CAPÍTULO 18

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GEOVANE

Sei que não vem coisa boa por aí. Mari está aparentando uma tristeza típica de coração partido já tem quase uma semana, mas surpreendendo a todos hoje ela pediu pra ir até a casa de dona Zuleica trocar livros, e voltou com um sorriso imenso. Pra me apavorar ainda mais, ela me disse com uma cara satisfeita e olhos brilhantes:

- Papai, hoje vai vir uma pessoa muito especial pra falar com o senhor. Seja gentil, tá bom?

- Espera aí. Como assim? Quem vai vir? Mariana você não me fala isso e sai andando. Volta aqui menina. Conversa isso direito.

- Mais tarde.

Eu conheço essa criança marrenta. Se ela diz que o assunto acabou, ninguém consegue arrancar mais nenhuma palavra da boca dela. Estou me preparando pra olhar pra cara de algum moleque que eu provavelmente vi crescer, e vou ter que ver ele dizer que quer namorar a minha filhinha. Já estou treinando uma cara de: "termine de dizer o que você quer dizer pra eu poder te matar logo". Não quero deixar nenhum moleque tarado colocar as mãos no meu bebê. Sempre pensei que Manu me faria passar por isso primeiro, então o baque foi ainda maior do que eu já esperava.

Enquanto ando de um lado pro outro, seguindo o comprimento da horta, eu continuo resmungando comigo mesmo:

- Mari é responsável, então tenho certeza de que ela vai se cuidar. Ah meu deus, eu ainda não tive a conversa sobre preservativos com nenhuma delas. Será que Cátia já teve essa conversa? Não, elas tinham só 15 anos quando Cátia morreu. Será que o doutor Túlio poderia falar com elas sobre isso? Não, seria muito constrangedor, porque eu ainda teria que estar junto. E eu não quero pensar em nenhuma delas usando um preservativo. Mas se não usar, o problema pode ser ainda maior. Já sei!

Peguei o celular e disquei o número do Lucian com dedos frenéticos, mas ele deve ter esquecido de carregar o celular de novo, porque vai direto pra caixa postal. Pra garantir mandei uma mensagem perguntando se ele poderia vir jantar aqui. Qualquer moleque ficaria intimidado com a visão de dois homens ameaçadores. Talvez eu consiga mais um tempo. Se eu tiver sorte, uns dois ou três meses antes do próximo aparecer. Tenho certeza que Lucian vai me ajudar com isso. Ele é tão protetor com minhas filhas quanto eu. Continuei máquinando até começar a escurecer, mas fui obrigado a entrar e me preparar pra batalha.

Pelo menos ele respondeu com um curto "Eu levo pizza". Então eu terei companhia pro combate dessa noite. Isso já me deixa mais aliviado. Não é que eu não vá deixar elas namorarem. Só não quero pensar que algum desajuizado vai aproveitar que elas não tem a mãe pra orientar, e vão fazer elas sofrerem. Estou me sentindo mal só de pensar. Acho que minha pressão subiu. Tentei convencer ela a cancelar esse encontro pra eu ir pro hospital, mas ela foi curta e grossa como sempre:

- Fica quieto que o senhor não é mais criança. Então se comporta como o adulto que é.

Admito que fiquei envergonhado, e quando Lucian chegou com a pizza, fiquei mais aliviado. Estela entrou atrás dele, e eu fiquei ainda mais seguro.

- Estela soube que eu tava vindo pra cá e me pediu uma carona.

Olhei pra garota com gratidão. Ela provavelmente nem sabe, mas uma batalha vai se formar na sala daqui a pouco. Estava sorrindo até Mari pegar na mão dela, e a moça ficou um tanto assustada e derramou as palavras que me rodaram de ponta cabeça:

- Seu Geovane, eu vim pedir pro senhor deixar eu namorar com a sua filha.

Esquece tudo que eu disse até agora. Como é que eu posso olhar com uma cara desagradável pra uma jovem tão adorável? Eu vi Estela crescer. Ela e a irmã são filhas dos meus amigos. Joguei futebol com o pai delas quando a gente era moleque. Continuei olhando embasbacado o rosto ruborizado da menina bonita. Eu lembro que ela tem 23 anos, porque no começo do ano a gente foi no aniversário dela, pouco depois do carnaval. Ela já trabalha em pequenos casos, e já passou na OAB. A formatura será daqui menos de um mês. Sei disso porque os orgulhosos pais dela me mandaram o convite. Enquanto eu continuo pensando nisso sem parar, ela começou a falar ansiosamente.

Era uma vez: um quase conto de FadasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon