capítulo 31

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Júlia Mospiert

Acordei primeiro que Vinicius e saí em disparada para a cozinha. Eu precisava fazer alguma coisa por nós, eu não posso deixar que só ele se esforce nesse casamento.

Na cozinha, Rose preparava a mesa para o café, só que eu pedi para que ela fizesse uma pequena bandeja e levei tudo para o quarto. Ele ainda dormia, mas sua posição agora estava diferente: deitado de bruços com braço esquerdo em cima do meu travesseiro, porém seu corpo continuava no seu lado do colchão.

Eu coloquei a bandeja no divã que ficava próximo a nossa cama e com cuidado eu deitei sob suas costas. Beijei seu pescoço e modisquei sua orelha, mas ele continuava parado.

—Eu preciso de tempo —Sussurrei tentando me manter firme, ele reagiu e se moveu cuidadosamente abaixo de mim. Saí de cima de cima dele e fui para o seu lado, ficando na mesma posição que ele estava, assim, nossos rostos ficaram bem próximos, quase colados.

—Um tempo de mim? —Sussurrou de volta, mas ao contrário da minha voz, a dele não estava firme— Quer um tempo de nós?

—Não, nunca. Quero um tempo pra me preparar para ser mãe de seus filhos, se você tiver ao meu lado, eu consigo —Sorri e ele também. Seu corpo cobriu o meu e seus braços entrelaçaram minha cintura, sua cabeça estava escondida no meu pescoço enquanto ele respirava.

—Caralho —Resmungou na mesma posição, mas agora senti meu ombro molhado— Você é minha mulher e vai ser a mãe do meu filho —Eu assenti sentido meu nariz coçar e meus olhos marejarem— Você é minha vida.

—Eu te amo demais, Vinicius. Não posso me imaginar sem você  —Afaguei seus cabelos e beijei os fios próximos a minha boca.

—Você não precisa, eu não vou a lugar nenhum —Finalmente ele me olhou, me deixando ver seus olhos molhados e as lágrimas recentes que escorriam por seu rosto.

—Não gosto que chore —Acariciei seu rosto limpando algumas das lágrimas e ele fechou os olhos para sentir meu toque.

—É felicidade, você me faz feliz —Beijou meus lábios.

Depois que tomamos o café, ainda no quarto, nos preparamos para ir para empresa. Hoje era sexta feira e sempre tínhamos muito o que fazer, principalmente essa semana que ele não teve descanso e eu ainda compliquei tudo com os meus problemas pessoais irrefutáveis e desnecessários.

Tudo parecia normal para mim na recepção, pessoas para lá e para cá, funcionários trabalhando em seus receptivos lugares, mas Vinicius parou abruptamente quando viu alguém sentado em uma das cadeiras próximas ao elevador, eu rapidamente olhei na mesma direção e quando reconheci de quem se tratava, meu marido apertou ainda mais minha mão e beijou meus cabelos.

Vinicius Mospiert

Não vacilamos nem por um só segundo, segurei firme a mão da minha esposa e caminhamos juntos até o elevador onde Débora estava parada nos encarando. Ela está diferente do que eu lembrava, seu cabelo antes em corte curto, agora esta maior. Ela usava um vestido vermelho  justo e mesmo assim não chegava aos pés da minha esposa vestida com roupa de dormir.

—Vinicius —Paramos juntos e encaramos a mulher que me chamou.

—Sim? —Perguntei.

—Me desculpe ter chegado sem avisar, mas Henrique e Helena tiveram que vir resolver o problema com a mãe do filho dele e eu aproveitei para vir também.

—Você não me deve explicação sobre sua vinda a Nova York, mas sim sobre o que veio fazer na empresa. A reunião com os acionistas está marcada para semana que vem e só acontecerá nessa data —Expliquei em tom profissional ainda segurando a mão de Júlia que se manteve calada— Com licença.

—Débora Dawison —Estendeu a mão na direção da minha esposa que apenas encarou o movimento, mas não se moveu, então Débora recolheu sua mão para junto do corpo.

—Júlia Mospiert  —Sorri encarando a morena confiante.

—Será que podemos conversar Vinicius? —Débora perguntou e senti o fraquejar no aperto de Júlia..

—Claro que sim —Mantive meus olhos fixos na minha esposa e caminhei com ela até o elevador— Semana que vem na reunião com todos os acionistas. Tenha um bom dia! Vamos, amor? —Minha mulher assentiu e entramos no elevador, cada um para seu respectivo andar.

Comecei a analisar vários documentos de contabilidade e algo não batia, pensei que fosse pela grande quantidade de dinheiro que ganhamos nessas ultimas semanas, mas faltava quase 5 milhões de reais e nenhum registro de onde foi parar esse dinheiro.

—Susan —Liguei no ramal da minha secretaria que atendeu de imediato—Quero que chame todo pessoal do financeiro com urgência para uma reunião assim que chegarem do horário de almoço.

—Sim senhor —Desliguei.

Revirei papeis e programas do sistema de empréstimos, transferências e financiamentos, mas nada batia e isso estava me deixando com os nervos a flor da pele.

Batidas leves soaram na minha porta e eu quis gritar que me deixasse em paz, mas lembrei do que Júlia sempre me diz "As pessoas não tem nada haver com seus problemas". Pedi que entrasse em um tom mais calmo que eu consegui dada as circunstâncias e baixei a cabeça com as mãos sobre o rosto.

—Estou saindo para almoçar, você me acompanha? —Levantei o rosto e encarei a morena mais linda do mundo, a pessoa mais determinada que eu conheço e por um minuto eu esqueci de todos os problemas.

—Venha até aqui —Bati no meu colo e ela veio sorrindo em minha direção, sentando com cuidado no meu colo, preocupada em que saia subisse.

—Você não me parece bem —Comentou alisando meus cabelos enquanto beijava meu pescoço.

—Não estou —Suspirei fazendo com que ela me olhasse— Algo muito ruim está acontecendo e eu não consigo resolver, por quê não sei do que se trata.

—Tem haver com vinda repentina de Débora? —Senti seu corpo enrijecer por cima do meu e neguei acariciando sua bochecha.

—Eu sinto muito se vou despertar algum gatilho em você, mas eu tenho quase certeza que tem haver com o seu pai —Ela ficou de pé na minha frente e eu fiz o mesmo perto dela— Eu assinei muitos papéis da empresa do seu pai e agora não consigo me lembrar se algum era sobre transferências ou saques.

—Faz sentido ele ter vindo até aqui nos ameaçar, pensei que ele estivesse com a carta na manga, mas ele já tinha feito a primeira jogada —Concluiu seu pensamento e começou a andar de um lado para outro— Eu sabia que ele faria algo e ele fez —Continuou a andar— Ele vai te meter em problemas, amor.

—Vou resolver isso, só preciso de tempo. Eu tenho que resolver isso antes da reunião semana que vem.

—Ta faltando algum dinheiro, é isso? —Assenti— Se você não conseguir resolver, é uma quantia que a gente possa repor? —Perguntou e eu assenti mais uma vez— Então coloque logo esse dinheiro, se quiser tire da minha conta.

—Não, eu não vou pagar por algo que eu não fiz —Júlia me olhou e sorriu segurando minhas mãos e beijando meus lábios.

—Você vai conseguir e eu vou estar ao seu lado —Repetiu a mesma frase que me disse semanas atrás— Vou deixar você se concentrar, mas se tiver algo que eu possa fazer, não hesite em me procurar —Me beijou mais uma vez e saiu.

Continuando minhas buscas pelo o erro, eu imprimi tudo que tinha assinado e analisei minuciosamente todos os termos e condições, nada envolvia retirada, principalmente das contas da empresa.

Ainda sem pista de nada, já se passavam das cinco da tarde. Observei a marmita vazia e agradeci o cuidado da minha esposa, se não fosse por ela, eu não teria comido. Peguei um monte dos papéis que eu precisa analisar e coloquei tudo em uma pasta para levar pra casa e voltar a prestar atenção lá.

Chamei o elevador que já estava vindo para o meu andar e quando as portas se abriram, Júlia estava lá com sua bolsa e alguns documentos nas mãos.

—Podemos ir pra casa? —Perguntou e eu assenti entrando no elevador e beijando seus lábios— Acho que você precisa relaxar e quando chegar em casa eu posso fazer algo pra te ajudar.

—Tenho certeza que sim, querida —Quando chegamos ao térreo eu segurei sua mão e saímos do elevador e a seguir da empresa.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now