22 - Ciúmes Doentio

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Estava com falta de Levi, da pele dele e do cheiro que deixava na cama quando acordava e sumia no meio da noite. Falta das nossas caçadas a noite que perduravam até o amanhecer enquanto matávamos aqueles malditos duendes... A ausência dele, mesmo que contínua me deixava louca. Pocessiva e cheia de ódio, ao ponto de que eu mal estava me reconhecendo. E uma sensação inquietante crescendo no peito fazia eu querer arrancar os próprios cabelos e bater em Levi com ódio. Eu queria que ele se importasse. Queria que ele fosse obcecado como Mark era direto comigo. Mas Levi não era Mark. Levi era calmo e respeitava meu espaço, não me machucava e sempre conferia para ver se eu estava bem, ou de acordo com qualquer coisa que fazíamos juntos, nunca forçando, e nunca me manipulando. Por mais que fossem só alguns dias passados juntos naquela rotina do barco. Sem querer havia me acostumado... Eu estava estranhando a sua maneira de ser. Ele era tão... Normal. Humano demais até mesmo para a criatura que era.
Mesmo assim, depois de uma dezena inquietante de aventuras em que Levi se abriu explicando como tirou um filhote de ogro da boca de um Xing Tian, que era um gigante amaldiçoado por seu rei que ficou sem cabeça depois de ser desonrado, que com uma boca cheia de dentes no estômago se alimentava de bebês ogros em fase de crescimento, a Mallya parou de conversar com ele, deixando-o com Tae enquanto o loiro se ocupava em tomar água insistentemente, não era atoa já que não calava mais a boca. Revirei os olhos tentando me conter. Ele era tão bonito, e tão livre...
- O que você tem? - A Mallya veio e me deu um cotovelada de leve chamando minha atenção, estava radiante para quem não tinha dormido a noite toda, os cabelos prateados estavam alinhados meticulosamente e nos olhos havia um brilho flutuando, e por um instante imaginei se sentia assim por estar longe das nossas investigações, fazia pouco tempo, mas já dava para notar a diferença. Ela queria ter uma vida normal afinal, tão normal quanto Levi, era compreensível, mas me deixava triste, e eu sei que isso era egoísta da minha parte, por isso me calava. Não podia obrigar ela, e não era justo depois de tudo que a Mallya passou por causa de Mark e por minha causa. Já tinha sofrido demais.
Depois de algumas passadas na clareira, estávamos quase chegando no carro, nada que mais algumas horas não ajudassem, como imagino os meninos que foram na frente já tinham matado qualquer coisa que se mexia durante o processo do caminho. Pelo menos era no que eu queria acreditar pra não tentar entender como a floresta maldita estava tão calada. Ela não estava assim no dia que eu acordei e corri para cá. O lugar todo estava diferente. Por um instante a lembrança fez um calafrio passar pelos meus ossos. Estar sozinha no meio daquele lugar enorme, com frio e com medo me deixou mais traumatizada do que eu esperava.
- Cansaço. Não dormi ontem. - Comentei respondendo a pergunta de Mallya, escalando um pequeno barranco com lama para desviar das pedras do outro lado da trilha e a voz de Levi que tinha voltado a falar fez meu coração afundar enquanto, agora ele continuando com aquele ar simpático habitual, estava contando para Tae sobre como se fazia para pescar no bosque dos ogros. Parecia uma proeza tão difícil que só ele seria capaz de fazer. Na verdade eu acho que Levi é uma pessoa muito solitária, por isso ele gosta de conhecer gente nova e conversa tanto. Mesmo assim não consigo me conter da ideia de que ele se cansa rápido de quem estava com ele e parte para outro, assim como eu, me deixando para trás...
- Não, você não dormia muito quando estávamos na escola e não ficava com esse humor. Eu me lembro como você ficava com os pesadelos, e definitivamente não era assim. - Ela negou acenando a cabeça para mim e assim que escalou o barranco me acompanhando eu suspirei olhando pro alto. Tentando desviar dos olhos dela me perseguindo.
Escola... Fazia tanto tempo, pelo menos parecia fazer. Era como se tivesse passado uma eternidade de lá até agora. Mal me recordava das aulas de matemática. Nunca entendia nada mesmo.
- Eu só... Estou estranha hoje. - Comentei vendo enfim pelo menos um pássaro naquele lugar. O que parecia uma andorinha solitária passou voando de um galho para outro no topo de um pinheiro e então eu me voltei para a Mallya. Que agora me fitava parada ao meu lado, os cabelos se moldando em pequenas ondinhas ao redor dos ombros. Não chegavam a formar cachos, apenas voltinhas delicadas. O que a deixava com um ar ainda mais gracioso.
- Você está mentindo. - Ela cruzou os braços arqueando uma sobrancelha duvidosa na minha direção e eu ergui as mãos em trégua. Me rendia, não tinha como esconder nada dela, o melhor a se fazer seria se abrir pelo menos um pouco, o suficiente para ter mais espaço para me esquivar do assunto. - Você está com ciúme. - Ela alfinetou e eu senti o coração começar a palpitar. Será que Levi tinha parado e estava ouvindo isso que ela tinha acabado de dizer?

Prison IVOù les histoires vivent. Découvrez maintenant