CAPÍTULO 26

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GEOVANE

 Sentados à mesa para a ceia, olhei em volta para cada rosto conhecido e precioso pra mim. Meus pais, com seus muitos anos de vida, meus irmãos e seus amores, suas famílias. E o meu pequeno núcleo, composto por minhas filhas e meu namorado. A sintonia entre eles foi algo tão natural, que ainda me sinto meio tonto. Depois de um dia de ansiedade e beirando ao desespero, Lucian e as meninas se prepararam pra passar o Natal com os meus pais. É de certa forma até engraçado com as meninas tomaram como delas a responsabilidade de ingressar Lucian em cada aspecto da nossa vida (não estou reclamando disso), incluindo a aceitação dele como parte da nossa família. 


 Enquanto a conversa flui em direções caóticas, deslizei a minha mão por debaixo da mesa e toquei a mão morena, que agora estava quente e seca, ao contrário de como passou durante todo o dia. Lucian estava tão apavorado que nem conseguiu fazer as tranças nos cabelos das meninas antes de virmos, suas mãos tremendo e suando sem parar mesmo que disséssemos que estava tudo bem. A rejeição dos próprios pais causou um dano tão intenso nele, que vamos ter que nos dedicar bastante para amenizar. 


 Pouco depois de começarmos a comer, Virgílio chegou com um semblante meio emburrado. Quando questionado sobre isso, não negou seu desgosto: 


 - Todos sabem que esse namoro deixou de ser inocente já tem um tempo, mas ainda não vi e nem ouvi falar sobre nenhuma aliança. Estão pensando em viver em pecado até quando? 


 Questionados assim, vi Lucian ficar tenso ao meu lado, enquanto meu pai concordava com meu sogro com certa veemência. Enquanto todos comiam, vi como se estivesse vendo de fora os meus pais e o meu sogro decidirem sobre o melhor dia pra celebrarem a união, que seria realizada na fazenda mesmo, com a bênção do padre local. 


 Pensei que o corpo estático do homem ao meu lado fosse um indicativo de que ele estava se sentindo desconfortável com a situação, mas quando olhei para seu rosto com a intenção de o tranquilizar antes de tentar mudar de assunto, percebi que estava com um sorriso e os olhos brilhando emocionado. Senti meu coração errar uma batida e me emocionei com a sua emoção. Ele estava feliz! E isso vale o mundo pra mim. Nessa hora eu decidi ir até uma loja na primeira hora comercial assim que sair daqui, e vou providenciar alianças dignas de um rei. 


 Quando nos empanturramos até o limite, fomos pra sala seguir a uma tradição familiar que existe desde antes de eu nascer: Cada um conta as graças que recebeu durante o ano, e trocamos o presente de amigo secreto. Como nós não estávamos presentes durante o sorteio, fizemos o nosso próprio em casa, mesmo que agora a revelação fosse ser aqui. Começamos sempre pelo mais velho, então meu sogro começou: 


 - Entre todas as graças que eu tive esse ano, minha vaca premiada Pérola teve bezerrinhos gêmeos e os três estão bem. As minhas netas e meu genro gozam de boa saúde, e a vida me deu de presente mais um familiar, que tem sido como um filho pra mim. 


 Lucian lhe deu um abraço carinhoso, e o trouxe pra sentar perto de nós no banco comprido. 


 Minha mãe deu as graças também, e logo meu pai que surpreendendo a todos, disse depois que pensamos que já tinha encerrado: 


 - E eu quero agradecer também pela oportunidade de encarar o diferente, de me adaptar ao novo. Sou grato pela chegada de Lucian na família, que trouxe com ele o cuidado e o carinho que precisava pra ajudar a amenizar as dores que a perda de Cátia causou. E aproveito aqui pra dizer, caso não tenha ficado claro suficiente: Bem vindo, filho. 

Era uma vez: um quase conto de FadasWhere stories live. Discover now