45 - Reis e Rainhas

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- Mallya on-

- Espera só um momento! - Pedi piscando os olhos em confusão tentando com toda força afastar a dor de cabeça que se aproximava, podia sentir o começo da enxaqueca me nocauteando. Usando minhas vistas como minhas inimigas e me forçando a querer vomitar. Estava ansiosa, queria um abraço quentinho de Wonho e do meu irmão que estavam logo na nossa frente a menos de um metro do outro lado daquela mesa de jantar estúpida cheia de florezinhas roxas em cima do mármore mais polido que eu já vi. Eu odiava flores depois de tudo que aconteceu em Helltown, e aquelas tulipas estavam realmente me enojando. Porém, ainda sendo capaz de ser pior, era o gosto amargo na boca se desfazendo em saber que meu pai... olhei novamente para ele do outro lado da mesa, tão imbatível me fitando ao lado da minha mãe. O desgraçado estava vivo!
Como ele pode ter sobrevivido depois de tudo que eu fiz pra ele?!
Ou pior, será que agora ele queria se vingar?
— Mallya? O que você não está entendendo exatamente? Tenta reformular para nós em uma pergunta e vamos te responder com o máximo de clareza possível, está bem. — Foi a mãe da Alícia quem disse tentando me acalmar enquanto massageava minha mão com seu polegar e eu abri um sorriso fraco pra ela. Sua mão estava tão fria como se ela estivesse morta. Ela queria transparecer confiança e tranquilidade, mas eu estava cansada demais, o corpo e a cabeça doíam, e passar as últimas dezoito horas acordada depois do último episódio com a arma no carro... Realmente foi cansativo demais.
— Olha, eu vou explicar outra vez... — Foi o delegado quem interveio. — Ex-Delegado... me corrigi mentalmente, agora o pai da Alícia não era mais um, não depois da vez que ela tentou se matar na verdade, quem se entrega de bandeja pra levar uma surra de um lobo? — É bem simples até... — Ele começou a explicar de novo me trazendo à tona na maluquice daquelas mulheres que se intitulavam nossas mães e eu maneei a cabeça em negativa. Precisava de tempo para começar a pensar, parecia que se eu tentasse pensar mais meu cérebro ia inchar como um balão até explodir sangue pra todo lado.
— Precisamos agir rápido, não temos tanto tempo assim. — Começou a mãe de Mark e a mãe da Alícia a repreendeu com o olhar. Levei um segundo para notar que tinha algo de errado. Algo que não estavam nos contando. Essa não, virei pra Alícia, buscando naquele olhar perdido dela alguma ideia, e voltei meu olhar para as mães quando não fui correspondida pela minha amiga do outro lado da mesa, as mães... Elas estavam tentando esconder alguma coisa.
Me ajeitei na cadeira desconfortável demais na própria pele e senti os dedos da mão fria da mãe da Alícia ficar tensa sobre a minha enquanto ela sabia claramente que não poderia esconder mais um segredo de todos nós. Estávamos todos juntos nessa, tínhamos que saber.
— Precisaremos investigar para descobrirmos o que vocês não querem contar? — Foi a Alícia quem disse assim que pairou um novo mistério no ar, e a leve menção de investigar me deu ânsia de vômito. Um buraco que não havia mais no meu peito passou a doer como se faca de prata ainda estivesse lá, enterrada nele até o cabo. A bile subindo pegajosa pela minha garganta me fez repudiar ter comido tanto pão com presunto assim que cheguei. Eu queria me dissolver em geleia e escorregar pela cadeira para baixo como se fosse de areia, desaparecer dali, de tudo. Queria minha mãe, estar nos braços dela pela primeira vez pra chorar de soluçar até começar a me sentir melhor. Estava com medo dela me rejeitar, por eu ser uma estranha para ela. Será? Será que ela queria mesmo conhecer a filha? E ter contato comigo? Depois de tantos anos, com aquele nascimento trocado e sofrido na cabana onde eu nasci, para ser deixada sozinha no mundo depois, será que ela não me culpava por tudo que aconteceu?
— Não!!! — Foram as mães e os pais que disseram em uníssono, me tirando abruptamente da minha mente e a mãe da Alícia ainda rebateu em seguida.
— Elas não deveriam saber disso ainda! — Relutou a mulher, e então foi a mãe de Mark quem tomou a vez, apoiando o braço no mármore gelado da mesa enquanto se aproximava olhando para os lados como se fosse contar um segredo a nós. Mais parecia uma velha rica com coração de gelo do que qualquer outra coisa humana.
— Seja delicada pelo menos sua bruxa! — Para minha eterna surpresa foi a minha mãe quem falou, dando um peteleco na cabeça da mãe do Mark com intimidade o bastante para isso, e as duas se entreolharam com desgosto. Pelo visto eu e minha mãe compartilhávamos das mesmas aversões às pessoas.
— Vocês todos vão morrer em dois meses. — Disse a mulher com um olhar carregado de peso e ficamos sérios, mais ainda do que já estávamos, se ainda restava algum apetite para a hora da janta tinha acabado de se esvair completamente.

Olhei para os rostos ao meu redor, a cara de horror tomando cada semblante juvenil, menos o de Mark, esse estava apenas sério, como se já soubesse daquela verdade pesada demais. E então como se tivessem sido conjurados do nada, todos os mortos ressuscitados desapareceram sem deixar vestígios. Deixando mais um vazio no meu peito, como se tivéssemos imaginado toda aquela reunião com meus pais e mães falecidas. O silêncio que caiu depois disso era palpável.

Eu não aguentei mais, e me inclinei para o lado. Senti a mão de Tae apoiar na base da minha coluna, tentando dizer alguma coisa, mas fui incapaz de compreender o que era quando comecei a vomitar bem ao lado. Tudo que comi nos últimos vinte minutos indo embora na mesma hora.

Prison IVWhere stories live. Discover now