalhar em uma velocidade alarmante, o desespero pintando milhares de cenários perturbadores. Mas com um comando em primeiro plano: preciso avisar Geovane.

E se nada puder ser feito, preciso proteger ele. Não posso permitir que ele passe com os pais por todo o inferno que eu passei com os meus. Caso não reste nenhuma opção, eu assumo toda a responsabilidade. É isso. Devo aproveitar que ele está dormindo lá em cima, e dizer algo que vai evitar a tragédia.

Mas não consigo obrigar meu corpo a me obedecer, então apenas fico estático, em uma paralisia que não me permite realizar nada do que eu pretendia.

Enquanto estou nesse estado catatônico, escuto seu Sebastião chamando a esposa, e logo todos os outros entram na sala também, começando uma espécie de assembleia bizarra.

Senti Geovane me abraçando, tocando minha testa e me chamando com uma voz preocupada, mas só consegui ouvir de longe, como se eu estivesse dentro de um poço, e sua voz chegasse até mim distorcida. Estou ouvindo meus batimentos cardíacos como se fosse um tambor, e escuto o som do meu sangue correndo como se fosse um riacho bem do lado dos meus ouvidos.

Com a sensação de flutuar, me vi sentado em uma superfície macia, e a voz cristalina de Milena me chamando de volta, e só então me dei conta de que estou sentado na poltrona, com mais de uma dezena de pares de olhos me observando.

Mortificado, mas como o homem de atitude que seu Sebastião sempre demonstrou ser, soltou um pigarro e deu início a conversa, com um semblante sério e voz profunda:

- Desde quando?

Geovane pareceu entender, e respondeu a pergunta que eu ainda nem consegui assimilar:

- Já tem um tempo.

- Desde Cátia?

Todos olhando, esperando a resposta.

- Não. Depois. Bem depois. Eu jamais desrespeitaria a pessoa que amo.

Dona Rosália entrou na conversa, com uma voz chorosa:

- Por que não nos contou?

- Ainda não estávamos prontos.

- Por que estavam dormindo juntos?

- Estamos namorando já tem um tempo. Ontem foi aniversário dele.

- Não foi isso que eu te ensinei desde sempre. Quando foi que eu aprovei intimidade antes da aliança?

Seu Sebastião parece muito desapontado com o filho. Na verdade, olhando no rosto da família, todos parecem estar com algum nível de desconforto. E eu, que tive a pretensão de querer defender ele, estou apenas sentado, lutando pra entender a conversa. O pai dele continua:

- Quando pretendia nos contar?

- Logo.

- Nós demos a entender que você precisava esconder um novo relacionamento? Eu sou sua mãe, Geovane. Quero te ver feliz.

Era uma vez: um quase conto de FadasWhere stories live. Discover now