As coisas no ponto de vista da Mimi

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Dizer que eu gostava da S/N era pouco, por mim ficávamos apenas nós duas nesse mundo, independentemente do que acontecesse.

Cresci como a única mulher da casa, e não tenho lembrança alguma da minha mãe. Sendo a filha mais nova, papai me via como o ser humano mais sensível e frágil que poderia existir, mas meus dois irmãos nunca pensaram o mesmo que ele.
Inclusive, foram os meus irmãos que me ensinaram a me defender sozinha.

- Isso, é para caso um dia você se case e seu marido bata em você. - Disse Hiraku, o mais velho entre nós três. - Ele não vai te bater uma segunda vez se você matar ele na primeira.

Tínhamos de 8 a 9 anos quando nos conhecemos na nossa escola, eu havia acabado de perder uma briga para os garotos da escola vizinha. Meu rosto ardia como o inferno, e o sangue escorrendo do meu nariz só piorava toda a situação, eu não tinha a mínima idéia do que faria para esconder aquelas coisas do meu pai, seria impossível.

- Mizume? Eu vi que está machucada, então vim cuidar de você. - S/N aproximou-se de mim perto o suficiente para me fazer sentir o aroma do seu Shampoo.

Foi uma das coisas mais estranhas que já ocorreram, antes de S/N, nenhuma outra criança tinha coragem de chegar perto de mim e conversar. Normalmente, eu mesma os botava para correr. Não tinha e mínima intenção de fazer amigos na escola.
S/N vir até mim depois de uma briga tornou-se rotina contra a minha vontade. Eu mesma tentava afastá-la, mas puta que pariu, que menina insistente.
Por sentarmos uma do lado da outra, a conversa se tornou muito mais frequente.

O que eu vou fazer quando ver um colega sofrendo Bullying? Eu vou ignorar, virar a cara e fingir que não vi nada.
Isso é uma merda, hipócritas do caralho. Ver a S/N sendo humilhada quase todos os dias me dava nojo, e o pior é que só paravam em períodos de provas, pois precisariam dela para passar cola.

- Não. Ela não vai passar cola para vocês, seus merdas. - Disse furiosa, pondo-me sentada na mesa onde S/N se encontrava. Ela me olhou torto, sem entender por que me intrometi onde meu nome não foi citado.
- E quem é você para decidir alguma coisa? Ela vai passar a cola sim! E você? Você não vai poder fazer nada para impedir, ou as consequências vão cair em você e nela também. - Uma garota cujo eu não lembro nome, apontou o dedo em minha cara, afirmando uma autoridade que não funcionava comigo.
- Quem disse que vocês vão fazer alguma coisa?
- Eu estou dizendo.
- Quero ver se vai ter essa mesma coragem depois da surra que eu te der, garota!

Lembro-me de ter puxado o cabelo macio daquela menina com toda a força que tinha em meus braços, dei-lhe tapas, arranhões, chutes no rosto ao ponto de arrancar sangue de seu nariz. Eu provavelmente teria a arrastado pelos corredores, para todos verem o que aconteceria com qualquer um que mexesse comigo ou me ameaçasse, mas S/N me segurou com uma força que eu particularmente acho que nem ela sabe que tem.

- Mimi! Pare com isso! Vai ser pior para nós duas se eles descobrirem.

~ Cacete.

Eu não cheguei a pensar nisso, minha consciência e senso do que é errado não costumam funcionar bem quando estou com raiva.

Quando a soltei, a garota estava irreconhecível, cabelos embaralhadas, misturado a suor e sangue.
Os dois garotos que costumavam andar com ela mal tinham coragem de se aproximar. Aquilo, independentemente do que eu dissesse, causaria a minha expulsão.
Quando S/N finalmente largou o meu braço, ela suspirou. Pensei que estivesse decepcionada comigo, e que nunca mais me olharia da mesma forma.

Mal sabia eu que ela, na verdade, pensava em uma forma de tirar todos nós daquela situação.

- Ok. Vamos arrumar isso.

S/N arrumou os cabelos da menina, limpou o sangue misturado ao suor e fez alguns curativos. Os arranhões estavam praticamente invisíveis, nada que um pouco de pomada no fizesse sumir em um único dia.
A menina ficou obviamente furiosa comigo, embora não parecesse que fosse me atacar.

Os dois meninos se puseram na minha frente, prestes a iniciar outra briga, dispostos a me baterem tão feio quanto fiz com a sua amiga, mas S/N interviu, com uma voz muito além de séria.
Parecia querer matar alguém, e poderia ser qualquer um de nós.

- Acho melhor não fazerem isso, ou vão estragar o plano que eu tenho em mente.
- O que você planeja? - Questinou um dos meninos.
- Para evitarmos a expulsão de Mimi e de vocês dois, podemos dizer que ela apenas caiu em frente a escola, o que resultou em um machucado dentro do seu nariz e explicaria os arranhados. Eu estava passando por perto, vi a situação de seu rosto e resolvi ajudar. Depois vocês voltaram para a enfermaria, contaram o que aconteceu para ela avaliar se tem alguma lesão interna em seu nariz, apesar de não parecer tão sério a enfermeira da escola vai recomendar 2 dias em casa. A partir daí vocês que decidem para onde vão ou para que lugar. - Explicou.
- E quem disse que vamos colaborar com vocês duas? - A garota interviu.
- Você quer mesmo que a escola inteira saiba que você apanhou feio da Mimi? Não é você que é tão "respeitada" aqui dentro? - Fez aspas com os dedos. - Ninguem aqui gosta de você, eles apenas forçam amizade porque você os ameaça se não a tratarem bem. Então, vai levar meu plano a sério e ganhar doces dos alunos pelo seu acidente com mais dois dias de folga, ou vai contar tudo e perder a sua fama?

O silêncio dela foi mais do que o suficiente para todos nós ali.

- Menina... Você poderia ser bem temida na escola se soubessem o quão inteligente você é. - Disse enquanto a acompanhava de volta para casa.
- Não deveria andar comigo. Os outros vão fazer Bullying com você também. - Ela tentou desviar do assunto.
- Foda-se eles. Duvido que tenham coragem de me fazer alguma coisa, e se você passar a andar comigo tenho certeza que eles também não vão mexer com você. - Afirmei confiante.

Ela sorriu para mim, e eu sorri de volta. Aquela simples troca de sorriso foi um contrato de amizade entre nós duas, que eu não deixaria nem mesmo o diabo quebrar.
Eu não queria amigos, mas eu precisava de ao menos um para evitar que eu cometesse um crime.

- Meu pai disse que estou naquela fase de que as garotas só pensam em uma única coisa. - Disse a ela enquanto caminhávamos para a escola, semanas depois do incidente, incidente esse que resolvemos enterrar em nós mesma.
- O que? - Ela franziu o cenho. - No próprio futuro?
- Homicídio.
- Mimi!
- O que? Vai me dizer nunca quis matar alguém?

Aniversários, assim como os nomes dos meus ex colegas de turma, foram esquecidos quando fui embora, não tinha graça comemorar se S/N não pudesse ficar comigo, e também não valia a pena lembrar das brigas sozinha. Quando conheci melhor as outras garotas da nova escola, pude perceber que todas tinham alguém com quem contar.

Eu também tinha, mas ela não estava perto o bastante.

Durante algum tempo da minha vida, tive sérias dúvidas sobre a minha sexualidade. Não é difícil explicar como é, difícil é saber o que você é.
Lembro-me de ter me aproximado dos garotos da escola, só para testar, as meninas costumavam me contar muita coisa sobre as experiências que tinham. Eu escutava em silêncio, sem interromper nenhuma delas com perguntas ou qualquer coisa do gênero, sempre me sentia bastante enojada com a ideia de transar com algum garoto da minha classe, com qualquer garoto, na verdade.

Recentemente, criei coragem o bastante para conversar com o meu pai.

- Eu não sou nada e nem ninguém para interferir. Eu gosto de mulheres e você também, que mal tem isso?
- Eu não sei, papai. É algo tão complicado. Talvez eu esteja confusa...
- Ou talvez só esteja em negação. Independentemente do que seja, você é a minha filha e merece ser feliz com quem fazer você feliz.
- E se for a S/N?
- Você gosta da S/N? Ela é uma boa garota.
- Eu não tenho total certeza, acho que sim.
- Só espero que descubra logo, o tempo passa, querida. S/N gosta muito de você também, dava para ver isso nos olhos dela quando vocês duas estavam juntas.
- Então... Você acha que a gente poderá dar certo?
- Eu tenho total certeza que sim, mas querida...
- Sim?

- Não enrole muito, ela pode se cansar.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now