Extra 3

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MANUELA 


 Deitada na maca no centro cirúrgico, escutando o instrumental de Harry Potter, minha mente me leva a um passado não tão distante. E enquanto eu devaneio, ouço o barulho irritante dos bips e dos médicos que me rodeiam. Jamais vou perdoar Davi por me fazer passar por isso sozinha. Me lembro com carinho dos meus pais, que me apoiaram independente de quão louca era a minha decisão e que estão esperando por mim na sala ao lado. Da minha gêmea e da minha cunhada, minhas irmãs que compraram a briga de frente, e não fraquejaram nem mesmo quando foram ameaçadas. Dei um sorriso meio amargo ao lembrar da minha doce Mariana com um dos sapatos de salto alto  da Estela apontando na cara do pastor, com a promessa de afundar o nariz dele pra dentro da cara. 


 Tentando me desligar do barulho a minha volta, levei meus pensamentos ao dia em que tudo começou.


***


 Os meus olhos rasos d'agua foram indícios suficientes pra que minha amiga percebesse o resultado do teste. 


 - Manu, deu positivo, não eu? 


 Acenei positivamente com a cabeça, mostrando os dois risquinhos que apareciam em todos os cinco testes de farmácia que Priscilla havia comprado para que eu fizesse na faculdade, pra que não fosse preciso alardear a minha família sem necessidade. Mas agora seria necessário. Imaginei a comoção que a notícia traria. Eu tenho dezessete anos e vou ser mãe. 


 Priscilla prendeu os longos cachos pretos pra trás e pediu licença pra ir socar Davi, mas eu sabia que nada de bom haveria de vir disso, então a chamei de volta. 


 - Você sabe que ele não tem culpa. Foram os pais dele que pediram pra ele terminar. Cilla, não sei o que fazer.


 - E ele tem o que? Doze anos? É o pai dele que controla a vida dele? Manu, ele tem vinte e três anos. Ele vai se formar esse semestre, e só porque ficou devendo matéria. Ele já deveria ser um profissional. 


 - Eu sei disso. Mas agora voou ter que falar com ele, né? Isso com certeza muda as coisas. 


 - Acho que primeiro você deveria falar com a sua família. Qualquer fardo fica mais leve quando a gente compartilha. 


 - Você tem razão. Me dá cobertura? Vou pra casa mais cedo hoje. 


 - Claro. Sabe que se precisar, estarei disponível, certo? 


 - Sei sim. Obrigado.


 Cheguei em casa estava quase escurecendo. Admito que covardemente passei a tarde inteira andando a esmo, até quase acabar com o combustível. Quando cheguei, meus pais estavam na sala com algumas outras pessoas, entre elas a minha cunhada. Pelo que percebi, discutiam planos para o casamento, e eu me senti mal por jogar uma bomba que acabaria com a paz da reunião. Pedi pra que Lena fosse guardar minha mochila e que podia brincar com meu celular no meu quarto, enquanto eu conversava com os outros. Todos perceberam que a notícia era séria, seus olhares mudando de leveza pra tensão. Sem saber exatamente como começar, achei melhor soltar a bomba de uma vez: 

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⏰ Last updated: Feb 22, 2023 ⏰

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Era uma vez: um quase conto de FadasWhere stories live. Discover now