capítulo 2

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Capítulo 2

Júlia Martin.

Vinicius mudou sua expressão tranquila de quem estava no controle para uma bem brava e por um momento pensei que ele fosse agarrar meu pescoço. Ele podia tentar, mas em outras circunstância e com bem menos roupas entre nós. Que porra é essa, Júlia? Ele é gay e no momento é seu inimigo número 1.

—Temos um contrato senhorita Martin. — Sua voz e seu tom eram de quem tinha tudo sobre controle, porém seu maxilar travado o olhar ameaçador e desfocado, como se não soubesse o que fazer, diziam outra coisa.

—Que foi rompido por vocês — Eu disse me justificando e gostei um pouco da sensação de ver suas veias saltarem de irritação.

—Foi paga uma multa por tal ato, mas o contrato não foi rompido —Ele rebateu confiante— Sabe, você pode pagar essa multa e adiar esse casamento mais uma vez, —Ele se aproximou de mim e colocou um braço na minha cintura me prendendo— vai ter que morar em baixo da ponte, você e toda sua família —Ele sussurrou no meu ouvido e me soltou rápido. Acho até que minha pressão baixou— Você não tem escolhas, Júlia

—Eu te odeio — Nunca tive tanta raiva de um gay como agora. Peço perdão a toda comunidade, mas faltava muito pouco para que eu desejasse matá-lo.

—Venha querida, vamos encontrar meus sogros e contar a eles essa linda notícia —Ele pegou minha mão e me arrastou para dentro de casa.

—Todo mundo sabe que você é gay, não sei porque esse casamento —Eu disse enquanto passávamos no corredor que antecedia a sala de jantar.

—É isso que você acha? — Eu não respondi e ele me soltou caminhando na frente com uma raiva evidentemente. Para ser sincera, ele era lindo e no fundo torcia para que fosse apenas um boato. Não por mim, claro que não, mas tinha a questão da solidariedade e nós mulheres héteros estamos sofrendo a escassez de homem gostoso.— Senhor e senhora Martin — Chamou a atenção de todos— Júlia e eu temos uma notícia —Ele disse e passou os braços sobre meus ombros— Conte a eles, querida.

—Conte você — Eu disse passando a mão por sua cintura e beliscando bem forte.

—Tudo bem. Bom, Júlia e eu conversamos e decidimos nos casar. Temos algumas coisas em comum que podem sim nos ajudar a melhorar de fato nossa convivência. Acho até que o casamento possa de fato dar certo —Ele disse sorrindo e eu o encarei incrédula.

—Que linda notícia, não sabe o quanto eu fico feliz —Disse a mãe de Vinicius levantando da mesa e caminhando até nós— Tenha paciência e tudo vai se acertar, você vai ver. —Ela sussurrou em meu ouvido e logo o abraçou também.

E mais uma vez eu não tive o controle da minha própria vida.


Vinicius Mospiert
Eu não estava concordando com esse casamento, eu não queria me casar e principalmente com uma desconhecida.

Eu acabei de ser promovido a presidente da grande empresa de construção da minha família, além de um renomado no setor de advocacia incluso no pacote. E com os boatos maldosos que estavam espalhando sobre minha sexualidade, eu precisava fazer algo a respeito, o que é ridículo. Eu não deveria ter que me explicar sobre algo assim. O meu pai disse que seria um escândalo um presidente com meu sobrenome e o peso de ser da família Mospiert, gay. Não sou gay e sou bem resolvido da minha sexualidade.

Esses boatos começaram quando eu fui deixado no altar por Débora, minha ex noiva. Eu não fui mais visto com mulheres e nem se ouvia conversas sobre minhas transas, eu não queria me expor e nem correr o risco de me apaixonar de novo. Era isso tão errado, porra. A problematização da sexualidade era uma causa mais importante, de fato, mas qual o problema de preferir a discrição?

Papai me informou sobre esse tal contrato que eu nem fazia ideia. Então pelo bem da minha carreira profissional e da minha vida social, eu aceitei e aqui estou, no carro esperando Júlia para leva-la para jantar e ver se algum fotógrafo nos via e espalhava esses rumores de um possível romance entre eu e uma MULHER. Isso era importantíssimo. Que merda de sociedade era essa?

—Por um breve momento achei que você tivesse desistido —Disse pela demora e pela forma raivosa como ela entrou no carro.

—Eu teria, se não tivesse dado minha palavra —Isso de fato me deixou mais tranquilo, mas ainda sim preocupado. Júlia era de uma família apresentável e dentro da alta sociedade, se fossemos vistos e não houvesse um compromisso, eu seria difamado de cafajeste. Resumindo: Eu estava fodido.

Dirigi até um dos meus restaurantes preferidos e estacionei na vaga que já era praticamente minha. Abri a porta do carro e Júlia saiu arrumando o vestido e pegando na minha mão entrelaçando nossos dedos. Estranha, ela está estranha.

—Eu não estou nenhum pouco confortável Mospiert, mas se vamos fazer isso, vamos fazer direito — Não disse nada. Achava ela tão articulada que demorava até a elaborar pensamentos para discutir com ela.

—Uma mesa para dois, senhorita — Disse para recepcionista que me olhou sorrindo.

—O senhor tem reserva? —Perguntou.

—Sim, Vinicius Mospiert —Ela encarou a mulher ao meu lado não deixando esconder sua surpresa.

—Lugar com pouca iluminação e mais reservado?

—Não. Marquei uma mesa iluminada no centro do lugar, pensei que tivesse deixado isso em evidência. — Confuso, encarei Júlia que em um gesto sútil desaprovou minha atitude

—É claro, me desculpe —A morena ao meu lado sorriu e a recepcionista pareceu relaxar— Me acompanhem, por favor —E assim eu e Júlia fizemos.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now