Não me machuque, por favor.

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— O que você quer, Haru? Já não basta ter estragado meus livros ontem e hoje? Meus pais vão ter que comprar outros! - S/N gritou, impaciente com o garoto.
— Eu não... Não vi aqui provocar você.

S/N não parecesse se importar com o que ele tinha a dizer, não queria ter de ouvi-lo. Ela não o olhou de volta, entrou na fonte de água que havia atrás de sua escola e pegou o livro de geometria, que provavelmente não haveria como consertar.
Quando saiu da fonte, o livro rasgou e caiu no chão. S/N queria chorar, não de tristeza e decepção, não de medo pela bronca que ia levar dos pais ou pela repreensão que receberia dos professores, mas sim de raiva. Uma raiva que ela guardava consigo em silêncio à muito tempo.

— Uh... - Haru notou as lágrimas se formando nos olhos da menina, e se sentiu horrível sabendo que isso era por causa de seus amigos.

Quando Mimi estava por perto, ninguém dizia um único A com S/N, pois sabiam que Mimi os pegaria na hora da saída e lhes daria uma boa surra.
Sem ela, S/N não tinha mais ninguém, e portanto estava vulnerável, embora demonstrasse que não se importava com as provocações.

— Aqui. - Haru tirou os dois livros da mochila, um de geometria e outro de inglês.

S/N encarou ele, e depois olhou para os livros, eram os mesmos que haviam jogado na água.

— Posso te dar o de História e o de Filosofia, e comprar um outro caderno para você. Meus pais sempre me dão muito dinheiro, então não é problema para mim conseguir esses materiais. - Disse arrependido, com as suas orelhas de Neko encolhendo com o constrangimento.

S/N não entendeu por que ele estaria entregando os livros dele assim para substituir os dela.
No começo, para Haru, era engraçado provocar S/N porque ela não reagia e ao mesmo tempo irritava muito a Mimi. Mas agora ele não via mais graça nisso, mesmo que seus amigos continuassem com o Bullying.

— Desculpa, por favor. Eu não quero que você fique brava comigo.
— Só o de geometria já basta, o de ciências posso usar o secador, e os outros só ficaram empoeirados. Quando ao caderno, eu tenho outro em casa.

Ela se afastou, virou as costas e seguiu seu caminho. Porém, Haru ainda queria uma resposta.

— S/N! - Ele agarrou o seu pulso.
— Mas que porra! - Respondeu com um tapa muito bem dado no rosto do seu colega.

S/N esperava que o menino a batesse de volta, mas ele não o fez. Ao invés disso, ficou encarando ela, ainda segurando forte o seu pulso.
Haru abaixou a cabeça para ela, puxou a mão de S/N e a pousou sob o local do tapa, que agora começava a ficar vermelho, marcando os dedos da garota em seu rosto.

— Desculpa!
— Você enlouqueceu? - S/N recuou, tentando retirar a sua mão.
— Me perdoa por favor! - Haru se ajoelhou no chão, machucando os seus joelhos na calçada só para ter o perdão dela.

Haru se rendeu completamente, recusou-se a dar ouvidos ao seu orgulho e usou um pouco de sua compaixão para se arrepender do mal que fez à uma garota que não tinha culpa de nada.

— Se para você se sentir melhor, se para me perdoar você precisar me bater... Que o faça! Eu não me importo de apanhar por você!

S/N o olhou com desgosto e medo, ontem Haru a provocava como um demônio no inferno, e hoje pediu desculpas desesperado, agindo como um cão com o rabo entre as pernas.
Em um movimento brusco, ela arrancou a sua mão da posse do garoto e afastou-se imediatamente para que ele não a puxasse outra vez.

— Apenas me deixe em paz. - O silêncio dela era uma boa forma de confirmar um pedido de desculpas.

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Lutando contra o próprio sono e a vontade de continuar deitada, S/N andou até a pia e a encheu jogando água congelante no seu
rosto e pescoço. Ela poderia ter esquentado um pouco de água em uma chaleira, como seus pais a ensinaram a fazer, mas o frio pelo menos ajudava a despertar do estado sonolento em que estava.

Depois de lavar, S/N enxugou o rosto, passou o fio dental escovou os dentes, evitando olhar o próprio reflexo.
Ela não precisava se olhar no espelho para saber do seu estado, que com certeza poderia ser bem pior do que imaginava.

Seu corpo só despertou de verdade após um banho frio, que a fez tremer e esquecer um pouco o dia anterior. Procurou outra coisa para usar como uniforme aquele dia, visto que sua roupa do dia atrás estava toda amassada por S/N não ter se trocado antes de cair no sono.
Também não comeu nada, e seu estômago já começava a reclamar com isso. Fez ovos mexidos e comeu com torrada, o suficiente para aliviar a sua fome.

Vestiu um terno, por que não ir trabalhar um pouco diferente, não é? O comprou a poucos meses, mas nunca usou por não achar ocasião certa para isso.
Como seria o dia dali pra frente? Ela não sabia dizer, nunca soube, é engraçado a forma como as coisas mudam de uma hora para outra.

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Bakugou olhou para S/N entrar na sala, mas ela não lhe retribuiu o olhar em momento algum, ele não merecia e sabia disso.

— Bom dia. - Ela cumprimentou os alunos, sorrindo como quase todos os dias.
— Bom dia. - Os alunos a responderam em coro, todos organizando-se em suas carteiras, olhando admirados para o novo estilo de S/N.
— Tá gata em, Senpai! - Elogiou Kaminari, formando mais um sorriso sacana em seu rosto. 
— Obrigada, Denki.

Katsuki chutou a cadeira de Denki quando passou por ele, saindo do fundo da classe até o seu lugar. Com isso, o Kaminari parou de babar e sonhar acordado com S/N.
Não que ele fosse mesmo um garoto apaixonado na professora estagiária, apenas não conseguia controlar a admiração sobre a beleza da garota, mas Bakugou ficava irritado do mesmo jeito.

S/N parecia indisposta e indiferente, porém manteve-se firme nas explicações, deixando claro que ainda poderia trabalhar aquele dia mesmo que com grande tristeza.
Mesmo magoada, não iria abaixar a cabeça e dar à Bakugou o gosto da vitória, ela não ia desistir e ficar chorando pelos cantos por causa de um pirralho que não sabe lidar com sentimentos alheios.
Uma hora ou outra, Bakugou iria sentir o Karma das suas palavras e ações, e iria ter que pedir ajuda à alguém independentemente do que acontecesse.

Quando S/N encerrou a explicação, passou um dever para receber ainda em classe, mas estendeu um pouco esse tempo para receber até a amanhã de manhã.
Ela sentou-se em sua cadeira de professora e preencheu alguns dados de alguns alunos, levando em conta às observações feitas ao longo do seu tempo de trabalho por ali. A U.A achava a opinião dela essencial, não só por ser professora, mas por também ter a idade deles e entender bem a experiência de ser um aluno nos tempos atuais.

Aqueles dados seriam transferidos ao sistema, e dependendo do aluno, ele poderia ou não acabar perdendo a vaga naquela escola de Heróis. S/N não era ingênua com isso, ela sabia que tinha poder e argumentos suficientes para expulsar o aluno que ela quisesse e quando ela bem entendesse.
Aizawa foi o principal influente em dar esse poder à S/N, ele confiou que ela não iria fazer besteira com isso.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now