capítulo 30

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Vinicius Mospiert

Quando entramos em casa Rose conversava na cozinha com Adam, ambos estranharam nossa presença, mas não questionaram. Seguimos de mãos dadas para o quarto e quanto mais nos aproximávamos, mais minha mulher parecia tensa.

—Já disse que não precisamos conversar agora —Esclareci quando entramos juntos.

—Eu quero isso —Assenti e ela seguiu para o closet, voltando minutos depois com uma roupa bem mais leve do que a que ela usava anteriormente.

Eu entrei no banheiro e tirei toda a roupa para tomar um bom banho e me preparar para a conversa que, eu tenho toda certeza que não será fácil. Deixei o banheiro somente com um toalha enrolada em minha cintura.

Observei pelo canto do olho ela deitada em seu lado da cama enquanto via algo em seu celular. Vesti apenas um short que as vezes usava para dormir e voltei para o quarto. Ela sentou-se apoiando as costas na cabeceira e bateu ao seu lado para que eu sentasse.

—Quando eu tinha 7 anos, meus pais viajaram para Itália para resolver "assuntos de negócios" —Fez aspas e manteu seus olhos presos ao meu— Eu fiquei mal, pensei que eles estivessem fugindo de mim, isso afetou meu sistema imunológico e eu tive febre durante os 5 dias que eles passaram fora e em nenhum desses eles ligaram para perguntar por mim —Ela esfregou o nariz e encarou o colchão— Meus pais não me amaram antes e não me amam agora, não se importaram antes e não se importam agora. Quando completei 18 anos, eu pude finalmente sair de casa e fazer faculdade, mas não consegui fazer o que eu queria.

—Não queria ser advogada? -questionei.

—Não —Sorriu— Eu sempre quis ser advogada —Eu franzi o cenho e ela continuou— Meu pai me fez estudar 3 anos de administração para que ele ganhasse um tipo de aposta, já que perdeu uma quando apostou que seu primeiro filho seria homem. Então ele olhou pra mim e apontou o dedo na minha cara me dizendo: Você me deve isso, é a forma de pagar por ser um erro —Suspirou cansada deixando mais algumas lágrimas escaparem— Como meu erro? Como eu poderia controlar algo assim, não tem sentido.

—Esse desgraçado é louco, como ele te culpa por algo assim? —Segurei suas mãos e levei até meus lábios- Você não é um erro, querida.

—Eu não terminei o curso, tranquei e decidi me formar em direito, não me importei com as ameaças dele. E mesmo assim, depois de pensar que eu tomei as rédeas da minha vida, ele apareceu com essa ideia de casamento.

—Sinto muito —Lamentei.

—Não sinta, você foi a única coisa que valeu a pena. Eu te amo e estou com medo de que ele faça alguma coisa com você.

—Ele não vai —Prometi— Eu vou nos proteger.

—Vinicius, me prometa que não vai colocar mais dinheiro em minha conta, eu não gosto de ser associada a isso mais uma vez. Sei que você não me ver assim, mas isso não me deixa confortável.

—Minha intenção era te deixar bem, não o contrário —Assegurei— Prometo não fazer mais isso sem conversar com você antes.

—Obrigada, por tudo.

Deitei puxando ela para cima de mim e afaguei seus cabelos enquanto ela beijava meu ombro. Sua respiração se acalmou e ela dormiu, logo eu fiz o mesmo. Merecíamos esse descanso, pelo menos por agora.

Júlia Mospiert

Dormimos toda a tarde e acabamos não almoçando, tudo me deixou cansada, contar toda essa história. Quando acordei deitada nos braços dele, percebi que estando com ele ao meu lado, eu conseguiria passar por cima de qualquer problema.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now