Uma forma de conforto

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S/N acelerou os passos pelos corredores do hospital, desviando-se das pessoas que apareciam repentinamente, fossem elas pacientes ou enfermeiros.

Segurava em sua garganta um grande nó de preocupação com Bakugou, entrou em desespero quando soube que ele havia sido sequestrado pela liga dos vilões, a mesma que atacou a sua classe meses antes.
Enquanto caminhava rapidamente, ela puxou as mangas de sua camisa, manter-se calma era uma tarefa extremamente difícil.

Respirou aliviada quando soube através de Aizawa que Katsuki foi resgatado na noite que se seguiu, mas precisava ver o estado de saúde física e mental do garoto pessoalmente.
Pediu a Mic para passar-lhe a localização, e foi o mais rápido que pôde para lá.

— Com licença, sou professora estagiária da U.A, quero saber onde está Katsuki Bakugou, é um dos meus alunos. - Ela foi direta, firme em sua voz ao pedir informações à recepção.
— Ele já recebeu alta, só está fazendo uns últimos exames. Poderia esperar aqui, por favor?
— Claro. Não estou com pressa. - Não era isso que seu corpo dizia.

Não conseguiu ficar quieta, embora ser coração estivesse aliviado ao saber que Bakugou não tinha algum ferimento externo grave, mas sua principal preocupação era com o seu estado mental, o quão afetado ele deveria estar com tudo. Estresse pós-traumático é algo muito complexo de se lidar.

Ao avistar o garoto indo até ela, S/N foi até ele, se posicionando em sua frente mas mantendo uma distância respeitável entre seus corpos físicos, embora tenha se visualizado o abraçando confortavelmente, acolhendo-o no aperto carinhoso de seu corpo.

— Bakugou.
— Eu estou bem. Você viu o jornal, não viu? - Ele a cortou antes mesmo de fazer qualquer pergunta.
— A única coisa que sei é que você está bem, não li matéria alguma.
— Você não viu... A queda do All Migth?
— Do que está falando?
— Ontem a noite foi a última luta do All Migth, ele vai se aposentar.

S/N estava tensa demais para acompanhar o jornal, então optou pro não o fazer para não ficar ainda mais ansiosa do que estava, um ataque de pânico não era o que precisava.

— Foi minha culpa.
— Não. - Ela foi ríspida. - Essas coisas acontecem, um herói não dura para sempre, Bakugou.
— Se eu fosse mais forte...
— Poderia não ter feito diferença do mesmo jeito. Pare de se preocupar tanto com isso e vá pra casa, venha, eu vou levar você até lá.

S/N o acompanhou até em casa, não disse uma única palavra depois que saíram do hospital, nada além de um aceno de despedida entre os dois.
Bakugou ficou na porta, olhando S/N se afastar até sua casa, ela não parecia se importar com nada além do estado de saúde dele.
Pensou que poderia ser um sentimento de amizade desenvolvido entre aluno e professora, já que querendo ou não, S/N demonstrava muita preocupação com seus alunos.

Seu peito apertou por conta da indiferença. Nunca desejou tanto um abraço em sua vida.

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S/N caminhou até a sala de reforço carregando seus livros nos braços, começando a sentir um desconforto em seus braços com o peso incomum.
Ao longo do corredor, ouviu os passos apressados de alguém se aproximando dela.

— Senpai! - Izuku Midoriya gritou enquanto corria, parou em frente a ela quase se esbarrando. - Preciso de ajuda!
— O que aconteceu?
— Você sabe que eu e o Kachan, a gente err... ficou um tempo em suspensão devido...
— A briga completamente idiota e sem sentido entre vocês dois? É. Eu sei sim.
— Eu perdi muita coisa? Você que cuida da parte teórica da nossa classe, então Aizawa Sensei disse que eu poderia conversar com você a respeito. Então... Poderia me dar um reforço?

S/N pensou em recusar o pedido, talvez como uma forma de aumentar o castigo. Porém, não queria prejudicar o doce menino que tanto se esforçava para ficar bem em suas notas.
Nas disciplinas de S/N, ela notava o esforço e motivação de Izuku, além de sempre procurá-la para perguntar sobre o assunto da próxima aula ou tirar uma dúvida que surgiu em sua mente depois da aula.

— Por mim tudo bem. - Ela sorriu, e Izuku pareceu muito aliviado com isso pois pensou que ela não perdoaria sua irresponsabilidade.
— Senpai, você é mesmo um anjo. - Izuku pegou mais da metade dos livros que S/N carregava, aliviando seus braços cansados e doloridos.
— Você parece ter aprendido a lição, mas tome muito cuidado para não ocorrer de novo, Izuku. Acredite, nós professores avaliamos muito cada ação de vocês, e isso pode prejudicá-los muito se quiserem ser bem aceitos em alguma empresa.

S/N estava mais do que certa em alertá-lo disso, e o Midoriya agradeceu muito. Aizawa nem sempre alertava sobre algo, mais uma grande diferença entre os dois como professores.
Izuku sorriu aliviado e concordou com ela.

— Sabe algo sobre Bakugou também querer um reforço?
— Eu fui atrás dele para saber, mas ele não parecia muito interessado em conversar comigo. É difícil lidar com Kachan às vezes.
— Vocês dois parecem bem próximos, fora que você deu um apelido a ele, são amigos de infância?
— Quase isso, mas ele não me considera assim.
— Por que não?
— Bem... Err... - Izuku empalideceu. - Eu disse à ele que não tinha uma quirk. - Ele foi rápido em sua resposta.
— Uh...

S/N ficou procurada, qualquer pessoa que não conseguisse bater de frente com Bakugou ele considerava fraco, e imaginou Izuku nunca ter reagido para confirmar a sua mentira.
Ela só não entendia o porquê, tinha algo muito mal contado nessa história, mas não questinou por não saber ao certo a história por completo.

Para uma história ter um contexto, heróis, culpados e vítimas, todos os lados devem ser ouvidos, independentemente de quem fossem os envolvidos.
S/N acreditava que para toda ação haviam consequências e motivações. Se Izuku estava mentindo, tinham circunstâncias por trás.

— Ele fez Bullying com você, não fez? - Era óbvio que sim.
— Eu não considero Bullying.
— Se há humilhação e desconforto, é Bullying sim, Izuku.

O garoto baixou um pouco a cabeça, talvez trazendo à tona as lembranças ruins que o amigo de infância lhe causou.
S/N arrependeu-se por um minuto do que tinha feito, colocou os livros na mesa e esperou ele fazer o mesmo. Izuku de mantinha ainda com a cabeça, refletindo sobre o que a professora havia falado com ele.

As noites, ele lembra de ter chorado algumas vezes até dormir, das vezes em que foi levado à um psicólogo por sua mãe e os remédios controlados que teve de tomar mesmo não passando de um jovem de 13 ou 14 anos.
Izuku sentiu um corpo quente o aquecer, S/N o acolheu em um abraço apertado e levemente hesitante. O garoto se sentiu estúpido por isso, mesmo que estivesse surpreso com o toque repentino.

S/N o sentiu se apertar em torno dela, molhando seu ombro com lágrimas que ele não conseguiu segurar por muito tempo. Ele fungou, tossiu e engasgou, mas não a largou em momento algum.
A única vez que ele lembra de ter recebido esse tipo de afeto era da própria mãe, a única que o viu vulnerável desse jeito.

Era um conforto familiar que ele não sentia mais a algum tempo.
Sentiu-se como um menino chorão e mimado, mas S/N não o via assim. Izuku era um menino que precisava de carinho assim como muitas pessoas pelo mundo, e se precisasse, S/N iria lhe proporcionar quantos abraços como este ele quisesse receber.

Todo mundo precisa de ajuda algumas vezes.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now