34 - Relâmpagos

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- Alícia on-

  Foi como um flash, do mesmo jeito que a coisa estava vindo na nossa direção com a boca cirrada cheia de dentes, seus olhos e suas garras famintas estavam de prontidão para pegar nosso pescoço.
  Do mesmo jeito que abaixei a arma, eu lancei a faca que tinha na canela, presa pela sustenção do tênis e me abaixei, bem na hora que a Mallya ainda estava caída por eu tê-la empurrado.
  O monstro passou direto, estava correndo demais para simplesmente parar na nossa frente, do mesmo jeito que cambaleou desenfreado, eu o apunhalei, a faca rasgou sua batata da pata traseira e eu puxei a faca a tempo suficiente dela não ficar presa nos tendões do pé do bicho.
  Era agora, eu tinha que dar um jeito dele não passar suas garras imundas em cima de nós, o veneno... O problema maior era o veneno!
  - Ei seu babaca! Olha pra mim! - Gritei a plenos pulmões tentando chamar a atenção dele pra mim, o coração no meu peito se contorceu de medo, aquela coisa parecia o Levi transformado, e olhar bem na cara dele de frente pra ele só me fazia perceber o que eu já sabia, aquilo era um verdadeiro monstro.
  A Mallya tinha que levantar e fugir daqui, pelo menos por tempo o bastante para ela poder se afastar e ir atrás de Levi, ele era o único de nós que poderia se aproximar o suficiente para matar a coisa sem risco genuíno de se ferir.
  Ele, o bicho, depois que percebeu que tinha sido feito de idiota se voltou para nós, agora não estava tomando tanto impulso para correr como da última vez, e não estava tão longe quanto a pouco tempo atrás. Seu sorriso sínico caiu do rosto, assim como o braço do Arak no chão, e ele começou a vir na nossa direção, mais especificamente na da Mallya que ainda permanecia caída atrás de mim, estava tudo rápido demais. Nem eu mesma estava conseguindo acompanhar, mas eu sabia de uma coisa, esse desgraçado não ia passar, nem que eu tivesse que quebrar os meus dois braços tentando segurar, mas ele não encostaria em nenhum fui de cabelo da Mallya, nem por cima do meu cadáver!
  E tinha uma voz na minha mente que não parava de dizer que eu precisava me transformar, mas não daria tempo! Mas eu tinha que tentar, aquela transformação que aconteceu no mundo dos mortos, no meio da guerra com o Mark. Se eu conseguisse chegar perto o bastante daquele poder para desencadea-lo. Aquilo sim teria força o bastante para derrubar a coisa sem que ele nos alcançasse.
  Antes de eu ver para onde foi a coisa, sangue começou a espirrar, molhando depressa o chão ao nosso redor. Ainda me lembrei de um touro bravo, daqueles que as pessoas matam depois que acaba um campeonato. Coitado do touro, pelo menos ele não tinha consciência do que estava fazendo, diferente desse monstro. Pra ele, nosso sangue era a bandeira vermelha sendo abanada.

- Kim Taehyung-

  O som foi auditível mesmo de tão longe, e eu conhecia muito bem aquele som. Ossos se quebrando e de repente pude ouvir o grito da Mallya. Um grito alto carregado de choro. Desesperada o bastante para arrepiar até os ossos da minha espinha. Larguei tudo que estava nas mãos, os gravetos para a fogueira, e até mesmo a faca que Levi me arrumou. Correndo o mais rápido possível. Sabia que não deveria ter deixado aquela psicopata com a Mallya. Agora provávelmente a Mallya devia estar servindo de escudo para aquela covarde se proteger.
  O pânico começou a me invadir, fugindo o sangue do meu rosto. Levi fez o mesmo sem pensar duas vezes, mas ele pelo menos não deixou sua faca.
  Eu fui pelo céu. As asas cortaram minhas omoplatas e se ergueram como se fossem de ferro. Destemidas com a força de um gavião enquanto rasgava a camisa pela força que tinham sido expostas. E sob as árvores ainda pude ver Levi correndo desgovernado como se fosse um lobo. Mesmo ainda na face humana. Estava se transformando em movimento, e era desconfortante ver o corpo humano dele caindo, enquanto pelos tomavam seu lugar, como se fosse uma cobra trocando de pele.
  Foi bem no momento que procurando desesperado por ela, um raio cortou o céu a poucos quilômetros dali, o céu começou a se fechar de repente, era assustador ver como estava se formando uma tempestade tão rápido, assustador até demais para aquela floresta. E então enquanto olhava na direção de o raio havia caído, avistei sangue no chão, só então fui perceber que minhas mãos estavam dormentes de tanto cerrar os punhos, muito, mas muito sangue tinha ali, poucos metros pela frente. Havia praticamente uma poça enorme, e tinha alguém no meio dela, rodeada de sangue com alguma coisa se debatendo.
  Quando meus pés desgovernados tocaram novamente o solo notei que a Mallya estava com as mãos na cabeça, a arma da Alicia na mão, sentada a um metro deles, o rosto vermelho de agonia, o pânico que eu havia sentido se intensificou. Tinha um duende ali, daqueles transformados. Gigante e animalesco o bastante para dar três vezes o tamanho da Alícia. E ele quem se debatia, furioso enquanto tentava a todo vapor alcançar a Mallya, e a única coisa que dividia aquela cena, era a Alícia no meio deles. A Mallya estava agachada, caída como se fosse um fruta madura a pelo menos um metro de distância daquela cena. Tampando o nariz e a boca e negando com a cabeça com toda força. E a amiga estava na sua frente, lhe protegendo com uma faca que usava para esfaquear a coisa repetidas vezes. Desde o abdômen até as costas e o peito. Rasgando com toda força enquanto a besta fera cambaleava, com os dentes enfiados em seu pescoço, e uma mão inteira cheia de garras enfiada em seu peito.
  Era assustador ver como a Alícia não parava, a coisa ameaçava avançar e ela, naquela situação, toda dilacerada continuava insistindo, cortando e empurrando com toda força. Ainda estava de pé lutando com o ímpeto da mãe... Parecia até que a fera era ela. Perigosa como uma leoa.
  Avancei, Levi não tinha chegado, e eu não ia esperar para tomar um atitude. Agarrei a besta fera pelo pescoço, ele estava distraído o bastante com a Alícia para me notar, e com um movimento rápido e cuidadoso o bastante para alcançar a laringe do bicho e puxar para baixo, o pescoço fez um crac, e então a fera caiu com o pescoço mole demais para não ter sido quebrado. Os olhos abertos e vazios deram seu último suspiro e a Alicia também assim que Levi chegou. Olhando pra mim aliviada, tínhamos chego, a Mallya estava bem. E eu consegui enxergar isso nos olhos dela. O alívio dela por saber que a Mallya estava bem.

Prison IVDonde viven las historias. Descúbrelo ahora