capítulo 10

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Júlia Mospiert

Júlia Mospiert

Levantei bem cedo e Vinicius nem se moveu. Eu já tinha reparado no seu sono pesado, mas pela forma como estava apagado, o cansaço tinha uma parcela de culpa nisso. Decidi que seria uma boa ideia tomar banho e descer para tomar café em algum restaurante, mesmo que eu não fosse a maior fã da refeição.

Desci para a recepção e me dei conta que não avisei nada ao meu marido e deixei ele largado lá em cima, então comer fora saiu dos meus planos. Poderia esperar que ele acordasse e e sairíamos para juntos, mais tarde.

Buen día — Meu espanhol está totalmente enferrujado, mas eu sabia dizer algumas coisas, esperava conseguir me virar — Me gustaría pedirles que lleven el café a la habitación 154, bajo el nombre Mospiert. (gostaria de pedir para que levassem o café para o quarto 154, no nome Mospiert)

Por supuesto, en unos 20 minutos (claro que sim, em cerca de 20 minutos) — Disse a mulher perfeitamente arrumada na recepção.

Gracias —Agradeci e virei de costas, mas bati em alguém e acabei perdendo o equilíbrio.

A pessoa, felizmente, teve o raciocínio mais rápido que o meu e me segurou firmando meus pés no chão.

— Me desculpe — Pediu em inglês e eu agradeci mentalmente.

— A culpa foi minha que não prestei atenção. Me desculpe — Pedi e me afastei notando que suas mãos ainda me seguravam.

Ao chegar no quarto Vinicius se mantia na mesma posição, estava começando a me preocupar. Me aproximei da cama e coloquei a mão em sua testa tentando sentir a temperatura de sua pele. Tudo normal, mais ainda sim ele estava suado para a temperatura do quarto.

—O que está fazendo? — Ele sentou na cama e me olhou assustado.

—Vendo se você está doente — Ele colocou a própria mão na testa checando a temperatura e respirando aliviado por não ter febre — Já pedi o café. Você deve estar cansado do jet lag, tome um banho e depois de comer, quem sabe você não tenha disposição, hum?

— Farei isso, muito obrigado — Ele agradeceu e levantou.

Pouco tempo depois o serviço de quarto apareceu e arrumou tudo enquanto eu navegava na internet. Logo a mesa de café estava posta e eu esperava Vinicius para que pudéssemos comer.

—O que é isso? — Eu ainda estava sentada na sacada quando ele adentrou o quarto pronto e se aproximou da mesa.

—Não sei — Me aproximei observando a flor vermelha que ele encarava e peguei o cartão —"Para a linda morena que tem um sorriso encantador e um equilíbrio duvidoso. De um admirador." — Sorri sem acreditar naquilo.

—Quem lhe mandou isso, Júlia? — Perguntou claramente incomodado.

— Eu acabei esbarrando em um homem quando fui pedir nossa comida e ele deve ter escutado o número do quarto. — Peguei a rosa e inalei o cheiro.

— Você só pode tá de brincadeira comigo — Ele disse irritado, me olhando como se quisesse esmagar a pobre rosa.

Vinicius Mospiert

— O que isso te importa? — Perguntou começando a ficar irritada — Não é nada demais, ele só me achou bonita e me mandou uma rosa, não é como se fosse acontecer algo mais que isso.

—Mas você não pode me trair Júlia — Explodi gritando com ela.

— Eu não estou falando em trair ninguém — Respirou fundo sentando na mesa do café— Em algum momento precisamos falar sobre sexo, não somos mais crianças, dois anos é muito tempo.

— Para mim não há o que conversar, estarei pronto na hora que você quiser — Sentei também tentando me acalmar — Casamento aberto nem fodendo. — Ela não disse mais nada e depois de terminar a refeição, eu quebrei o silêncio. — Vamos sair um pouco desse quarto. — Disse e esperei que ela se organizasse.


[...]


Passamos todo o dia andando por Madri e almoçamos também fora. Já se passavam das oito da noite quando retornamos ao hotel, ambos muito cansados, eu mesmo não sei se vou jantar, ou simplesmente dormir. Meu corpo implorava por descanso e meus olhos pareciam pesar uma tonelada.

—Vou tomar banho primeiro — Não me deixou terminar de falar e entrou no banheiro.

Deitei na cama só de bermuda, me esforçando ao máximo para não dormir em quanto trocava de roupa. Acabei adormecendo tão pesado que nem vi a hora que Júlia saiu do banheiro e só ouvi sua voz me chamando, tempos depois.

—Vinicius —Me chamou— Você não vai comer nada? —Perguntou e eu neguei— Eu vou descer, tudo bem? —Perguntou e eu neguei novamente, o sono estava falando mais alto, eu não queria que ela saísse de perto de mim.

—Peça para trazerem a comida —Respondi com os olhos fechados, me rendendo ao cansaço— Não saia de perto de mim —E não lembro de como, mas adormeci quase que naquele mesmo momento.

[...]

Não vi quando a comida chegou e nem a hora que Júlia deitou, isso se é que ela deitou. O relógio marcava duas horas da manhã quando virei e não encontrei ela na cama. Rapidamente me sentei tentando raciocinar e a vi na varanda.

—O que houve, perdeu o sono? — Indagou ao me ver se aproximar.

— Você não estava na cama — Expliquei— Você saiu?

—Não — Respondeu — Só queria pensar um pouco — Me encarou e depois olhou para os meus lábios— Você é lindo, mas o clima espanhol não te favorece. — Ela brincou e eu sorri assenti.

— Eu, de fato, não estou nos meus dias mais saudáveis. — Lamentei, queria aproveitar a viagem, mas eu não me sentia bem. — Vem, vamos deitar.

Júlia Mospiert

Quando voltei para cama com Vinicius, não parava de pensar no que ele falou, deveria estar com muito sono e para todos os efeitos eu também. Porque fingiria que ele não me pediu para ficar com ele, e faria isso pelo bem da minha sanidade.

Levantei mais cedo que ele e entrei logo no chuveiro na água gelada, o mais fria possível.

—Não vá embora — Escutei sua voz aflita e rapidamente me cobri do jeito que deu, indo em seu auxílio.

— Vinicius — Chamei com cuidado e aproximei minha mão de sua testa sentindo a temperatura elevada. — Tudo bem? — Perguntei encarando os olhos do moreno abatido.

— Não me sinto bem — Me olhou e falou em um tom de voz extremamente baixo e fraco. — Mas se preocupe, não estragarei nossa viagem, você pode me dar um minuto? — Perguntou e eu assenti ajudando ele a levantar e caminhar até o banheiro, foi aí que me conta que usava apenas um roupão

Ele entrou para o banheiro e eu liguei para Estefânia, ao mesmo tempo que vestia uma roupa. Ela me explicou detalhadamente o que eu deveria fazer e disse que se ele não apresentasse melhoras nós deveríamos voltar, pelo que parece o bebê da mamãe não ficava doente com frequência e uma simples gripe poderia derrubá-lo.

— Tome —Coloquei a bandeja com a sopa em cima da cama. Ele deixou o banheiro há poucos minutos com uma expressão melhor, mas ainda sim abatido.

—Como voc... — Me olhou e parou por alguns segundos— Você falou com minha mãe! — Concluiu.

— Sim, falei. Agora tome logo isto —Ele sentou e eu fiquei esperando ele acabar.

—Obrigado — Me entregou a bandeja e eu sorri dizendo que não era nada.

Não quis sair do quarto, não tinha como deixar Vinicius sozinho no quarto estando doente. Decidi sentar na varanda e enquanto olhava Madri da janela do quarto, continuei o livro que tinha começado no avião.

A noite chegou e Vinicius continuava do mesmo jeito, não levantou para mais nada durante todo o dia. Ele disse que não tinha forças no corpo e mesmo depois do remédios nada mudou. Pensei bem e achei melhor pararmos a lua de mel por aqui mesmo, não adiantava ir a Paris com ele desse jeito.

Restava dois dias na Espanha e ao invés de seguir, iríamos voltar a Nova Iorque.

[...]

No começo ele não gostou nenhum pouco da ideia de parar a lua de mel, disse que as pessoas iriam criar milhões de especulações e eu na real, estou pouco me fodendo para o que dizem. Isso já deu o que tinha que dá mesmo.

—Não precisa ficar brava, podemos viajar para Paris em outra ocasião — Ele era muito estúpido se achava que minha carranca era por causa disso. Eu estava preocupada, caramba.

—Não é isso — Falei olhando em outra direção.

—Eu fiz alguma coisa? — Perguntou. Tive vontade de dizer que fez, que foi um idiota quando pensou primeiro no que os outros pensariam da nossa volta. Ele estava tendo febre todos os dias, tão alta que chegava a delirar e estava preocupado com o que iriam dizer? Foda-se.

— Não, está tudo bem. — Forcei um sorriso — Descanse.

Assim que pisamos em solo Americano, pedi que Ruan no levasse ao médico. Vinicius não estava se alimentando e tive medo que a desidratação evoluísse para algo mais sério. O médico explicou que sua imunidade estava muito baixa, prescreveu algumas vitaminas para repor nutrientes e fomos liberados.

Ao chegarmos em casa eu organizei nossas malas enquanto Vinicius dormia. Algumas horas depois de separar roupa limpa de roupa suja, eu tomei um belo banho e deitei deixando o cansaço vencer.

Acordei duas horas depois na cama vazia e o céu já estava escuro, o que indicava que eram mais que oito da noite. Me vesti com um shortinho leve e uma blusa solta, eu queria saber como Vinicius estava e comer alguma coisa, minha barriga começava a reclamar pela falta de comida

Rose disse que Vinicius estava no escritório e pediu que eu o chamasse para que ela servisse o jantar. Abri a porta do mesmo com o maior cuidado para que não lhe assustasse, e quem se assustou fui eu. Me deparei com a cena mais ridícula que eu poderia imaginar, Amanda estava completamente nua e meu marido? Bom, ele olhava tudo sem parecer se importar. Sem que me vissem eu fechei a porta lentamente e voltei para cozinha.

— Rose, por favor, pode levar minha comida lá para cima no quarto?—Perguntei encarando o chão.

—Algum problema? — E graças a Deus ela estava tão ocupada que não me encarou.

—Não, só estou cansada e com muita fome. — Expliquei e saí

Não pude evitar chorar e chorar. Eu me sentia insuficiente, tudo bem que isso não é real, mas por um momento eu pensei em como seria se fosse. Nos estávamos indo tão bem, era somente o que eu achava. .

Escutei a voz de Rose do outro lado da porta e abri sem me preocupar em limpar as lágrimas que escorriam em meu rosto.

—Ele me traiu, Rose — Chorei novamente e depois de abri a porta entrei no quarto novamente— Vi eles dois no escritório.

—Oh, menina —Tentou me consolar— Você tem certeza do que viu? — Ela perguntou enquanto me abraçava. — Segundos depois que você subiu, Amanda passou pela cozinha chorando, ela já foi embora. — Sorriu como se lê-se meus pensamentos dos dois estarem sozinhos lá em baixo.

Ela tentou me ajudar de todas as formas, Rose foi um anjo pra mim, mas mesmo assim eu ainda sentia algo dentro de mim doer e não era uma dor suportável, algo em mim acaba de morrer. Provavelmente minha esperança, era assim sempre que uma chance de viver era tomada de mim.

Acordei mais cedo que o normal e comecei a me preparar para o trabalho. Em algum momento da noite, Vinicius entrou no quarto tomando cuidado para não me acordar e deitou ao meu lado como se não tivesse feito nada demais. Coloquei uma saia lápis preta e uma blusa branca de alcinha, para finalizar um blazer que fazia par com a saia e nos pés um scarpin preto com a sola vermelha.

Esse podia facilmente ser o look que eu usaria para matar meu marido, literalmente.


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