Você também os vê?

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Havia algo nos olhos de S/N que chamou a atenção de Bakugou. 
Ele a reconheceu, óbvio, não tinha como não a reconhecer. S/N o olhou com certa admiração no metrô, mesmo sem nunca ter falado com ele antes, ele não entendeu isso. 

~ Garota estranha e estúpida.

Pensou consigo mesmo, achando que a estagiária não tinha o juízo certo. 

Nenhum dos seus movimentos passou despercebido por ele, fosse um simples movimento das mãos, os dedos correndo pelo cabelo ou um simples passo dado para o lado. 
Vez ou outra, ela o olhava de volta e desviava o olhar em menos de dois segundos. 

O sinal tocou, liberando os alunos para o almoço. S/N respirou aliviada como nunca antes, poderia ir pra casa em menos de 30 minutos e passaria a tarde dormindo para esquecer o olhar atento do aluno. 

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◇ S/N ◇ 

— Sensei? Está tudo bem com você? - Perguntou Uraraka, observando claramente o meu medo estampado em meu rosto. 
— Está tudo ótimo. 

~ Não! Não está tudo ótimo! Eu estou com medo, quero sair deste banheiro o mais rápido possível. 

Maldita hora que me deu vontade de usar a porra do banheiro, foi tão repentino que nem me preocupei em usar o banheiro dos professores. 
Quando adentrei na cabine de um dos banheiros, dei de cara com uma sombra bizarra de olhos avermelhados. Tentei ao máximo não urinar ali mesmo em pé. Seu corpo pode não te obedecer quando você está em puro desespero. 

Quando você sente medo, o cérebro reage colocando o organismo em estado de alerta, o que provoca alterações por todo o corpo: aceleração dos batimentos cardíacos, desconforto intestinal, insônia...
"Quando você passa por uma situação muito negativa, como um acidente de carro que colocou sua vida em risco, certamente nas próximas vezes que entrar em um carro, você vai ter um calafrio, uma sensação de que ali aconteceu algo errado. Isso cria uma memória aversiva"

Eu não iria entrar naquele banheiro nunca mais depois disso.

Mesmo sem conseguir manter a cabeça erguida perante aquela coisa, sentei no vaso sanitário e esperei por um, dois e três minutos e meio.

Nada. A vontade perdeu-se entre o meu medo.
 
Não estava sozinha, Uraraka ainda me esperava do lado de fora da cabine. De certa forma, me deixa mais aliviada não ser a única no banheiro sozinha com essa coisa, apesar de ser a única que a enxerga. 
Quando nós duas saímos, pensei que poderia voltar para casa e esquecer do que estava acontecendo.

Grande ilusão. 

Calafrios subiram pelo meu corpo, eu odeio essa sensação mais do que qualquer coisa. 

Eu sabia que havia algo atrás de mim, pois sentia perfeitamente a "respiração" daquela coisa atrás da minha orelha, além dos seus sussurros nos quais eu tentava entender. 

— Até depois, Sensei! - A doce menina Uraraka se despediu de mim e acompanhou dois de seus amigos pelo corredor. 

Eu tinha que correr pra casa. 

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S/N sentiu um desconforto imenso em seu rosto, havia esbarrado em alguém. 

— Olha, eu realmente sinto mui... - Ela engoliu seco quando seus olhos C/O encararam Katsuki, mas os olhos dele não estavam focados nela. 

Ele estava vendo aquela sombra atrás dela, e a sombra o encarava de volta. Os olhos avermelhados da criatura o hipnotizaram, eram mais profundos do que ele poderia imaginar.
Quando S/N percebeu que não era a única a ver, a sua vontade era de gritar com ele, mandar ele parar de encarar ou as consequências poderiam ser muito sérias para ambos. 

Aquelas coisas iam embora quando ela os ignorava, mas ficavam e a seguiam se percebessem que estavam sendo vistas.
S/N foi rápida em chamar a atenção do loiro acinzentado. Puxando a gravata de seu uniforme, ela o encarou como nunca encarou mais ninguém. 

— Disfarça, apenas finja que não está a vendo e ela vai embora. É simples.

Demorou para ele entender, mas fez o que ela pediu. Estava em choque, e faria qualquer coisa para se livrar daquela situação. 

A sombra desapareceu de sua vista, mas não da vista de S/N. 
Para ela, a sombra ainda encarava os dois no meio do corredor. S/N deu um passo para o lado e continuou a caminhar, deixando Katsuki sozinho ali, processando o que havia acabado de acontecer. 

Ele a seguiu, e segurou o seu braço antes de sair. 

— QUE PORRA ERA AQUELA?! 

O grito a assustou. Ela respirou fundo uma vez, abaixou um pouco a cabeça, puxou o braço de volta e usou a bolsa para afastá-lo. Poderiam ter uma boa conversa respeitando o espaço um do outro. 

— Você também os vê? - Foi uma pergunta simples, mas o suficiente para tirar o restante da paciência de Katsuki. 
— Em? Como assim? De que merda você tá falando, caralho? - Replicou. 

Ela não entendeu, como diabos ele só viu por poucos segundos? 

Virando a cabeça de um lado para o outro, S/N imaginou que fosse melhor apenas esquecer disso tudo e voltar a sua rotina normal. 

— Esqueça que isso aconteceu. 

Estava disposta a seguir como se nada tivesse ocorrido, mas Bakugou não pensava o mesmo

— A não, não, não, não! Eu não vou esquecer do que eu vi! Você vai me explicar que merda era aquela na porta do banheiro! Foi você que me fez ver aquela coisa, não foi? Sua esquisita do caralho. É essa a sua Quirk? Fazer outras pessoas verem e sentirem aquela coisa bizarra? 

Suas dúvidas eram compreensíveis, eram as mesmas que S/N teve quando criança e começou a testemunhar esses ocorridos tão assustadores. 

— Olha aqui, eu não sei explicar o que aconteceu ali! Eu jurava que apenas eu poderia ver aquelas coisas infernais que vivem enchendo meu saco. Desculpe, ok?! 
— Você acha que um pedido de desculpas vai me fazer esquecer daquela... Sei lá, como você as chama? Tanto faz essa merda, mas eu sei bem o que eu vi e tenho certeza que você sabe bem o que fazer para afastá-las. 
Sal! 
— EM?! 
— Sal os afasta, mas eu não sei como parar de ver. O máximo que posso fazer para eles irem embora é ignorar a existência deles, como aconteceu no corredor. 

Tentava ao máximo controlar o seu tom de voz. Odiava quando gritavam com ela. 
Agora, a encarando de perto, Katsuki se perguntou se por algum acaso S/N estava doente, isso devido as olheiras escuras que cercavam-lhes os seus olhos. 

— Olha. Eu não tenho tempo nem disposição para isso. Sinto muito por você ter visto aquilo. 
— E SE EU VOLTAR A VER AQUELA MERDA?! EM?! VOCÊ VAI SER A RESPONSÁVEL SE EU... 
— Me manda mensagem. 
— O QUE? 
— Se você voltar a ver aquelas coisas ou qualquer coisa do tipo, envie mensagem ou liga para mim e eu vou te falar o que fazer. 

Dito isso, S/N deu um cartão para Katsuki. Ele franziu o cenho, não em irritação, mas em dúvida. 
Observando ela se afastar, Bakugou olhou para os lados, procurando pela sombra mais uma vez. Não havia nada nem ninguém ali, ninguém no corredor vazio além dele mesmo. 


O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now