7 - Missão Fracassada Com Sucesso

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- Alícia on-

  - Solta a Mallya agora seu...? - Tae parou no meio da frase, ainda segurando o braço quebrado na defensiva e eu revirei os olhos para Tae.
  - Levi por que a Mallya não está no chão andando e falando? - Perguntei olhando dela no ombro dele para ele com estranheza e então ele a fez apoiar os pés sobre o solo me olhando como se eu fosse idiota. Afinal a Mallya estava toda acorrentada, não teria muita locomoção daquele jeito. Logo que a mesma sentiu que estava de pé outra vez, longe das mãos de Levi seu rosto se acalmou, mas ela ainda me olhava com os olhos cheios de água. Será que Levi não avisou que estava conosco? O que tínhamos de fazer para tirar todos daqui? Ele era a pessoa mais falante que eu já conheci, quase obcecado por fazer amigos, se bem que não podíamos falar muito, barulhos demais poderiam chamar a atenção daquelas coisas para nós. Mallya depois de me olhar por inteiro, foi de mim para Tae, ficando com o olhar mais marejado.
  - Você conhece essa coisa? - Tae indagou tirando a mordaça da boca da Mallya e olhando para mim novamente. Enquanto trazia Mallya para o seu abraço apertado e cheio de ternura.
  - É Alícia, quem é esse elfo tarado dos infernos? - Indagou a Mallya assim que estava com a língua livre dos panos e então apontou com as mãos ainda acorrentadas na direção do suposto "elfo dos infernos". E então Levi olhou pra mim, seu olhar frio cheio de segredos me atingiu como um soco. Agora todo mundo estava olhando pra mim e eu só conseguia pensar em como estava dolorido embaixo do meu olho esquerdo. E que o jeito como Levi cruzava seu olhar com o meu estava deixando várias borboletas cavarem crateras no meu estômago. Aquilo não era fome, era aquele magnetismo de novo, a sensação dele me observando me deixava elétrica e ansiosa. Como se meu corpo esperasse por alguma coisa. Era uma péssima hora para lembrar dele dentro de mim naquele começo de manhã. Engoli em seco.
  - É claro que ela me conhece, viemos aqui resgatar todo mundo, cadê o Jong Up? Ele passou por vocês? - Levi pronunciou pegando meu queixo de forma inquisidora, observando meu rosto analíticamente e eu não me mexi, apreciando como se fosse uma menina carente aquele seu toque dos dedos calejados, mesmo com a destreza de um soldado ele tinha o toque suave de um amante, tinha sentimento ali, ou eu estava ficando maluca - Mas eu não te falei que devia manter distância enquanto eles acordam? - Ele também me indagou e eu tirei meu rosto de sua mão amigavelmente me recordando de que não estávamos em um lugar seguro pra perder a linha. Eu precisava de foco. Não era hora de me derreter por ele.
  - Foi um acidente só, ele estava meio fora de si... - Respondi e mal pude acabar a frase e Tae havia me interrompido.
  - É claro que não estava, - Tae gesticulou os punhos, fitando Levi de cima abaixo e depois voltando seu olhar incriminador em cima de mim. - Você ia matar todos nós! - Ele insinuou como se fosse a pessoa mais sensata naquele corredor.
  Levi deu um passo a frente, a postura imbatível e eu pus minha mão em seu peito negando com a cabeça pra ele. Torcendo que ele fosse mais calmo do que aqueles nervos a flor da pele mostravam. Seu queixo rígido fez saltar uma veia na garganta e então ele se aguentou no mesmo lugar. Sem fazer contato visual comigo, sem dar continuidade ao que pretendia fazer. Arrumar brigas agora era uma péssima ideia. Tínhamos que sair daqui o mais rápido possível.
  - Tae?! - A Mallya que até então não tinha tido tempo de assimilar se voltou para ele horrorizado, entendendo finalmente que quem tinha me deixado de olho roxo foi seu querido anjinho. E que quem estava aqui pelo bem era Levi e eu e não seu anjinho metido a certinho.
  E então eu me aproximei dela, lhe oferecendo um sorriso fraco de consolo.
  - Eu estou bem ok. - Disse e enfiei as mãos na parte de dentro das correntes e forcei o braço por dentro delas, com força o bastante pra sentir o tilintar e então foram todas de uma vez pro chão, quebrando com a força do meu braço. Levantando poeira assim que cairam. Agora livre das correntes em seu corpo Mallya me abraçou de repente. Quase caí para trás com o susto repentino, mas correspondi, enfiando meu rosto em seu pescoço num aconchego que eu estava torcendo pra ter desde que acordei sozinha no meio da floresta maldita. Seu cheiro de suor e poeira invadiu meu nariz com leveza, e mesmo assim eu permaneci ali, reconfortada.
  Consegui sentir que Levi começou a ficar inquieto assim que ela me segurou, parecia que ela solta estava deixando ele mais apreensivo do que ficar no meio de um galpão velho cheio de gnomos transformados. Eu estava com mais medo daquelas coisas do que da Mallya. A não ser...
  - Dessa vez vai passar porque você acabou de voltar dos mortos, mas dá próxima eu quebro a sua cara. - Levi fulminou Tae de forma ameaçadora, voltando a atenção por um momento para o anjo e depois olhou para nós duas.
  - É melhor se afastar. A Mallya precisa comer se não vamos virar comida pra ela.
  - Tarde demais... - Ela já havia pronunciado retrucando Levi, e eu tentei empurrar os ombros dela, mas ela me agarrou com força, enfiando seus dentes no meu pescoço.
  - Aí Mallya! - Exclamei na falha tentativa de me desvencilhar de seu aperto, o que só serviu para Levi se aproximar depressa vindo apartar. A Mallya agarrou o pulso dele com força e agilidade antes mesmo dele conseguir encostar em mim.
  E então de repente, escutamos duas vozes gritando. Pareciam bem desesperados, pelo menos causaram alvoroço o bastante para o que aconteceu a seguir. Eram dois homens, o reconhecimento em suas faces foi suficiente para fazer a Mallya desistir de qualquer impulso só para observar, assim como Levi e Tae, incrédulos na burrice daqueles dois. Tínhamos falado várias vezes pra tomar todo o cuidado e fazer silêncio pra não chamar a atenção das coisas. Se bem que a minha briga com o Tae não tinha sido tão silenciosa afinal. Imagino que quem mais deve ter feito silêncio aqui foi o Levi amordaçando a Mallya quando a encontrou. Falando nela, senti o pescoço arder onde ela tinha me mordido. Passei a mão próximo a garganta e ela voltou molhada de sangue.
  Naquele mesmo instante, do fundo de um corredor cheio de portas estavam vindo Jong Up e Mark na maior pressa do mundo e logo atrás deles uma daquelas criaturas. O chupa-cabra/ lobisomem. Rugindo como uma besta fera. Ia matar todos nós.

Prison IVWhere stories live. Discover now