Tenha paciência

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Mesmo que S/N quisesse recusar o convite, teve de esperar até a chuva passar.
Mitsuki insistiu que S/N ficasse, gostou muito da presença da menina em sua casa, mesmo que não a conhecesse bem.

S/N ofereceu-se para lavar a louça, como uma forma de pagar pelo jantar daquela noite. Era engraçada a forma como Mitsuki repreendia o filho.
O pai de Katsuki, Masaru Bakugou, era totalmente diferente da esposa e do filho, parecia muito calmo e gentil em boa parte do tempo, tentando controlar a briga frequente entre eles.

Lavando os pratos, ela ouvia Mitsuki brigar com Bakugou no andar de cima, porém era levemente abafado e só conseguia ouvir quando desligava a torneira da pia.

— Mistuki, a minha esposa, se sente um pouco culpada às vezes. - Masaru se pôs ao lado de S/N, tentando puxar assunto e aliviar um pouco o clima.
— Culpada com o que?
— Com o comportamento de Kastuki, ela acha que deveria ter sido mais rígida na infância, nós só demos do bom e do melhor para ele, tudo de mão beijada.
— Uh... Ele... Não é tão ruim assim.
— Você acha? - Dizer que Masaru estava surpreso era um eufemismo.
— Pode ser um pouco difícil de conviver, mas isso não significa que ele não seja uma pessoa boa. - Tentou soar o mais leve possível em suas palavras, querendo aliviar o coração angustiado e cheio de culpa de Masaru.

Mistuki não era a única que se arrependia da forma como criou Katsuki, Masaru também tinha um papel importante na criação do garoto. Sentia-se horrível por não conseguir repreender devidamente o próprio filho.

— Eu posso ser mais rígida com ele na escola, pelo menos com seu comportamento com os outros. Afinal, isso vai para a ficha de herói dele, então ele precisa se conter um pouco, e a minha função como professora é ajudá-lo no nesse processo de evolução.

Masaru sorriu, satisfeito e aliviado por S/N ser compreensiva com ele, com Mitsuki e Bakugou. Com certeza seria uma ótima professora futuramente se assim ela quisesse.
S/N sorriu de volta, enxugando as mãos no pano de prato em cima do balcão.

— Pode deixar que eu cuido do resto. - Ele disse.
S/N acenou com a cabeça e foi para a sala de estar, sentando no sofá para esperar a chuva enfraquecer.
Não parecia que ia parar tão cedo, e estava começando a ficar tarde.

— Por que não dorme aqui em casa? - S/N não percebeu Mitsuki entrar na sala.
Katsuki estava atrás dela, com uma grande expressão de raiva no rosto, S/N esquecia que era essa era a cara normal do loiro.

— Acho que não é necessário, poderiam me emprestar um guarda-chuva? Devolvo para o Katsuki amanhã.

A expressão do garoto passou de raiva para incrédulo, ele levantou uma das sobrancelhas e cruzou os braços ainda a encarando.
Ela não entendeu o que o olhar dele queria dizer.

— Eu iria insistir, mas tudo bem. Vou pegar um guarda-chuva e a sua blusa. Não demoro.

Mistuki passou por Bakugou, sussurrando alguma coisa que S/N não ouviu. Quando ela saiu da sala, o garoto andou em passos lentos até o sofá, S/N afastou-se um pouco de onde estava, dando um maior espaço para ele sentar.

Como se entendesse o recado, Katsuki sentou-se no canto direito do sofá, ainda olhando para S/N.

— O que foi? - Ela perguntou, ciente de que Bakugou queria lhe dizer algo.
— Você me chamou de Katsuki.
— E daí?
— "E daí" que é o meu primeiro nome.
— Oh. Desculpe. Eu nem percebi isso.
— Só por que minha mãe disse para você chamá-la pelo primeiro nome não quer dizer que você deve me chamar também, porra.

Bakugou não estava realmente incomodado, S/N percebeu isso. O que ele queria mesmo era um motivo para iniciar uma discussão.
Suspirou, pensando em uma resposta no qual ele não iria responder e assim poderiam encerrar o assunto, mas não veio nada muito firme em sua mente, então optou por responder um simples:

— Tá.
— "Tá"? Como assim "Tá"? - Ele parecia mesmo disposto para discutir, talvez como um aviso de que S/N não era bem-vinda em sua residência.
— Não vou chamar mais você assim então, apenas isso.

Kastuki revirou os olhos e se acomodou no sofá, virando o rosto para o outro lado.

Tanto faz.

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S/N voltou para casa rapidamente assim que Mistuki lhe entregou o guarda-chuva. Repreendeu-se milhões de vezes no caminho por ter chamado Bakugou pelo primeiro nome, sendo que os dois só se conheciam a pouco mais de um mês.

~ Burra.

Chutou o ar com o próprio pensamento, incrédula com a própria atitude. O ódio e vergonha faziam sua cabeça girar como uma enxaqueca.

A chuva ainda caía do lado de fora, podendo ser ouvidos apenas as gotas de água acertando o teto da casa.
S/N colocou uma pequena porção de sal na porta da frente e nos fundos de sua casa como fazia uma vez a cada 3 noites, assim poderia dormir mais tranquila.

Entretanto, naquela noite, ela não conseguia dormir, ficou até depois da meia-noite acordada, olhos secos, sem sono, sem cansaço. O tédio poderia matá-la.

Tinha algo errado, muito errado, mas por algum motivo sabia que não com ela esse erro.

Olhando pela janela, encarou os pingos da fraca chuva escorrer pela sua janela de vidro. A Lua estava coberta pelas nuvens escuras, portanto quase não havia luz do lado de fora.

Ela olhou para o próprio peito, vendo-o subir e descer com a sua respiração calma e perfeitamente calculada. Quase abriu um sorriso quando se viu vestida ainda com a camisa de Bakugou.

Katsuki Bakugou, de alguma forma, achou que o garoto poderia estar enfrentando alguma dificuldade.
Sentou-se na cama, encolhendo-se envolvida com a coberta. Seus olhos variavam entre o celular e o tapete de seu quarto, deprimida e ansiosa.

Não estava feliz com o pensamento de que Bakugou estivesse com problemas, mesmo que de certa forma ele merecesse, estava aborrecida consigo mesma.

Afinal, ele merece a sua empatia e paciência? Vale a pena ajudar alguém que retribui com indelicadeza?

Kastuki foi cruel com ela, como ninguém tinha sido antes, teria sido muito melhor se ele nunca a tivesse conhecido.

Então por que se preocupava tanto?

Agarrou o celular, abrindo o contato do garoto. Eram 1:05 da A.M, e Bakugou ainda estava online. Até onde sabia, ele sempre dormia cedo.

Sem pensar duas vezes, ela ligou, e foi atendida logo após o primeiro toque. Ouviu a respiração tensa do garoto pela ligação, ofegante, assustado.

— Eu... Eu esqueci do Sal, S/N. - Ele cochichou. - O que eu faço agora?

Ele tentava se manter firme, percebeu isso através da última frase, que soou como um sussurro.

— Em que cômodo você está?
— No banheiro do meu quarto. Tem uma... Uma sombra do lado da minha cama. Não tem como eu dormir com essa merda.
— Vai pra cama, Bakugou.
— Hã?
— Vai logo. Eu vou ficar em ligação com você até você dormir.

Katsuki voltou para seu quarto, hesitante, assustado, em total pânico e desespero. Antes que pudesse encarar a sombra, que agora estava no canto do seu quarto, ouviu S/N repreendê-lo.

— Não olhe para ela, por que você olharia? Preste atenção na minha voz, Bakugou.

Ele o fez, deitou-se na cama e se cobriu dos pés a cabeça, sentindo ridículo e como uma criança assustada.

— Eu estou aqui, Bakugou. Pode dormir tranquilo, ela não vai machucar você.

S/N continuou a sussurrar palavras de conforto e coragem para Bakugou, Mimi costumava fazer o mesmo com ela quando via algo que era demais até para o seu estômago. De certa forma, ajudava, mesmo que não a livrasse do dom que carregava consigo.

Bakugou adormeceu poucos minutos depois de se cobrir, e consequentemente a sombra em seu quarto foi embora.
S/N permaneceu em ligação até as 2:00 da AM, ouvindo a respiração calma de um Kastuki adormecido, tão vulnerável como ela jamais achou que viria antes. 

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now