15 - Noite em Claro

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  Os cabelos estavam louros e a sensação de que ele estava irritado estava pairando no ar como um clima pesado, eu não sabia dizer se era só parte da minha imaginação criando coisas ou se era real. O que será que havia com ele. Não estava assim quando eu saí da mesa de jantar antes de ir tomar banho...
  Fiz uma careta pra ele e fui até a geladeira coçando os olhos num impulso nervoso assim que tive um flash com uma lembrancinha do Levi me pondo contra parede no banheiro. Um frio percorreu meu ventre e eu engoli em seco.
  - Vai me contar o que está acontecendo Alícia, ou vai fingir que eu não existo como você está fazendo desde que fomos resgatados? - Mark Indagou me fazendo lembrar que ainda estava ali e eu senti as bochechas queimarem, estava pensando em Levi. Em como me deixava maluca com seu toque na minha pele. E como estávamos com o mesmo cheiro depois daquele banho. Me sentia uma adolescente tão boba, aquilo tudo até tinha a capacidade de me fazer esquecer um pouco os casos que se desenrolaram, e a caçada feroz que enfrentariamos atrás do Jackson em alguns dias...
  - Não sei, ainda não me decidi, mas prometo que te aviso quando tiver uma decisão concreta. - Abri um sorriso sínico em sua direção, tentando focar na tarefa que vim realizar na cozinha e Mark levantou da mesa, o corpo alto parecia mais velho naqueles jeans surrados, a camiseta de esportes que ele estava usando também não colaboravam muito com ele. Continuava bonito, os braços bem definidos e o corpo estava atlético, mas estávamos cansados, todos muitos cansados e isso estava desgastando todos nós, até nossas aparências, eu já não me reconhecia direito quando me olhava no espelho.
  Mark principalmente, parecia ter envelhecido anos apenas naquelas duas últimas semanas. O rosto estava tão cansado e com marcas de expressão que eu podia jurar que ele não tinha mais a minha idade, podia ser pelo menos uns quatro anos mais velho... que nem Levi... Levi era oito anos mais velho que eu. Não era tão velho, mas era um homem maduro o bastante, diferente de Mark que já se ressentia por qualquer coisa, isso quando não estava ocupando-se enquanto arquitetava a morte da Mallya. Ou até mesmo do Tae, só ele sabia como estava com um alvo nas costas perto daquele psicopata.
  - Achei que nos amávamos... E tudo que vivemos no meu reino? Aqui em Helltown? - Mark veio até mim na geladeira e eu me esquivei dele indo até o balcão com um pote cheio de biscoitos de chocolate e uma caixa de leite. Enchi um copo com o conteúdo branco e quando me virei para o lado para pegar um prato para por os biscoitos do Arak, Mark surgiu na minha frente. - Foi mentira? - Mark me cercou com aqueles olhos inquisidores, o mesmo olhar que sempre fazia pra me seduzir, agora carregado de mágoa e lá no fundo o que parecia ser um pouco de insegurança, e eu engoli em seco pegando um prato no armário atrás dele onde o mesmo permanecia escorado - Fala pra mim que não sentia nada Alícia?
  - Eu... - Parei por um instante, os ombros estavam tensos e só então que os relaxei, notando que estava nervosa atoa. - Eu sentia, mas agora não consigo Mark, acho que tudo era por causa da nossa conexão, agora tudo que sinto por você é raiva. - Esclareci e então abri o pote para retirar os biscoitos, enquanto os depositava no prato Mark se aproximou mais de mim, e puxou uma mexa do meu cabelo para trás da orelha. Me esquivei no mesmo instante, repelindo seu toque como se fosse quente a ponto de me queimar. - Não... - E a mão dele voltou para o meu rosto, depois para o meu quadril, Mark estava me enquadrando contra os armários e eu sabia o que ele queria, mas não ia conseguir.
  - Eu ainda amo você, sempre amei, nunca foi só a nossa conexão... - Ele me fitou, segurando meu queixo na intenção de me beijar e eu virei o rosto para o outro lado. Não sei ao certo se foi por reflexo ou pela sensação a alarmante de estar fazendo alguma coisa errada.
  Levi e eu não tínhamos nada sério, ele tinha me deixado claro que não queria nada sério, não estava nem um pouco aberto para uma relação mais profunda, mas eu estava sentindo como se o traísse ali naquela cozinha, sozinha com Mark que achava que roubaria um beijo meu.
  - Mark não, eu estou com o Levi. - Menti, mesmo que não fosse completamente verdade e ele me soltou, como se eu o repudiasse.
  - Então admite que não bastava ter tentando me trocar por aquele Kook amansador de gatos assustados agora quer ficar com um monstro? - Ele Indagou com desdém carregado na voz, como se eu fosse idiota e uma voz vinda da porta do saguão da frente do barco se pronunciou, me dando um pequeno susto.
  - Olha quem fala. - Kook comentou com um sorriso ladino debochado no rosto e então acenou para mim, que agora já tinha terminado de preparar o leite e os biscoitos comecei a me retirar da cozinha e ir atrás do rumo do quarto sem dar tchau pra Mark.
  - Boa noite Kook, boa vigília para você e o Jimin. - Lancei um beijo no ar para ele e me retirei de volta ao corredor dos quartos, indo em direção a onde Levi estava. Mostrando um dos dedos do meio para Mark na ida.
  Quando adeentrei no cômodo, a janela que antes estava fechada agora estava aberta e Levi estava sentado na cama, observando em direção ao mar com aquele mesmo semblante de que estava com a cabeça longe o bastante para não notar minha presença.
  Quem despertou sua atenção foi Suguinha, que ao se assanhar se jogando nos meus pés numa súplica descontrolada por carinho chamou a atenção dele com um miado.
  O rapaz loiro olhou na minha direção em alerta, se atentando a quem invadia seu domínio e quando percebeu que era apenas eu, abriu um pequeno sorriso ladino, os olhinhos enrugaram com os pés de galinha, e ele apagou o cigarro que até então eu não tinha notado que fumava, no copo de água que havia no criado mudo.
  - Alícia... - Ele exalou a última baforada do cigarro enquanto os braços cheios de veias se flexionavam para levantar da cama.
  - Levi você já vai pra lá? - Perguntei me referindo a vigília, ia se juntar a Kook e Jimin outra vez, e enquanto os rapazes iam dormir ele vigiaria a noite toda como sempre fazia. Acordado feito uma coruja velha que não dormia mais. - Mal fechou os olhos... - Comentei deixando o prato com biscoitos na janela e me sentando na cama, no lugar quente de onde ele havia acabado de sair. Estava esperando um beijo antes que ele fosse pra fora, mas sabia que isso não aconteceria. Não namorávamos.
  Ele não ligava. Se importava apenas o necessário, mais que isso, como alguém que realmente está lá e o tempo todo, não. Éramos apenas amigos coloridos pode-se dizer.
  Achei de já teria me acostumado. Toda noite era a mesma coisa, mas lá no fundo meu coração se contraiu em agonia.
  - Duas horas são mais que suficiente. - Ele piscou pra mim, espreguiçando como Suguinha fazia depois de dormir muito, e então tomou um gole do meu copo de leite e saiu do quarto me deixando para trás na cama desarrumada.

Prison IVOnde histórias criam vida. Descubra agora