Eu sinto muito

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Bakugou correu pelas ruas de Musutafu, maldito dia que o despertador resolveu não tocar. Ele xingava mais do que tudo o próprio celular.

Estava frenético, tentando manter a respiração regular enquanto corria como se sua vida dependesse disso. Quis chorar, chorar como uma criança por não conseguir o que queria, chorar por ser uma pessoa horrível, chorar por não conseguir entender o sentimentos alheios e acabar machucando quem sempre o ajudava.

— Espera! - Gritou ao ver o ônibus partir.

~ Merda!

Parou de correr quando chegou no ponto. Tarde demais.
Bakugou cobriu os olhos quando sentiu as lágrimas se formarem, não queria chorar, mesmo que a culpa praticamente o espancasse.
Chutou o ar em indignação, prestes a gritar e ter um ataque de raiva, nunca se sentiu tão culpado em sua vida como agora. Sabe-se lá quando poderia ter contato com ela novamente. Ele bufa, chateado e emburrado, recusando-se a deixar as lágrimas acumuladas escaparem e molhar o seu rosto.

Quando ele finalmente se acalma, retira as mãos do próprio rosto. Demora um pouco para a sua visão se ajustar novamente à luz, mas quando o faz, o corpo imediatamente congela e o seu coração quase saí pela boca.
S/N está a sua frente, observando o ônibus se afastar, provavelmente não o notou atrás dela. Quando ela se vira, a expressão em seu rosto é a mesma que a dele.

— Você não foi embora? - Ele questinou.
— Eu deveria ir? - S/N arqueou as sobrancelhas em dúvida, não entendeu por que diabos Bakugou estaria ali, em pleno sábado às 7:00 da AM.
— Você não ia com a Mimi?
— Bakugou, de onde você tirou que eu ia embora? Não é como se eu tivesse outro lugar para ir além dessa cidade ou pra casa dos meus pais.
— A Mimi foi lá em casa ontem, disse que você ia embora com ela e que só voltariam quando você tivesse controle sobre a sua Quirk. Também disse que você bloqueou o meu número porque não queria conversar comigo.

S/N entortou um pouco o pescoço para o lado e cruzou os braços, quase rindo da "Fanfic" que Bakugou criou em sua própria cabeça. Mas quando ele citou sobre Mimi, as coisas começaram a fazer sentido em sua cabeça.
Ela riu, cobriu o rosto por uns segundos e depois o encarou.

Mimi passou a perna em você para vir até mim.
— O que?
— Mimi voltou pra cidade dela naquele ônibus ali, mas eu não ia com ela em momento algum. Olhe seu celular, eu não bloquiei você coisa alguma.

Ele pegou o celular em suas mãos e olhou direto para o contato de S/N, a foto de perfil dela continuava a mesma, sem diferença alguma. Bakugou passou de triste para zangado. Maldita hora que acreditou nela, por que caralhos ele iria acreditar em Mimi? Não era ela que o ameaçou de morte? Agora sim se sentia burro.

— Bom. - S/N suspirou. - Não precisa mais perder o seu tempo comigo.
— Espera. - Ele se pôs em sua frente quando ela tentou passar por ele. Bakugou respirou fundo, calculando bem as suas palavras e acabar não falando besteira. - Desculpa.
— Eu realmente não entendo você. Quantas vezes vai me tratar mal e achar que só um pedido de desculpas vai apagar o que você fez? Bakugou, as suas palavras podem ficar na cabeça de alguém para sempre, você tem noção disso?
— Eu sei.
— Me diga agora, tudo o que você tem a dizer a mim. Se me quer por perto, se me quer longe, quer me ajudar com a minha quirk ou me deixar para virar sozinha. Apenas diga de uma vez. - Ela foi firme em suas palavras, poderia passar o dia inteiro ali esperando se preciso.

Bakugou grunhiu, não sabia como explicar tudo, talvez as palavras fossem sair embaralhadas e ela não entenderia absolutamente nada, mas precisava mostrar que estava arrependido.

— Não foi culpa sua, nada disso aqui é. Você tem convivido com tanta coisa desde que era criança e eu só não consigo entender porque nunca foi atrás de respostas. Você se escondeu, se ocultou por medo do que as pessoas falariam para você. Eu fico bravo porque você não quer me contar a verdade.
— Eu contei. Mas quando o fiz, você disse que eu era medrosa e fraca. - As suas palavras o pegaram desprevenido. Ela nunca esqueceu, nunca esqueceria.

Katsuki engoliu a seco, mais uma vez S memória trouxe a tona momentos passados, angústias que ele achou que teria enterrado para sempre. O arrependimento sempre volta para cobrar a conta, e dessa vez o preço estava muito além do que ele poderia pagar.
Seus erros fizeram ela perder a pouca confiança que tinha nele.

— Tudo bem se você não quiser mais conversar comigo. - Bakugou deu alguns passos para frente, ficando na frente dela.

Ele encarou os detalhes de seu rosto, analisou as olheiras abaixo de seus olhos cansados.

Quantas noites ela não dormiu direito? Ela já chorou em desespero por não aguentar mais a Quirk que carregava consigo? Chorou por sentir falta de Mimi? Chorou por causa do que ele falou a ela?

Era possível contar quantas lágrimas ela derramou em seu travesseiro até dormir?

Sentimentos são coisas difíceis de assumir, difíceis de se lidar, difíceis de explicar. Podem te tornar uma verdadeira confusão quando você mesmo tenta entender o que sente.
Está claro para Katsuki o sentimento que começou a desabrochar por S/N, mas não queria e não ia admitir isso de jeito nenhum para ninguém, nem para ela, a menos que ela o fizesse primeiro.

Ela era como um fogo se espalhando pela mata, queimando e o sufocando por dentro. Ele gostava dessa sensação.
Se não conseguisse expressar em palavras, seria muito melhor apenas ações.

S/N murmurou em surpresa quando os lábios de Katsuki tomam os dela. Receoso, ele sente o coração pressionar contra o seu peito, provavelmente esperando por uma rejeição. Fosse essa rejeição um empurrão, um tapa, uma mordida em sua língua. Qualquer coisa que mostrasse que ela não o queria tomando seus lábios.

A queimação em seu peito se acalma quando ela se permite tocar as suas bochechas, levemente coradas. Seus dedos correm calmamente por sua pele quente e macia, fazendo-o choramingar com o carinho e o gosto doce que ela tinha em sua boca.

As mãos da sua amada envolveram a base do queixo de Katsuki, continuando a beijá-lo com toda a calma e suavidade possível. Ele queria segurar os pulsos de S/N acima de sua cabeça, aprofundar ainda mais seus beijos e torná-los mais rudes. Porém a delicadeza no qual ela retribuia seu carinho era viciante ao ponto de deixá-lo atordoado demais para reagir.

Seu amor é mudo, costuma ficar contido nas mais pequenas e simples coisas: nos toques. Permitindo se abrir um pouco mais na presença dela.

Quando ele se afastou, recusou as necessidades que tinha que ficar mais perto. Virou as costas lambendo os lábios, saboreando o gosto dela uma última vez antes de virar o rosto para S/N. Ela permanecia quieta, processando o que havia acontecido, provavelmente em um estado de choque.

~ Ela gostou? O que eu tenho na cabeça?! Puta que pariu! - Pensou Bakugou.

Ela não esboçou estar chateada ou rancorosa, só estava confusa. Kastuki era confuso, ele montava e se desmontava em sua cabeça como blocos de construção.

— Você quer que eu te acompanhe até em casa? - Questinou o loiro, arrancando-a do estado de choque.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora