CAPÍTULO 19

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LUCIAN

Depois que Mari e Estela começaram a namorar, agora quase todos os dias Geovane traz as meninas pra passar um tempo aqui, e eu o vejo com frequência. Meu relacionamento com tio Virgílio está cada vez melhor, e agora nós pescamos pelo menos três vezes por semana. Alguns dias atrás ele me convidou pra esperar uma manada de porcos do mato, e quando eu disse que não sei atirar com armas de fogo, ele tomou como missão pessoal me ensinar.

O tempo tem passado de forma tranquila. Já tem dois meses que as meninas estão juntas, e tive que ir com meu irmão e com Mari quando foram pedir pra namorar com as filhas de Oscar e Vilma. Admito que não sei se estava com o papel de pai de uma ou irmão do outro, mas depois de uma looooonga conversa, ficou tudo acertado.

Geovane parece ter tomado alguma distância depois dos beijos tórridos que trocamos no meu quarto, mas está sempre presente em qualquer evento. Seja um toque nas costas das mãos, seja um beijo na bochecha, ou um doce que ele traz quando vem com as meninas. Isso faz parecer que ele está me cortejando, e eu estou gostando muito da sensação. Tenho evitado ir até a fazenda com frequência, com medo dos mixiricos. Mas isso não quer dizer que eu não estou com eles quase todos os dias.

As meninas aproveitaram a reunião de Natal pra assumir pra todos sobre o relacionamento que estão vivendo, e pude perceber que algumas pessoas próximas entortaram o nariz. Mas na formatura de Estela, Mari posou como a mulher incrível que é, e não admitiu nenhuma forma de assédio que foi direcionada pra namorada.

Estamos todos orgulhosos das nossas meninas: a formatura de Estela, as gêmeas passaram no vestibular com louvor: Mari pra direito e Manu pra Pedagogia, e eu admito que quase me parti de orgulho quando ela disse que quis essa profissão por minha causa (ambas conseguiram entrar na faculdade antes dos 17 porque foram adiantadas de séries durante o primário, e pularam um ano). Eu tenho realizado os meus maiores sonhos: tenho uma família pra comemorar Natais, aniversários, viradas de ano, comemorações de domingo e de todos os demais dias.

Infelizmente, tudo que é bom, alguma hora acaba. Marcos e Esther estão planejando se casarem, e meu irmão irá se mudar pra cá. Já começou a trabalhar em um escritório que tem na cidade, e estão procurando uma casa pra comprar. Mas isso trará meus pais ao meu cantinho escondido, e com isso meu pesadelo começa novamente. Luana descobriu que Marcos vai se casar em breve, e começou a ligar com frequência. Só na última semana ela me ligou mais vezes do que o fez nos últimos nove anos de namoro e casamento dos dois.

O casamento foi marcado pra começo de maio, então meus pais aparecerão por aqui muito logo, pra tentar convencer o filho perfeito a voltar pra Capital e deixar a idéia de casar com "uma caipira qualquer". Consigo até escutar as palavras que serão usadas no desfile de ignorância que eles irão apresentar. Por sorte Marcos parece profundamente apaixonado pela noiva, e as chances de ser demovido da idéia parece bem mínima.

Pouco depois do aniversário de Estela, durante o Carnaval Geovane me convidou pra um passeio. Pensei que iríamos todos juntos, mas as meninas deram uma desculpa de última hora e ficaram em casa. Pegamos a estrada, e depois de quase duas horas de viagem, a caminhonete parou perto de uma ponte imensa. Paramos um pouco pra esticar as pernas, e fiquei surpreso quando ele tirou de dentro do carro os objetos necessários pra acampar. Me senti uma ovelha caminhando pro abate. Mas admito que sou uma ovelhinha feliz.

Montamos a barraca, acendemos um fogareiro e esquentamos a janta que estava nas marmitas. Pensei que iríamos voltar no mesmo dia, mas aparentemente Geovane tem outros planos. Depois de comer e conversar um pouco, olhei no relógio e fiquei surpreso ao ver que já passa das 22 horas, e normalmente estou me preparando pra dormir nesse horário. Mas quando me lembrei do espaço diminuto que teremos que dividir, meu sono pareceu ter evaporado. Por fim não foi mais possível adiar, e eu comecei a bocejar, e ele me convidou pra entrar.

Era uma vez: um quase conto de FadasWhere stories live. Discover now