Caminhando pelo inferno

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Katsuki caminhava até sua casa como nos dias anteriores, ainda lembrando dos olhos de S/N. 

Na sua mente, S/N precisava ouvir umas verdades de alguém, e se os seus pais não o fizeram quando ela era criança, ele faria isso agora. 

Não se importava, porém detestava gente fraca perto dele. 

Levantou o olhar, ar de um homem vitorioso. 

— ... Não deveria ter pulado. 

Ele parou. 

Isso havia sido um... Sussurro? Sabia que não estava louco. Ele realmente sabe o que ouviu.
Foi perto o bastante para saber que não estava sozinho, embora a rua estivesse vazia.

Pular? De onde exatamente? 

— ... Mamãe! Papai estava bêbado e me bateu de novo!

— Eu preciso de... ajuda... por favor?
— É culpa minha.  

O que estava acontecendo? Não sabia explicar. De um segundo para o outro, ele simplesmente passou a escutar vozes vindo de direções completamente diferentes.

Seus olhos correram de um lado para o outro, ainda a procura de qualquer outra pessoa.
Como imaginou, a rua de sua casa estava totalmente desocupada, nenhum ser vivo caminhando por lá além dele mesmo.
Arrepios esquisitos subiram pelo seu corpo, ele gruniu em resposta.

Quando piscou, passou a ver pessoas passando por ele. Não... Não era pessoas. O que ele estava vendo não eram humanos. 

Seu coração quase atravessou seu peito quando uma sombra escura passou por ele, atravessando seu corpo como se ele não existisse. A sombra o ignorou completamente.

Quando percebeu, uma criatura passava a seu lado. Depois, outra e mais outra. Todas tão silenciosas que nem mesmo seus passos faziam barulho. Continuou andando sem erguer os olhos, mas tinha certeza: estava caminhando pelo inferno.

Um arrepio desagradável percorreu toda a sua pele. Detestava admitir, mas estava com medo, muito medo. Sentia muitas pessoas cruzando seu caminho, era demais até para ele suportar.

Havia um grito entalado em sua garganta.

Elas não desviavam. Nem ele. Cada criatura que o atravessava, era como uma lufada de vento frio que o fazia tremer em arrepios desconfortáveis.
Para piorar toda a situação que já não era a mais agradável possível, quanto mais se aproximava do centro do grupo, o medo ia se espalhando e tomando todo o seu corpo. Aos poucos, toda a emoção de terror se fortalecia como nunca antes.

Curiosidade, mas ainda receoso com a vontade de continuar caminhando, sem parar, sem sentir, sem pensar.

Seu desejo era se esconder entre as cobertas de sua cama.

Ali, no meio delas, percebia a terrível energia que emanava de suas almas. Katsuki se perguntou como S/N conseguia aguentar aquilo tudo todos os dias durante anos de sua existência, e assim mesmo agir normalmente sem perder a sanidade.
Julgou mal a menina, agora ele admitiria isso.

Quando chegou em frente à sua casa, o medo se dissipou, não notou mais nada além dele mesmo.
As coisas que vira sumiram de sua visão, em um minuto se sentia péssimo e no outro todas as emoções sumiram de uma só vez.
Ele ficou lá, parado, processando tudo que tinha acabado de ver.
Sua mente estava um turbilhão.

Pela janela, Mitsuki Bakugou, a mãe de Katsuki, não deixou de reparar no filho que permanecia na calçada, parado, parecia em choque com alguma coisa.

— Katsuki? O que está fazendo aí fora?

O rapaz acordou de seu devaneio, franziu o cenho e virou-se para encarar a sua mãe abrindo a porta da frente.

— O que é? - Perguntou furioso.
— Eu que te pergunto! Tá aí fora parado faz uns 10 minutos, que foi? Esqueceu a chave de casa por acaso seu lesado?
— Querida, os vizinhos vão... - O marido de Mitsuki saiu de casa, vendo o filho e a esposa gritando um com outro por pura besteira de novo.
— Não se mete! O assunto não diz respeito à você! - Ela o cortou. - Entra pra casa, Katsuki! Agora!
— JÁ ESTOU INDO, PORRA!
— NÃO FALA PALAVRÃO COMIGO SEU FOLGADO! SÓ NÃO TE CHAMO DE FILHO DA PUTA PORQUE A TUA MÃE SOU EU!

Katsuki entrou em casa, confuso demais para responder aos gritos e repreensões da mãe. Gostaria de afastar essas divagações e esses pensamentos curiosos que o torturavam.

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19:20 - Ele olhou a hora no celular. Já estava pronto para dormir, porém encarava o número de S/N em seu telefone.

Não sabia que devia mesmo contar a ela o que havia visto no caminho de casa, não depois do que havia falado a ela no mesmo dia.
Receoso, ele ligou.
O celular deve ter dado três ou quatro toques, até que S/N atendeu.

Sendo sincera, o celular estava em sua mão, mas ao ver que quem a ligava era Katsuki ela repensou se deveria mesmo atender ou simplesmente ignorá‐lo.

— O que quer, Bakugou? - Questinou tomando um gole do seu refrigerante.

Houve um silêncio na chamada por alguns segundos.

— Bakugou? Você está bem? - Nada.

S/N ficou levemente preocupada, ele não respondia, apenas ouvia a sua respiração tensa através da chamada e nada mais do que isso.

— Você disse que sal os afasta, não é? - Ele perguntou.
— Sim. Oh... Então você...
— Não é isso. - Ele a cortou. - Não vi, mas isso não significa que eu vá querer ver um deles.
— Você tem certeza de que não viu nem ouviu nada?
— Absoluta. - Mentiu, para manter intacto o seu ego.
— Sendo assim... Separe sal em um recipiente, pode ser uma xícara por exemplo. Depois deixe-o na porta da sua casa ou na janela do seu quarto, troque o em no mínimo 3 dias. Entendeu?
— Sim.
— Era apenas isso?

Engoliu seco, queria e também não queria falar o que vivenciou. Se o fizesse, sabia que S/N o ajudaria lidar com tudo isso. Entretanto, também teria de admitir que ela estava certa.

Pensou uma, duas, três vezes em possibilidades diferentes, e mais escutou o seu orgulho de herói falar mais alto.

— Sim.

Não houve resposta.
No fundo de sua consciência havia um alerta: Algo aconteceu, e foi forte o bastante para Katsuki ligar só para ter a certeza de como afastar essas coisas.
Pelo pouco tempo que o conhecia, sabia que ele não falaria nem se ela fizesse ameaças de morte contra ele (Não que ele fosse levar a sério).

Seu dedo foi direto para o botão de encerrar a chamada.

Um sorriso surgiu em seu rosto de forma involuntária. Havia alguém que acreditava nela além dos seus pais, mesmo que esse alguém tirasse onda de sua cara por isso.

E agora, esse mesmo alguém poderia ver o mesmo que ela, embora durasse pouco tempo e ambos não soubesse como o quando ocorreria.

Não se sentiu totalmente maluca.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Where stories live. Discover now