capítulo 7

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Júlia Mospiert

O estacionamento da empresa era subterrâneo e o elevador já dava direto ao setor comercial. Vinicius me explicou como funcionava a divisão dos setores e de como a parte jurídica intercalava-se como a construtora e com os investimentos.

— O meu escritório é no último andar — Apertou o botão—, minha sala é a única do andar. A sua é no décimo terceiro. — Explicou mais uma vez. Ele estava se esforçando para que eu entendesse.

— Tudo bem — Olhei para ele sorrindo e isso pareceu desconcerta-lo, pois baixou o rosto e depois olhou em outra direção.

— Bom dia Susan — Cumprimentou sua secretária ou eu pelo menos achava que era— Essa é Júlia Mospiert, minha esposa — A mulher sorriu e me deu as boas vindas— Preciso que mostre a ela seu andar e sua sala por favor, preciso resolver umas coisas com urgência e não poderei. Confio em você. — Sem dizer mais nada ele entrou em sua sala e Susan me olhou sem graça.

— Você pode me esperar um pouco? — Sorri de volta — Não deixe que ninguém entre, por favor, volto em instantes.

Ela concordou voltando a suas tarefas e eu entrei na sala de Vicinius fechando a porta com cuidado. Ele olhou em minha direção e pensou por alguns segundos, provavelmente se perguntando o que eu faria por ali.

— Algum problema? — Perguntou enquanto eu me aproximava.

— Sim — Ele estava prestes a me perguntar quando eu o interrompi impedindo de continuar— Você não pode sair e me deixar plantada, o que as pessoas vão pensar? — Resmunguei de repente ficando irritada. — Parece que você nem está se esforçando. Se quer que todo mundo saiba, é só me falar.

— Não estou nem aí para o que pensam — Falou com desdém.

— Pois deveria, por que isso — Apontei para nós dois—,depende do que as pessoas pensam. Você sabe disso e está agindo como um menino mimado.

— Você não está nem aí também. Lembro do quanto não queria esse casamento. — Ele levantou me encontrando no meio da sala e ficando bem próximo de mim. — Assuma que você só queria mais contato comigo — Se aproximou mais e mais, até minhas costas bateram contra uma parede. Se quiser um beijo é só me pedir — Suas mãos foram para minha cintura e seu rosto chegou bem perto do meu pescoço, tão perto que senti seu hálito quente bem na minha pulsação. — Cheirosa — Ele murmurou beijando toda a região da minha clavícula exposta pelo decote da blusa. — Tenho vontade de saber qual o gosto da sua boceta — Cheirou mais uma vez e subiu os lábios até bem perto da minha boca— Se o cheiro é tão bom quanto esse — Seus lábios tocaram os meus de forma bem leve — O problema é que quando isso acontecer, porque vai, é que eu não vou conseguir parar. — Ele se afastou me deixando ofegante e sem saber o que dizer.

— Preciso ir para minha sala. — Foi a única coisa que eu consegui falar antes de sair. — Podemos ir. — Falei para Susan, mas ela olhou para meu colo e eu segui seu olhar encontrando minha blusa desarrumada. — Desculpa — Murmurei com vergonha e arrumei o tecido. — E ainda existiam boatos que meu marido é gay.

— Na verdade, eu não sei como espalharam boatos assim — Agora você conseguiu minha atenção— Há meses atrás o senhor Vinicius trazia muitas senhorita aqui. — Filho da puta.

— Bom saber — Deixei escapar e ela percebeu o que disse, tentou abrir a boca para se desculpar eu imagino, mas a interrompi— Não tem problema, só vou pedir que se alguma dessas "senhoritas" aparecerem ou ligarem, você me avise imediatamente.

— Pode deixar - Uma cúmplice. Sorri para ela que levantou pronta para me mostrar minha sala.

[...]

Depois de conhecer não só a minha sala e o andar, Susan fez questão de me apresentar a toda empresa.
Comecei lendo alguns relatórios brevemente prontos e avaliar alguns processos que estavam em andamento, nada muito sério. Me distraí e perdi completamente a noção do tempo, só me dei conta da hora quando meu estômago reclamou de fome.

Liguei até o andar da presidência e caiu automaticamente na linha de Vinicius.

— Está indo almoçar? — Perguntei tentando achar meu celular que se perdeu na bagunça dos papéis.

— Na verdade acabei de voltar do almoço —Não demonstrou nada além de tédio ao falar comigo. E aquilo me deixou sem entender, porque aquele não era o tom que ele falava comigo, era raiva, irritação, desejo... mas ainda não havia sido tratada com tédio.

— Tudo bem — Disse rápido- Estou indo para casa, sua mãe me ligou e eu tenho que comprar algumas coisas para viagem.

— Isso realmente não me interessa, Júlia —Desligou o telefone na minha cara.

Mais perdida do que estava antes, eu peguei meu celular e saí sem saber o que estava acontecendo. Com uma vontade de ir até lá e gritar com ele, perguntar quem ele pensava que era para falar comigo daquela forma ou perguntar se estava tudo bem com ele.

Ignorando tudo que meus pensamentos me sugeriam, eu pedi um táxi pelo celular e esperei na recepção do térreo até que chegasse.
Mais cedo minha sogra tinha me mandado uma mensagem sugerindo que nos encontrássemos e eu de pronto aceitei, achei que seria bom esse proximidade, mas agora eu só queria ir para bem longe e ficar sozinha.

Eu ainda não tinha ido um tempo só meu, para colocar a cabeça no lugar, saber o que fazer da minha vida, entender como eu lidaria com esse casamento. Respirei fundo sentindo minha cabeça doer. Liguei para Estefânia e pedindo mil desculpas, achei melhor nos encontrarmos em outro momento, expliquei que não estava me sentindo bem e ela entendeu.

— O senhor pode seguir para outro endereço? — Perguntei ao motorista.

— Sim, senhora — Ele assentiu e parou em um acostamento— Preciso encerrar essa corrida e começar outra. — Ele explicou e eu assenti.

Alguns minutos depois estávamos na porta do meu prédio.

— Rose —Chamei passando pela entrada da cobertura e deixando minha bolsa e sapatos logo na entrada.

—Sim? — Ela respondeu aparecendo da cozinha e eu deitei no sofá cobrindo os olhos com o braço, a dor estava começando a ficar insuportável.

— Você poderia me preparar um chá de hibisco? — Perguntei levantando — Minha cabeça está me matando, não sei se por tudo que anda acontecendo ou porque ainda não comi. — Ela arregalou levemente os olhos.

—.Tome um banho e deite-se para descansar. Eu prepararei o chá e levarei com alguns biscoitos, quando se sentir melhor você come algo mais forte. — Eu assenti e agradeci o cuidado subindo as escadas rumo ao quarto. — Sua mãe pediu para entregarem algumas sacolas, ela disse que era para viagem e eu deixei tudo no closet, já organizei tudo também no quarto do senhor Mospiert.

— Pensei que tivesse alguém para te ajudar nos serviços, eu teria arrumado se tivesse me dito que não tinha — Disse me sentindo mal por pedir tanto a uma senhorinha de idade. Rose devia ter mais que 60 e eu achava muito esforço que ela subir e descer escadas.

— É meu trabalho, menina — Ela sorriu divertida — Tem uma menina que me ajuda, mas ela está de férias, deve voltar nesses dias. — De repente sua expressão mudou, ela me deu as costas e saiu para cozinha.

Entrei no quarto de Vinicius já sendo bombardeada com seu cheiro masculino e forte, as paredes tinham tons claros de cinza e uma parede de vibro que ia do chão ao teto, no momento estava vedada com cortinas, mas a vista a noite deveria ser espetácular.

O quarto destoava de todo o resto da casa. A sala era toda em tons claros, com móveis claros e lustres. O quarto era escuro, mesmo tendo luzes em pontos estratégicos. O quarto era enorme e cama da mesma forma, era tão grande que eu duvidava muito que eu e Vinicius nos tocássemos durante a noite.

Entrei no closet tirando a roupa do trabalho e colocando em um canto que havia um cesto, abri observando algumas roupas de Vinicius usadas no dia anterior, identifiquei como sendo de roupas sujas e deixei as minhas ali. Ele dava acesso ao banheiro e eu entrei na intenção de tomar um bom banho, ignorando completamente as sacolas que estavam ali no canto.

Lavei bem meus cabelos e esfoliei minha pele com um dos meus produtos preferidos, enquanto a máscara agia no meu cabelo. Deixei que a água tirasse todos os produtos usados naquele banho e me cobri com um roupão que estava pendurado ali, sei que esse era meus, pois era menor do que o outro que estava ali. Rose deve ter colocado quando trouxe minhas coisas.

Ainda no closet, eu decidi deixar meus cabelos secarem naturalmente. Coloquei apenas uma calcinha e optei por ficar com o roupão confortável. Chegando no quarto, havia uma mesinha de canto próximo as janelas de vidro e nela descansavam uma xícara com o chá e alguns biscoitos como ela disse que traria.

Me aproximei já sentindo o alívio do banho e com a certeza de que depois de comer, ficaria ainda melhor. Também notei o quarto frio e vi o ar condicionado ligado, fiz uma nota mental de agradecer Rose e depois de comer decidi deitar um pouco para descansar alguns minutos.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now