32 - O Carro

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  Engoli em seco sentindo cada parte do meu rosto avermelhar por completo. Me sentia quente como se tivesse comido pimenta e a relutância do meu corpo em se afastar de Levi para se cobrir fez minhas partes reclamarem. Eu queria mais, e agora, interrompidos e angustiados, Levi se vestiu e eu também. E nos juntando a um Tae e uma Mallya bem curiosos enquanto nos reunimos para tomar café, tentando disfarçar o constrangimento como se nada tivesse acontecido.
  - Que bom que estão juntos. Isso explica porque a Alícia está tão ciumenta. - A Mallya riu fazendo um comentário pra quebrar o silêncio quando finalmente estávamos todos juntos comendo o que tinha restado do cervo assado da noite passada e eu engasguei com um pedaço de carne enquanto Levi abria aquele sorriso simpático de sempre.
  - Deixa em off isso. - Ele sorriu com os olhos com aquele ar doce e agradável que distribuía pra todas e eu me senti enjoada. Queria uma confirmação talvez...?
  Eu sabia que ele não se importava de verdade, não é. Estávamos ficando. Eu precisava entender que não havia sentimentos envolvidos antes que pudesse me machucar. Ou será mesmo que estava me apaixonando sozinha? Será mesmo que eu ia me machucar? Levi sempre parecia tão... Ele se importa, lá no fundo ele se importa.
  Desviei o olhar para a Mallya, tentando focar em outra coisa e perguntei o que afinal estava deixando todo mundo intrigado. A Mallya não tem muito costume de acordar cedo. E ela se levantar com o sol nascendo é novidade.
  - Por que você está acordada tão cedo? - Indaguei tentando soar o mais amigável possível e ela segurou uma risada. Tae parecia completamente alheio a qualquer coisa que eu dizia. Parecia estar com a cabeça bem longe e preocupado o bastante para não acompanhar o ritmo que aquela conversa estava tomando.
  - Eu tive um pesadelo. - Comentou a Mallya e eu fiquei impressionada. Não me lembro da última vez que ela pudesse ter tido um. E olha que faz tempo... Quase como se tivesse alguma coisa errada.
  - Nossa que estranho. - Ponderei observando para ver se Levi ia dizer alguma coisa, mas ele estava atento a nossa conversa enquanto comia mais calado que passarinho preso em gaiola. Não pretendia manifestar sua opinião tão cedo, e eu não sei se estava com vergonha, ou se só estava com fome mesmo por isso comia com tanto afinco.
  - Eu acho que podia ter sido uma conexão. Jimin talvez tenha conversado com a Mallya conectando os dois ao seu campo de visão pra que alguém denunciasse o que estava acontecendo. Eles foram pegos pelo Jackson. Tiveram uma emboscada que comprometeu a missão deles. - Tae que até então parecia enclausurado resolveu se manifestar para compartilhar o que pensava com a gente. - E se ela estiver certa no que viu, Arak está morto a pelo menos algumas horas já. Quanto aos outros não tem como ter certeza de nada. - Meu coração se esmagou dentro do peito. Mark! Jackson estava louco para colocar as mãos nele, Suguinha e Mark devem ter se tornado brinquedos nas mãos daquele cretino desgraçado.
  Comecei a me perturbar internamente, ainda tentando assimilar melhor o que poderia ter acontecido, e se foi só um sonho? Nossas cabeças estavam confusas por causa da bagunça que os gnomos fizeram, as vezes aquilo era a obra de algum duende, por que não?
  - Você pode ter razão. - Quem ponderou foi Levi, observando atentamente as reações ao seu redor, de nós, tirando o Tae que na maioria das vezes não sabia muita coisa, Levi entendia mais desse mundo do que nós. Ele tinha terminado seu café da manhã e estava desenhando alguma coisa próximo a areia nos seus pés - As ninfas tem a capacidade de invadir a mente de qualquer um e se infiltrar no corpo, na mente e até no coração de alguém. Elas tem muitas capacidades mesmo. Principalmente uma rainha, as rainhas sempre são mais fortes, já que são as criaturas mais poderosas. Porém eu nunca ouvi falar de alguém chamar ela e ela sonhar com aquilo. Isso é completamente novo pra mim.
  - Estranho... - Comentei olhando de Tae para a Mallya, eu estava tentando focar no problema, mas a ideia suave que começou a se desenrolar na minha mente com aquelas palavras todas fizeram eu ter vontade de coisas além do possível. E tinha alguma partezinha da minha mente começando a ficar aflita, martelando meu peito e acelerando os batimentos cardíacos com uma pressa quase maligna.
" As ninfas tem a capacidade de invadir a mente de qualquer um e se infiltrar no corpo, na mente e até no coração de alguém", e então meus pensamentos se aventuraram para outro lugar, foi inevitável olhar para Levi, que levantou depressa limpando as mãos na parte de trás da calça para tirar o que pudesse ter sobrado de areia ou qualquer outra coisa, enquanto eu me proibia de pensar no que estava pensando naquele instante. Que talvez, só talvez, mesmo que Levi não me amasse, eu teria que descobrir como uma ninfa pode se infiltrar dentro do coração de um homem. Ele iria me amar, mesmo que eu tivesse que encanta-lo para isso.
  - Vamos depressa. Se aconteceu alguma coisa e chegarmos lá antes do que o esperado, Jackson não vai ter tempo suficiente de esconder todas as evidências do que acabou de fazer.
  Disse ele e começou a ir em direção as barracas para desarmar e começar a se apressar para continuar a jornada. Engoli depressa o que restou do meu café da manhã e me juntei a ele logo em seguida. Dando uma última olhada em seu desenho rabiscado na areia, era uma  caricatura rabiscada, parecia o gnomo que nos ajudava, mas estava borrado demais para termos alguma certeza. Merda eu esqueci que ele gostava do Arak...

  Depois de algumas horas, tínhamos passado as últimas partes que faltavam da clareira e da trilha. Sabíamos que em breve chegaríamos a outra parte da floresta onde estava o nosso objetivo, mas algo estava estranhamente normal naquele lugar. Não havia sinal de nada e nem de ninguém. Como estávamos demorando demais, a Mallya teve a brilhante ideia de nos transformarmos, afinal lobos e criaturas com asas vão mais rápido que formas humanas.
  Ela se transformou naquela fera incrível cheia de características, como se tivesse as asas de um dragão, Levi e eu nos transformarmos e Tae que perdeu no Jó quei pô abriu as asinhas de anjo e carregou nossas mochilas.
  E ela estava certa, avançamos mais rápido, segurei a força o receio de andar perto do Levi com ele transformado, de dia era pior do que a noite, não tinha como se esconder da fisionomia dele entre as sombras.  Tentando focar o mínimo possível em sua aparência, que a Mallya parecia estar adorando aliás, fomos todos andando e voando mais da outra metade do que faltava pelo nosso caminho de árvores e arbustos estranhos.
  Até finalmente chegarmos onde devíamos. Os carros. Ou melhor dizer, apenas um carro. Não sabíamos o que tinha acontecido com o outro, mas o que sabíamos é que pelo caminho não havia ninguém, nem mesmo sangue. E onde estávamos agora que tínhamos acabado de chegar não deixava nem mesmo sinais de que alguém passou por aqui.

Prison IVWo Geschichten leben. Entdecke jetzt