27 - Acampar

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  - Vamos, não temos a noite toda. - Sussurrou e sua voz foi se arrastando pelos meus pensamentos.
  - Tabom. - Concordei. O fato de saber que não era real a possibilidade de que ele podia me estuprar e matar e largar por ali no meio da floresta maldita depois de satisfazer seus prazeres obscuros fez um gosto amargo subir pela minha boca. A bile chegava a fazer cócegas na minha garganta.
  Perto o bastante de alguns arbustos, Levi me soltou, e começou a se moldar, fazendo eu despertar dos possíveis devaneios que preenchiam meus pensamentos, os ossos subiram e a pele começou a se dissolver como se fossem fragmentos de areia escorregando por seus antebraços. O silêncio se apossou de cada parte da floresta e Levi ergueu a cabeça e o peito dele subiu e desceu respirando fundo o ar noturno. Não havia mais o peso da maresia carregado em nossa respiração, e era desconfortante saber que estava tão longe de casa. Aquele cheiro era a minha infância. Cheiro que denunciava como o mar podia estar cada dia mais perto da costa. E agora não dava mais pra voltar pra trás. Uma vontade incrível de chorar se apoderou de mim ameaçando formar um nó na minha garganta. Nada que eu amava era mais real. E era tão assustador essa nova realidade.
  Levi, alheio a qualquer pensamento que eu podia ter naquele momento, estava se dissolvendo como se fosse feito de cera. E eu estava me curvando sobre o chão. Aos poucos a quietude noturna foi se dissipando com meus gritos e rosnados.
  Fincando os punhos com toda força no gramado. Sentindo o lobo chamar, os ossos clamarem e minha coluna se dividir se partindo e moldando no meio. A terra se espalhou pelos meus dedos, úmida o bastante para me fazer ainda ser capaz de senti-la quando minhas mãos não eram mais mãos, e sim patas.
  O som passou a começar a estalar enquanto eu segurava mais um grito, sufocando a dor pela garganta. A ardência que preencheu meu corpo todo naquele momento fez eu ficar zonza por alguns instantes. E uma lágrima solitária escorreu pela minha maçã do rosto. Pensei que não ia aguentar a transição, não dessa vez, toda vez era intenso, mas o lobo estava preso a dias e o fato de eu estar segurando ele nas últimas noites só me deixava mais exaurida. Senti um gosto incomum de sangue na língua e um grasnado escapou da minha voz. Não era mais humana.
  Quando Levi terminou veio até mim, o corpo grotesco cheio de músculos, com aquela boca gigantesca cheia de dentes fez eu ganir e me afastar assustada.
  Ele estava tirando com as mãos peludas a última parte humana que restava de pele no seu rosto, puxando sangue e fragmentos como se fossem uma máscara se desintegrando. O que, enquanto eu gritava, meu coração afundou no peito, o que acabou me fazendo virar o rosto pro lado quando ele se aproximou demais. Ele só queria ajudar, mas eu não conseguia olhar pra ele. Me dava medo.
  "Gatinha não se acanhe..."
  Era ele sussurrando na minha cabeça como se fizesse parte dos meus pensamentos e as batidas no meu coração perderam o compasso por um breve instante. Sua voz fazia eu querer saltar e agarrar ele, o fato de podermos nos conversar daquela maneira e mesmo assim ainda não saber o bastante um do outro ainda. Mas a figura que estava do lado de fora de onde vinha aquela voz não era mas o mesmo corpo e fisionomia que eu conheci nos últimos dias. Precisava me concentrar, era só não olhar muito pra ele, assim como nos últimos dias que eu iria esquecer do medo.
  Ainda era tão estranho que Levi se tornava um lobo quase três vezes o meu tamanho e não sentia dor nenhuma pra isso.
  Quando finalmente terminamos, Levi estava maior, muito mais forte e andava em pé, esperando eu me juntar a ele. O que eu fiz logo em seguida, abandonando o que restou da sensação de ter levado uma surra enquanto me espreguiçando como se fosse um cachorrinho gigante depois de sentir meus ossos quebrarem e repetir o processo pelo menos umas duas vezes enquanto se moldavam na nova forma.
  Indo junto dele parei para olhar as árvores que se seguiam ao nosso redor formando um caminho além da trilha em que estávamos.
  "Não fica com medo gatinha, você sabe que ainda sou eu".
  A voz dele na minha cabeça me fez estremecer, e para acalmar eu sacolejei os pelos, instintivamente. O escuro fazia milagres as vezes. Eu não podia vê-lo com tanta clareza mais, o que ajudava a ideia de que era Levi quem estava ali, e não um monstro gigantesco capaz de me matar com uma bocada.
  " É. Eu sei..."
  Assenti e Levi desceu, ficando sobre as quatro patas, mesmo assim ainda dava o dobro do meu tamanho em questão de massa e músculos. Mesmo assim isso não nos impediu de prosseguir. Caminhando soltos pela floresta. Percorrendo com inquietação as extremidades daquele lugar.
  A noite só estava começando.

- Mallya on-

  - Oh Tae! - Gemi no pescoço de Tae e o mesmo mordeu o lóbulo da minha orelha. Estocando com força dentro de mim, estava se enterrando por completo, e o fato de que estávamos tão próximos, os corpo desnudos se tocando, quadril com quadril e boca em cima da boca um do outro fazia eu me entregar por completo. Saboreando suas mãos espertas pelo meu corpo.
  Agarrei ainda mais as pernas na cintura dele e passei as unhas de leve por suas omoplatas. Parecia ter sido bom pois o mesmo gemeu na minha maçã do rosto. Me dando pequenas mordidinhas enquanto descia para o meu pescoço.
  - Ah Mally, como eu senti sua falta... - Ele gemeu com a voz rouca bem próximo da minha garganta enquanto eu pendia a cabeça para trás, e sua voz pareceu me atravessar. Fazendo cada neurônio que ainda tinha sobrado na minha cabeça derreter quando ele saiu de mim e voltou a investir. Eu também tinha sentido, a falta dele parecia ter me consumido nos últimos dias.

Prison IVWhere stories live. Discover now