4 - O Despertar de Dor

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  O frio atravessou meu estômago numa rajada e então eu dei um chute no ar involuntariamente, engasgando pronta pra gritar quando percebi o inimaginável, eu não estava caindo, era só um sonho. Outro maldito sonho! A bile roçou na garganta e eu me inclinei levemente para o lado, jogando o que restou do meu estoque de alimento estômago a fora.
  Nauseada eu voltei para a mesma posição que estava, esperando Jong Up aparecer de novo, dizer que ia me resgatar e então cair sozinha no desfiladeiro.
  E eu esperei, esperei, e esperei.
  Foi quando eu percebi que não estava mais naquela caverna do pesadelo recorrente, estava de novo no galpão, velho e empoeirado, mas não havia mais ninguém aqui, eu estava sozinha dessa vez, a não ser pelo som inconfundível de ondas se quebrando em rochas. Bom pelo menos por enquanto.
  Será que eu ia cair do precipício de novo?
  Olhei em volta mais um vez, me certificando que nenhum daqueles chupa-cabra/lobisomem estava por perto, quando tive certeza de que estava literalmente sozinha pelo menos naquela parte do galpão, eu levei os pulsos até a boca, estavam vermelhos e lacerados, bastante inchados com o impacto das cordas me apertando, podia notar habilmente também que meu raciocínio estava lento, eu estava com fome, muita fome. E estava fraca demais pra tentar movimentar a cabeça. Por quanto tempo será que eu dormi?! Eu realmente estou acordada dessa vez??
  Desisti de tentar chegar a uma conclusão, meu corpo estava desidratado e eu não consegui focar em nada por muito tempo.
  Com a fraqueza instalada em cada nervo e neurônio eu me belisquei, e senti uma ardência profunda na mão com o beliscão aplicado. Doía de verdade, mas eu ainda não tinha certeza que podia estar acordada, até...
  O cheiro, quase como aqueles desenhos que a fumacinha branca do bife com cebolas sendo preparado meio dia quando todo mundo estava com fome veio de encontro ao meu nariz, mas não era cheiro de bife que eu estava sentindo, mas sim o cheiro de alguma coisa adocicada e metálica. Sangue.
  Conseguia sentir seu cheiro à distância.
  Meus sentidos ficaram um pouco mais espertos só de imaginar aquele gosto na minha boca. A sensação de obte-lo quente direto da jugular de uma pessoa...
  Tinha alguém se aproximando, pude saber sua localização antes mesmo dele aparecer na minha frente, e como eu sabia que era ele e não ela não fazia mais diferença. O cheiro estava entrando pelo meu nariz com tanta força que parecia violento demais para ser sangue humano.
  E ele não era humano.

- Jong Up on-

  - Mark! - Dei um chute no pé do rapaz vendo se ele se mexia, e fui correspondido por um resmungo incoerente, meu peito se encheu de alívio, tínhamos chegado a tempo, as coisas ainda não tinham comido os órgãos deles! - Mark levanta! Não é hora pra tirar soneca, temos que sair daqui! - Dei outro chute e dessa vez Mark arquejou se encolhendo involuntariamente. Deu para notar pelo modo como ele levou as mãos até a cabeça alarmado que tinha se assustado. Bom eu não iria acordar ele com beijinhos.
  - O quê? Cadê a Alícia? - Ele indagou num engasgo e então levantou a cabeça para me fitar descontente - Porque você ainda está vivo e por que eu estou preso? - Ele começou a ficar irritado.
  - É, pelo visto os seus sonhos estavam sendo bons não é mesmo, pelo menos pra você. - Retruquei desgostoso e bati com a turquesa nas correntes, estourando uma a uma para livrar as mãos do rapaz.
  - Mas o quê..?! - Ele começou outra vez e eu ameacei acertar a cabeça dele com a turquesa.
  - Acorda princesa, eram só sonhos, agora cala a merda da boca e vamos antes que uma daquelas coisas voltem e nos achem, precisamos ir atrás dos outros.

- Alícia on-

  - Tae... Tae acorda Tae! - Chamei chaqualhando os ombros do anjo na minha frente, ele parecia intacto dos últimos seis dias em que a cidade se tornou um borrão de decência para um completo caos no lugar.
  - Tae vamos, não temos muito tempo...! - Chamei outra vez, os trapos de roupas que ele estava vestindo eram a única coisa que relatavam que tinha passado mais que uma semana ali, ele parecia ter sido posto pra dormir hoje, não tinha nem mesmo um arranhão.
  - Mally... - Ele abriu os olhos, aquele misto de azul e cinza se encontrando com os meus e então ele empalideceu como se tivesse visto um fantasma.
  - Tae é a Alícia, você já vai ver a Mallya, mas primeiro precisamos sair daqui tabom. - Conversei com ele, olhando no fundo de seus olhos, tentando entende-lo, vendo se estava raciocinando minhas palavras, se estivesse fraco eu teria que tirar ele daqui nem que fosse arrastando. Assim que ele assentiu com a cabeça e seus cabelos balançaram eu comecei a cortar uma a uma as correntes em volta dele. Até que ele estivesse completamente livre.
  - Cadê a Mallya Alícia? - Ele indagou, ainda atônito, mas não parecia grogue o bastante para não se levantar e se mexer.
  - Pronto, você está solto, agora temos de ir! - Comentei largando a turquesa no chão, - Você consegue se levantar? Acha que tem forças para correr? - Comentei já me preparando para levantar, mas não tive tempo direito, assim que comecei a me afastar, Tae que percebeu que estava liberto avançou em cima de mim.
  Levi tinha dito alguma coisa antes de sairmos da praia sobre não soltar os prisioneiros antes de ter certeza que estavam em seu juízo perfeito...
  Tentei segurar as mãos de Tae, fazendo o máximo de esforço para não o machucar, mas não deu nem tempo de acompanhar e a mão em cheio do Tae acertou a minha cara.
  Ele se pois sobre mim, seu corpo ossudo e pesado contra o meu me fez encolher com a dor na face, e então recebi outro bem abaixo das costelas. A mão fechada dele parecia um martelo esmagando meus ossos. Lembrei que não podia perder a noção, era um péssimo momento para perder as estribeiras e se transformar.

Prison IVWhere stories live. Discover now