capítulo 4

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Capítulo 4

Júlia Martin

Nosso casamento estava em todos os lugares e com matérias de vários tipos. Algumas insinuaram o nosso casamento de fachada e outras disseram que estávamos juntos a meses e preferíamos o relacionamento em segredo e era essa a história que eu e Vinícius iríamos usar, obviamente.

O anúncio do nosso relacionamento aconteceu por meio de um dump de fotos no instagram. Ele colocou uma foto minha como se tivesse sido tirada por ele eu fiz o mesmo. Nos encontramos na minha casa e montei todo o cenário de noite de vinho. Aparentemente, foi o ideal.

Na semana seguinte, fui compartilhando de forma orgânica alguns passos da organização do casamento. Algo como convites, doces e até um pouco do vestido. A cerimonia seria intímista, então como já acreditavam que nós sempre vivemos em nossa privacidade, não estranharam isso.

Dia do casamento.

Meu pai segurou firme no meu braço e me conduziu até o altar no meio daquele corredor assustador, mesmo que quase vazio. Meus braços foram para os de Vinicius que me beijou a testa. O fotografo registrou o momento e eu lembrei do dia no restaurante, automaticamente ficando tensa. Todo e qualquer contato entre nós dois teria essa finalidade.

— Por pouco não era abandonado pela segunda vez — Falei tentando trazer um pouco de humor para a ocasião, mas Vinicius não gostou nenhum pouco. Seu semblante antes nervoso, tinha sinais de irritação e eu decidi para de prestar atenção nele e olhar para frente.

O padre começou todo aquele discurso sobre amor, fidelidade e companheirismo, eu deixei minha mente viajar através da definição de cada palavra. Uma menininha entrou com as alianças e parou perto de nós. Vinicius pegou a aliança e a minha mão. O padre se aproximou dele segurando o microfone.

— Júlia, eu te dou essa aliança como sinal de que escolhi você para ser minha esposa e melhor amiga. Receba-a e saiba que eu te amo.

—Vinicius, eu te dou essa aliança como sinal de que escolhi você para ser meu esposo e melhor amigo. Receba-a e saiba que eu te amo.

Nunca menti tanto na minha vida. E bem diante de Deus

—Júlia e Vinicius, ninguém além de vocês mesmos detém o poder de proclamá-los esposo e esposa. Porém, vocês nos escolheram como anunciantes desta boa nova. E assim, tendo testemunhado sua troca de votos diante de todos que estão aqui hoje, eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

E assim Vinicius fez.

Tomou meu lábios calma e eu diria que até um pouco de raiva. Escutei o pigarreio vindo do padre e logo os aplausos se fizeram presentes na igreja.

Vinicius Mospiert

Descemos do altar e caminhamos de braços dados até a saída da igreja.

—Sorria, mi amore —Beijei sua bochecha e sussurrei em seu ouvido. Júlia beliscou forte meu braço e lançou um sorriso forçado em minha direção. Ela poderia facilmente me matar com aquele olhar, era como se seus olhos lançassem laser. Que mulher assustadora do caralho.

—Viva os noivos —Gritaram da porta da igreja jogando o que parecia ser grão de arroz para o alto. Algumas pessoas nos esperavam do lado de fora para nos parabénizar, outros partiram direto para o local da recepção que iríamos fazer apenas para comemorar e trazer a ideia de felicidade absoluta. Felicidade porra nenhuma.

—Felicidades, meus queridos —Minha mãe nos abraçou e voltou-se para minha esposa. Porra, eu tenho uma esposa— Júlia, suas coisas já estão na casa de Vinicius. Se preferir pode ir se trocar para a pequena recepção que preparamos. Já separei seu vestido. —Minha mãe disse e a morena emburrada a meu lado assentiu sem dizer nada.

—Eu vou com você —Minha mãe assentiu e nos deu espaço para sair— Sorria antes que alguém perceba sua infelicidade.

—Provavelmente minha infelicidade é visível, não posso encondê-la, mas vou dar um belo show —Me pegando de surpresa, Júlia me beijou. O beijo começou calmo, então eu tive tempo de segurar sua cintura e obrigar meus pés a se firmarem no chão. Em algum momento minha língua estava pedindo passagem para sua boca e no outro da dela estava dentro da minha.

Apertei seu quadril o forçando a vir em minha direção e sentir a ereção que eu escondia pelo tecido da calça social. Aplausos preencheram o ambiente e parecendo sair daquela bolha, Júlia se afastou ofegante e com o maxilar e os lábios vermelhos, efeitos dos meus lábios e da minha barba. Sorri de satisfação e ela me olhou irritada.

Para evitar que ela me batesse ali mesmo no meio dos convidados, eu pedi para que saíssemos com ela na minha frente, tentando esconder a ereção que pareceu ainda maior com seu olhar. Eu deveria ser masoquista, só assim para ficar excitado com alguém que poderia me matar a qualquer momento.

O motorista estava nos esperando do lado de fora da igreja, então em silêncio seguimos até minha cobertura.

—Seja bem vinda — Abri a porta lhe ensinando o código e ela entrou bufando.

—Não seja idiota —Júlia estava segurando o vestido para conseguir andar— Se você morava sozinho, por que uma cobertura desse tamanho? — Perguntou olhando em volta e o movimento a fez se desequilibrar, rapidamente me aproximei e consegui evitar a queda.

— Eu não moro sozinho — Me encarou e olhou para meus braços ao seu redor, depois de ter a certeza que não cairia, eu me afastei — Tenho uma governanta que as vezes dorme aqui e agora tem você — Ela suspirou irritada e virou de costas.

—Nem me lembre dessa tragédia — Parou e esperou que eu mostrasse onde estava suas coisas.

Sorri com sua irritação e passei em sua frente para mostrar o quarto.

—Esse é o quarto —Abri a porta revelando uma suíte de hóspedes me amaldiçoando por não ter escondido esse quarto e deixado ela comigo. Merda.

—Não é nenhum pouco a sua cara — Entrou e se jogou na cama ficando em cima de uma quantidade de tecido, devido ao fato do seu vestido ser enorme.

—É por que esse não é meu quarto — Sua expressão de surpresa me deu vontade rir, então logo decidi que seria divertido provocá-la— O que foi? Ficou triste, porque pensou que dormiríamos juntos? Eu posso ajustar tudo para que você fique no meu quarto.

— Eu não teria problema nenhum em dormir com você — O que? Ela queria mesmo dormir comigo? — Sei que o fato de você ser gay não apresentaria perigo a minha integridade e a gente poderia até fazer uma noite das meninas uma vez por semana. O que acha? — Ela levantou.

Júlia entrou no closet como se conhecesse tudo ali, saiu de lá com um roupão e seguiu para o banheiro me observando parado no mesmo lugar tentando racionar como ela tinha me ofendido dessa vez.

—Espera — Bati na porta do banheiro— Eu não sou gay.

Damned SoulsWhere stories live. Discover now