capítulo 3

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Capítulo 3

Júlia Martin

Eu teria que carregar essa farsa nas costas sozinha? Qual é, o cara parecia nem ao menos se esforçar e olha que o dele também estava na reta.

—Com sorte alguém nos ver —Minha intenção era deixar aquilo mais leve. A tensão era tanta que chegava a ser palpável.

—Sim — Foi a única coisa que ele disse, não se deu ao trabalho nem de olhar para mim, ou acrescentar mais alguma coisa. Seus olhos estavam cravados na merda do cardápio.

Uma de suas mãos estava sobre a mesa e eu sem hesitar coloquei a minha sobre a dele e acariciei, ele me olhou quase que na mesma hora e estava pronto para tirar sua mão dali, mas eu segurei. Ele estava tão tenso que gotas de suor começavam a brotar em sua testa, mas sua expressão continuava neutra e séria. Como se nada o abalasse.

—Calma, eu não vou te morder, homem —Resmunguei — Está parecendo que estamos em um jantar de negócios e isso não atraí atenção. Que tipo de casal gosta de ficar na frente de todo mundo? — Debochei da sua ridícula escolha de lugar, acho até que me segurei tempo demais. Tive vontade de fazer isso na frente da recepcionista.

—É para que possam nos ver — Se defendeu.

—Vão nos ver comer, por que é somente isso que vamos fazer. Acha mesmo que alguém está interessado nisso? — Continuei segurando sua mão— É melhor despertar a curiosidade, iríamos fazer isso em um lugar com menos luz.

—Quer que troquemos de mesa? —Ele soltou o cardápio visivelmente irritado e ainda mais tenso. Céus, que homem travado.

—Agora não adianta mais — Soltei a mão dele e me ajustei na cadeira observado o que ele via agora a pouco.

—Você parece entender muito bem de encontros. — Sussurrou passando a mão nos cabelos como se estivessem desarrumados, mas os fios estavam tão ou mais alinhados que os meus e eu caprichei na produção.

—Me permiti ter alguns durante minha vida — Tentei sorrir— Mas vou passar tanto tempo sem isso que vou acabar esquecendo e ficando assim como você —Minha intenção não era ofende-lo e graças a Deus ele entendeu.

—Eu sinto muito ter que ser assim — Eu pude ver sinceridade no seu olhar e aquilo me fez perceber que talvez, só talvez, ele não fosse tão ruim quanto diz.

—Não se preocupe, só preciso de um tempo para assimilar tudo isso. O tempo pode ser a solução para muitas coisas

—Ou o maior dos problemas — Direto e doloroso. Uau

—Você ainda a ama. Estou certa? — Não pude evitar, a curiosidade falou mais alto. Não sei se a antiga noiva ou outro alguém do seu passado, mas ele tinha sido ferido. Seus olhos as vezes desfocavam e era nítido que ele se perdia em pensamentos. Sua mente vagava para lugares distantes.

—De quem você está falando? — Me olhou confuso e eu quase hesitei em tocar nesse assunto, mas eu queria uma resposta. Mais uma vez, eu precisava entender onde estava pisando.

—Da sua noiva, estou falando dela.

—Não permito que você a menciona-la. Me ouviu? — Segurou meu braço mostrando toda sua raiva. Encarei seus olhos que estavam escuros de... remorso? Não sei, não tenho coragem de perguntar. Então é melhor me calar.

O garçom veio pegar nosso pedidos e foi a última vez que ouvi a voz dele durante o jantar. O clima pesou todo o tempo e nada mais foi dito, tínhamos voltado ao jantar de negócios.
Vinicius pagou a conta e me guiou para fora ainda em silêncio com a mão pousada em minha cintura.

Antes que eu pudesse abrir a porta do carro, ele me agarrou pela cintura e me jogou contra a lataria do mesmo me prendendo entre seu carro e seu corpo, ambos muito lindos.

Me beijou, tomou meu lábios com paixão e nossas línguas trabalharam perfeitamente deixando aquele beijo excitante. Finalmente depois de processar o que estava acontecendo, eu me permiti levar os braços até seu pescoço, mas não conclui a ação por quê ele parou de me beijar e levou os lábios até meu pescoço.

—Era só um fotógrafo na esquina — Sussurrou no meu ouvido destruindo o sorriso que nem me dei conta que estava no rosto.

Eu estava começando a perceber que não era tão forte como pensava.

Ele me deu as costas e entrou no carro, entrei logo em seguida e seguimos em silêncio, mas dessa vez era bom mesmo que ele não falasse comigo.

2 semana depois.

Não vi Vinicius nesse tempo, mas consegui um emprego na empresa em que ele ia administrar. Nós nos falamos algumas vezes por mensagem, compartilhamos links de algumas reportagens que nos envolvia e em nossas redes sociais, compartilhávamos algumas frases românticas. Não tínhamos nada explícito confirmando que estávamos "juntos", mas era bem óbvio

Em relação ao emprego, Ricardo me garantiu que não tinha nada haver com o fato do meu casamento, segundo ele eu tenho qualificação para ocupar tal cargo e eu tenho mesmo.

Logo me caso com Vinicius e só Deus sabe o que me aguarda nesse tempo.

Maldito contrato. Ou não.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now