Gostaria de voltar atrás

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Mimi estava mais do que decidida a tentar uma última coisa, algo que definisse se a paixão pela amiga era verdadeira, ou se só estava confusa com os próprios sentidos.
Sua respiração é suave como um sussurro enquanto S/N dorme ao lado de Mimi, os sopros suaves de sua respiração pressionam contra sua nuca.

— S/N? S/N? Está acordada? - Mimi remexeu-se um pouco na tentativa de acordar S/N.
— Hum... Sim? Sim... eu estou... eu acho... - S/N respondeu em um sussurro, embriagada com o sono e cansaço.
— Escute... Eu tenho uma pergunta para você. - Soltou-se de seu abraço, pondo-se sentada na cama.
— Pergunte.
— Você acha que... bem... - Mimi aqueceu a voz. - Acha que nós duas poderíamos dar certo?
— Em que sentido?
— Namoro...

S/N despertou com esse questionamento, apoiou as mãos na no colchão e se pôs sentada na cama. Ela colocou o travesseiro na sua frente, abraçando-o em busca de consolo consigo mesma.
Um frio horrível havia tomado o seu estômago.

— O que quer dizer?
— Acho melhor fazer.

Assim que seus lábios estão nos dela, logo na primeira vez, S/N consegue retribuir. Embora seja de curta duração, o beijo, o primeiro beijo, é tão incrivelmente cheio de sentimentos mistos. Medo, amor, receio, desejo.
Durante todo o tempo, suas mãos nunca a deixam, muito lentamente percorrendo sua barriga e em seguida agarrando a sua cintura, explorando o interior de sua boca.

Sua falta de experiência mostra como ela estremece à mais leve provocação de seus dedos. Como seu corpo está constantemente procurando por mais.  
Mimi para, respira, e hesita. Está com um leve desconforto na base do estômago.
Não é por causa de S/N, mas agora ela tem certeza do que estava sentindo.

Nada mais do que apenas desejo, não seria capaz de amar S/N como ela merecia. Gostava sim, ah... Como gostava! Mas não era o bastante para manter uma relação amorosa fixa e segura para as duas.

— Desculpa, não é isso que eu realmente quero. - Mimi rolou seus dedos nos lábios recém molhados de S/N, percorrendo seu olhar em seu rosto, explorando o que ela poderia estar sentindo.

Ela estava brava? Decepcionada por não ter sentido o que esperava? Estava triste? Ou para ela não importava?
Diferente do que Mimi esperava, S/N sorriu, cobriu a boca contendo a risada e olhou inocentemente para a amiga. Aquela expressão dizia milhares de coisas, incluindo que estava grata por ela ter tomado a atitude.

A tempos a mesma dúvida percorria a memória de S/N, mas especificamente depois que Mimi havia ido embora. Gostava de Mimi? Sim! Estava óbvio que sim! Mas não era o bastante para sustentar um amor de verdade.

Obrigada Mimi. Por tudo!

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— Bakugou! Espera por mim! - S/N correu para acompanhar o garoto.
— Hã? Tsc. Você outra vez?
— Você tá agindo estranho desde que conheceu a Mimi.
— A sua amiga me dá arrepios. Aquele olhar de raiva dela... É como se quisesse me ver morto. - Bakugou foi sincero.
— Ela realmente quer matar você, mas não se preocupe, ela não vai fazer nada.
— Nada além de me xingar?
— Acho que ela também não vai xingar você. Bom... Não em voz alta.

Os dois caminharam em silêncio, S/N sorria feito boba aquele dia, o que fez Bakugou ficar bastante curioso com o motivo da sua felicidade.
S/N olhou para ele sorrindo, mas ele permaneceu com as sobrancelhas franzidas. De um segundo para o outro a expressão dela mudou, ficou neutra e depois pareceu ficar em pânico.

— Bakugou! - Ela gritou, puxando-o com toda a força que tinha para não atravessar a rua.

Não deu tempo de reagir, Kastuki sentiu um vento frio e forte correr pelo seu corpo antes de cair com tudo no chão junto de S/N.
Sua respiração parou por um segundo, as coisas pareceram ficar mais escuras. Vultos surgiram do nada entre os dois, sussurrando muitas coisas ao mesmo tempo, coisas que ele não poderia entender.

Os seres escuros os cercaram e ele entrou em pânico, sentiu um grito de pavor se entalar em sua garganta, resultado do próprio medo.
Percebeu que S/N segurava forte a sua mão, tentando manter o olhar dele nela.

— Bakugou? Bakugou! Você está bem?!

Ele voltou a respirar quando soltou a mão dela, e os seres escuros repentinamente sumiram de sua vista, assim como os sussurros não eram mais audíveis para ele.
Bakugou entendeu, finalmente entendeu.

S/N fazia as pessoas verem o mesmo que ela a partir do toque.

Mesmo assim, questionamentos surgiram em sua mente, como no dia em que discutiram e ele testemunhou o mesmo que ela minutos depois. Em sua cabeça, ela fez de propósito.

— Bakugou?! - Ela gritou em seu ouvido.
— O que?! Que merda você fez?!
— Hã? Você não ouviu o carro? O cara estava vindo a toda velocidade na nossa direção e teria matado à nós dois se eu...
— Não é disso que eu tô falando! Tudo o que vocês fez... Eu sabia!
— Do que você está falando?
— Da porra da sua Quirk, S/N! É disso que eu tô falando! Você com certeza sabia desde o início, não é? Sabia que poderia fazer as pessoas verem a mesma coisa que você em um único toque! Não é?
— Eu... Fiz você ver as...
— As sombras! Sim! Eu as vi! Você está vendo elas agora, não está?! - Ele riu, debochou da garota. - Eu sei que está!
— Bakugou... Elas vão me seguir até em casa se você não parar com isso.
— Que se foda! Eu espero que elas atormentem você até a porra da sua morte!

S/N engoliu seco, arrepiando-se dos pés a cabeça vendo as sombras ficarem ao redor dela o tempo todo. Sorte que não havia mais ninguém na rua além deles dois, ou poderia ser bem pior no final das contas. As pessoas olhariam, e atrairiam mais deles.

~ Ignore, ignore, ignore...  - Pensava consigo mesma, ouvindo Bakugou gritar e gritar com ela repetidas vezes.

As palavras do loiro iam e voltavam em sua cabeça repetidas vezes, sem entender por que ele estava tão irritado com ela. Fazer as pessoas verem o mesmo que ela em um toque? Isso não fazia o menor sentido, Mimi e seus pais também teriam visto se fosse assim.
Então por que? Por que?! Nada fazia sentido.

S/N prendeu a respiração para conter aquele peso crescente que ela não conseguia superar. Não conseguia puxar o ar, não conseguia soltar o ar, havia somente esse sufocamento
causado pelo ar parado entre os dois.
Seus olhos arderam, lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos. Começou a se amaldiçoar por estar chorando, ainda mais na frente dele, e por causa dele.

A expressão de raiva e indignação de Bakugou se desfez, dando espaço a uma confusão crescente em sua mente.
Mesmo com os gritos que ele dava, S/N não chorou o seu assustou, na maioria das vezes não esboçava emoção, e as vezes até o respondia.
Conviviam a quase um ano, mas nunca, nunca a viu chorar em sua vida.

Desejou voltar um pouco atrás e deixar ela falar, não gritar com ela, explicar a situação e os dois poderiam entender juntos aquilo tudo. Voltar só alguns segundos, e assim evitar que ela chorasse.

S/N se afastou, colocou a mão em sua boca e soluçou, retornando o caminho de casa. Não iria mais para a escola naquele dia, não desse jeito, não com esse humor.
Se ficasse instável desse jeito, sabe-se lá o que poderia acontecer.

Foi embora sem olhar para trás, deixando Bakugou com o próprio arrependimento. 

(Ps: Tenham paciência)

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora