capítulo 11

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Vinícius Mospiert

Vinicius Mospiert

Algumas pendências da empresa não podiam esperar para o dia seguinte para serem resolvidas, por isso mesmo doente e cansado, eu precisei ir até o escritório despachar alguns contratos. Meus planos eram conseguir entre um intervalo e outro da viagem, conseguir trabalhar, o que obviamente falhou.

Batidas ressoaram por todo o ambiente eu permiti a entrada, a princípio pensei ser Júlia, deixei-a dormindo no quarto. Ela deveria estar até mais cansada que eu, pois a cada crise de febre, era ela quem fazia compressas de água fria na minha cabeça. Mas não era minha esposa e sim Amanda, não entendi sua presença não solicitada em meu escritório.

— Sim? — Indaguei confuso.

— Sei que teve motivos para não aproveitar sua lua de mel e sei também o quanto a falta de sexo te deixa mal humorado — Quanto mais ela se aproximava, mais meu corpo enrijecia. — Vim te fazer relaxar — E simples assim ela desfez o laço do uniforme, que caiu aos seus pés. No primeiro momento a surpresa foi tamanha que eu fiquei sem reação, mas depois a sensação de nojo veio tão forte que eu fui incapaz de encará-la.

— Amanda, pegue sua roupa e saia daqui antes que eu perca a paciência — Tentei soar calmo — Aproveite e pegue suas coisas e suma dessa casa.

— Eu preciso do emprego, eu... minha vó — Ela começou a hiperventilar e eu continuei sem olhá-la — Já estou vestida — Disse.

— O que pensa que está fazendo? Me respeite, respeite Júlia e se respeite. — Me obriguei a manter distância ou eu tiraria ela daqui arrastada. — Queria ajuda-la, mas não posso agir como se isso não tivesse acontecido ou evitar desconfiar da possibilidade de acontecer de novo, não confio em você e quero que saia da minha casa — Concluí.

— Não, Vinicius, eu prometo que não verá nem minha sombra aqui, mas não me demita. — Ela implorou e eu fiz sinal para que saísse, precisava pensar e conversar com Júlia.

Subi para o quarto depois de umas doses de uísque, mas ela já estava ou ainda estava dormindo, não sei. Deitei ao seu lado com cuidado para não fazer barulho e acordá-la, deixando o assunto para amanhã, mas ela não estava na cama quando eu acordei.

—Onde está minha esposa? — Rose me olhou séria e depois de entrar no closet e sair com algo nas mãos me respondeu.

—A senhora Mospiert — Disse sem me olhar—, está tomando café para ir trabalhar — Me encarou brevemente— Licença — Saiu do quarto e eu estranhei suas falas, ela nunca tinha sido tão formal.

Me arrumei para o trabalho e em alguns minutos eu estava saindo -sozinho- para o trabalho. Júlia estava estranha desde nossa volta de Madri e eu não sabia como questiona-la, tentar concertar alguma coisa se fosse necessário. Mas como eu faria isso se ela não falava comigo.

Cheguei na empresa e durante as primeiras horas mal tive tempo de respirar com tantos assuntos atrasados, depois eu comecei a sentir dor de cabeça e parei um pouco encarando meu celular sem nenhuma mensagem da minha esposa. Liguei para Susan e pedi que ela chamasse Júlia para uma "reunião" na minha sala, nem no horário de almoço.

— Do que se trata essa reunião? — Olhou ao redor como se decidisse se valia a pena sentar ou não.

—Não tem reunião alguma, eu só queria falar com você —Ela tinha acabado de sentar, mas levantou tão rápido que tive medo que se desequilibrasse. Levantei também acompanhando seus movimentos, mas ela foi mais rápida e saiu sem dizer mais nada.

—Vou embora Mospiert, não quero conversar com você.

Que porra estava acontecendo? Me questionei e repassei todos nossos diálogos desde de Madri, mas nada explicava o seu comportamento e eu estava enlouquecendo.

Júlia Mospiert

— Vinicius não se sentiu bem e voltamos de Madri. Acho que só foi a mudança de clima, agora ele já se sente melhor. —Foi o que eu conversei com Susan pela manhã, já que ela estava surpresa de me ver tão cedo na entrada da empresa e sozinha.

Minha sala estava do mesmo jeito que eu deixei e até os papéis estavam na mesma ordem. Dei continuidade a análise dos processos e na hora do almoço, antes que eu pudesse sair, o telefone da minha mesa toca.

—O senhor Mospiert, pediu para que viesse até a sala dele, se trata de uma reunião. — Susan telefonou para minha sala.

— Diga a ele — Pensei em manda-lo ao inferno, mas eu preferi não dizer nada. Reunião era algo profissional e era essa minha única relação com ele. — Estarei aí em alguns minutos.

Depois do meu desagradável encontro com meu marido e chefe, cheguei em minha sala me segurando para não voltar lá e manda-lo para a puta que pariu, mandar que ele fosse transar com a amante em um motel. Puta, eu desisti até de sair para almoçar, pedi para trazerem até minha sala e me mantive ocupada o resto do dia.

[...]

Durante dois dias, minha relação com Vinicius ia de mal a pior. Se antes nos falávamos pouco, agora então o diálogo cessou. Mesmo assim, continuávamos indo para empresa juntos e dormindo juntos. Eu começava pensar que ele realmente era muito bom ator, porque me olhava tão perdido que eu poderia acreditar que ele não sabe mesmo o que fez.

Eu continuava com a mesma opinião sobre Vinicius, ele não era uma pessoa ruim, não era incompetente e me tratava bem, se esquecermos o episódio da "traição". Tudo bem se ele não quisesse um casamento convencional, mas porque me deu a esperança de um possível entre nós? Não entendia.

Cansada de ficar tanto tempo no mesmo ambiente que ele por tanto tempo em silêncio, eu pensei que poderia enlouquecer. Fiquei tão desesperada para conversar com outra pessoa que saí mais cedo da empresa e fui até a casa dos meus pais, os mesmos que me colocaram nessa situação.

—Mamãe — Falei abrindo a porta e entrando, as coisas continuavam da mesma forma que quando eu saí.

—Júlia, querida — Ela apareceu vindo da cozinha e sorriu— O que houve, por quê está aqui? — Me abraçou e beijou meu rosto— Venha sente.

— Vim pegar umas coisas que esqueci e estou precisando — Expliquei pois é claro que ela não poderia somente ficar feliz em me ver. — Como estão as coisas? — Perguntei cruzando as pernas e a encarando, já na defensiva, era sempre assim.

— Tudo está em seu devido lugar, mas sempre podemos melhorar não é? — Me olhou de uma forma enigmática e logo mudou de assunto.

Jantei sozinha com mamãe, pois meu pai estava em uma viagem de negócios. Aproveitei para ir no meu antigo quarto e pegar algumas coisas, como por exemplo camisolas decentes, todas as que eu tinha em casa haviam sido compradas para lua de mel.

Duas horas depois eu estava pegando um táxi e voltando para casa, realmente não me dei conta de que tinha demorada tanto tempo assim. Estava tão distraída com as coisas que não vi meu celular tocando e já no caminho, quando liguei o aparelho, encontrei cinco chamadas perdidas de Vinicius e algumas mensagens perguntando onde eu estava. Estava chegando em casa e decidi perguntar o que era quando chegasse.

— Júlia, que bom que chegou — Fui interceptada por Rose assim que entrei em casa, eu segurava umas sacolas com as coisas que trouxe e coloquei-as no chão. — Vinicius te ligou, você não atendeu e ele, bom... — Ela ficou em silêncio, mas todo seu semblante era preocupado.

— O que aconteceu — Perguntei ficando nervosa — Onde ele está? — Merda, porque estava tão preocupada?

— Acho que ele possa ter tido uma crise de pânico, eu não entendo muito bem disso, minha filha — Ela passou a mão nos cabelos. — Ele começou a beber e beber e queria sair para procurá-la, eu impedi e ele voltou para o escritório. Mas ainda bem que você chegou, não sei se conseguiria segura-lo por muito mais tempo.

— Eu vou até lá. — Tranquilizei-a — Rose, fique para dormir essa noite, acho melhor. — Ela assentiu— Amanhã peça que Ruan a leve para casa, você pode tirar o dia de folga. — Amanhã era sexta e mesmo não precisando, ela costumava vir para cozinhar, Vinicius já havia me informado.

Sem me importar com as bolsas, caminhei com calma até o escritório, temendo o que fosse encontrar lá. Então pela segunda vez na noite, eu me coloquei em defensiva.

—Me deixe te ajudar — Escutei a voz alterada de Amanda, enquanto Vinicius caminhava pelo ambiente de um lado para outro em passos vacilantes.

—Já mandei você sair daqui — Disse com a voz embargada e virou o copo que segurava, deixando vazio. Ela se aproximou dele e ele se afastou de forma brusca, o que resultou em um tombo.

— Vinicius — Falei e ele me olhou de imediato, parecendo não acreditar no que estava vendo. — Saia daqui, Amanda. Agora — Adentrei o ambiente e ela saiu depressa.

—Onde estava? — Ele perguntou ainda tentando levantar, mas sem forças, permaneceu no chão. — Quero saber onde você estava, Júlia.

— Você precisa tomar banho — Com cuidado, levantei ele do chão e deixei que sentasse no sofá. Já imaginando como levaria um homem daquele tamanho para o quarto. — Por que bebeu tanto, Vinicius e ainda queria sair de carro assim, não pensou na total irresponsabilidade? — Não pude evitar brigar com ele.

— Estava com outro, não é? — Disse com os olhos tão cheios de água, que poderiam transbordar a qualquer momento— Ia me deixar como todas fazem — Não foi uma pergunta, ele falou como se tivesse certeza do que dizia. — O que tem em mim que é tão desprezível, me fala Júlia.

— Você não é desprezível e eu não estava com outro homem — Sentei ao seu lado limpando as primeiras lágrimas que caíram no seu rosto. — Sinto muito não ter avisado, pensei que não fosse se importar.

— Eu me importo com tudo que diz respeito a você — Sussurrou se aproximando de mim.

— Não, Vinicius. — Me afastei — Eu não posso. Vamos manter o casamento como um contrato, assim como tem que ser. — Lutando contra os desejos do meu corpo, fiquei de pé e estendi a mão para que ele segurasse. — Conversaremos melhor amanhã, essa situação já foi longe demais.

— A gente estava tão bem, o que aconteceu que te levou para longe? — Ele levantou com minha ajuda, mas mesmo sendo grande e estando muito perto de mim, ele respeitou meu espaço pessoal.

—Eu vi vocês dois no escritório, ela estava nua. Olha, Vinicius, tudo bem que você fique com outras pessoas — Parecendo estar sendo esmagada por uma pressão em meu peito, eu explodi. — Quer saber tudo bem nada, porque caralho você não me disse antes? Tudo bem você não querer ficar comigo, mas não está tudo bem me enganar sobre isso. Foi muito escroto.

— Não aconteceu nada, linda. Eu a expulsei daqui e estava disposto a te contar, mas você fugia de mim como o diabo foge da cruz. Ela apareceu nua e eu disse que se desse ao respeito, eu não vi os movimentos para tirar a roupa, quando me dei conta... Mas eu pedi que ela saísse, Júlia e você já estava dormindo quando entrei no quarto. Depois ficou impossível falar com você e eu estava tão preocupado com o que poderia ter acontecido que em momento algum pensei que fosse isso — Ele me abraçou apertado e eu quis muito manda-lo para longe, porém não consegui. — Eu quero você, quero tentar com você. Acredita em mim, me dá uma chance. — Sua súplica foi abafada pela pele do meu pescoço, ainda sim, ficou bem audível.

— Então me deixe entrar, me deixe te mostrar que se você cuidar de mim eu nunca vou te deixar — Finalmente cedi seu abraço.

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