My Golden Gangster.

Lisboa.

Thomas andava pelas ruas de Lisboa, como se de Birminghan se tratasse. Sem perder a sua pose ou prestígio olhava cruelmente para quem passava por si e notava as caras de medo gélido que rapidamente desapareciam para deixar o seu caminho livre. Sabia que estava em território estrangeiro mas não estava intimidado, afinal o nome Peaky Blinders era conhecido pelos quatro cantos do mundo. Thomas garantiu que isso acontecesse e estar em Portugal planeando o golpe mais importante da sua vida só ia consolidar tudo aquilo pelo qual tinha lutado até agora. Levou o cigarro à boca, passou-o duas vezes pelos lábios até o sentir preso e acendeu-o enquanto espalhou pesadamente o fumo que agora saia da sua boca. Artur pegou no ombro do seu irmão mais novo passando a mão pelo cabelo para o ajeitar.

-"Fookin hell Tommy, parece que estamos em casa."

Thomas permitiu-se apreciar a cidade onde estava, realmente Lisboa era tão negra quanto sua casa, os rostos pesados do cansaço , o cheiro e os sons quase que se confundiam com Birminghan se fechasse os olhos. Abanou levemente a cabeça e olhou para Arthur.

-"Vamos ver, irmão."

Levou novamente a mão ao bolso interno do casaco para tirar um cigarro que prontamente deu a Finn. O mais novo assustou-se levemente mas aceitou sem dizer nada, era o que estava mais abstraído pelo novo ambiente.

-"Pára de olhar em volta como se devesses algo a alguém Finn! És um Peaky Blinder, começa a agir como um!"- Thomas disse friamente para o irmão e foi o suficiente para este limpar a garganta e endireitar o peito.

Após uma caminhada de 10 minutos viram o seu destino ao fundo: a Raposa Vermelha, o pub mais conceituado e respeitado da cidade, ali seria o começo do seu plano. Thomas sabia que aquele não era um pub qualquer.

-"Espero que saibas o que estás a fazer Thomas."- disse Arthur que ajeitou os bolsos, dava tudo por um pouco de neve naquele momento.

Sem grandes demoras Thomas trancou o maxilar e empurrou as portas do pub seguido de seus irmãos, aquele espaço fazia lembrar o The Garrison mas talvez mais selvagem. Os operários tinham saído das fábricas e afogavam um pouco da escuridão que tomava conta das suas vidas, ouvia-se brindes e vozes de mulheres sorridentes que tentavam apenas ganhar a sua sobrevivência. Mas não pôde deixar de notar que se sentia confortável naquele ambiente, era mais negro que o The Garrison e Thomas gostava da escuridão. O balcão estava repleto e as mesas ocupadas mas assim que começaram a seguir caminho pelo salão os olhares de medo e admiração caiam neles.

-"Hey, esta mesa está ocupada!"- Arthur atirou para uma mesa onde 3 homens estavam a beber e não pôde deixar de olhar confuso quando nenhum se mexeu.

-"Arthur estás em Lisboa, ninguém aqui te vai entender.."- Thomas tirou a boina e o irmão encolheu os ombros pegando no revolver que apontou para a mesa o que fez os 3 homens correrem pela vida deles.

-"Fodasse Arthur tinhas de puxar da merda da arma no território do Joaquim?" 

Joaquim Marques, talvez a maior referência gangster a nível nacional. Cabeça do gangue mais perigoso de Portugal conhecido como os Raposas Vermelhas. Tudo o que fosse ilegal passava pela mão de Joaquim mas ao contrário de Thomas que mostrava o seu poder, Joaquim preferia permanecer no anonimato para não deixar pistas que o ligassem a qualquer crime em território português. Não precisava disso para qualquer um que fosse são não reconhecer o seu nome e tremer. O pub era seu e segundo informações de Thomas servia também de bordel que se encontrava no primeiro andar. Não era legal a prostituição em Portugal mas ninguém teria coragem de fazer alguma coisa contra Joaquim, nem mesmo a polícia que estava no seu bolso.

Arthur percebeu que provavelmente Thomas tinha preparado outra abordagem que não puxar de armas pois Joaquim era indispensável para o seu plano. Apercebeu-se tarde demais quando começou a sentir um murmurinho correr pelo salão e distinguiu os olhares de quem sabia que tinha sido anunciado sem querer.

-"Desculpa T.."

"O que tenho de fazer para que as pessoas me ouçam fodasse? Sentem-se e esperem!"- Thomas escureceu o olhar para os seus irmãos que puxaram as cadeiras e se sentaram ao mesmo tempo que ele. 

O líder ficou na diagonal da mesa com o balcão ao seu lado direito, agora só lhe restava esperar. Levou um cigarro à boca pela décima vez naquela noite e olhou em frente para as escadas que levavam ao primeiro andar, travou o fumo na sua garganta e foi quando os seus olhos caíram sobre ela.. 

Por momentos pensou que estava a alucinar, não conseguia arranjar palavras para a beleza que estava a encarar a alguns metros de si no topo da escadaria. Os seus cabelos compridos até à cintura diferiam de tudo o que era normal na época, morena cor de canela com olhos âmbar, vestia uma blusa que deixava cair sobre os ombros com um corpete a marcar as suas curvas de deusa. A saia preta ligeiramente rodada era mais curta à frente e tinha uma abertura num dos lados deixando ver levemente as suas pernas. Angelical pensou mesmo não sendo um homem de fé mas ao mesmo tempo selvagem.. Thomas falhou uma respiração enquanto a via descer aquela escada com uma postura sem comparação, deixando todos os homens daquele salão presos no seu andar e as mulheres a desejarem que fossem como ela. Ela pouco ou nada se importou com a atenção que tinha naquele momento, Thomas piscou rapidamente os seus olhos duas vezes para ter a certeza que não era uma alucinação e que ela continuava à sua frente.

-"Fook.."- Foi a única coisa que conseguiu dizer quando largou o fumo do cigarro que esqueceu ter na sua boca. Arthur e Finn sem perceber seguiram o olhar do irmão e encontraram-se sobre a mesma visão.

-"Porque não há mulheres destas em Birminghan?"- Perguntou Finn sem conseguir fechar a boca perante a mulher mais bonita que os seus olhos já tinham visto.

-"Mulheres rápidas e cavalos lentos Finn, vão ser o nosso fim."- Arthur disse apoiando as mãos na mesa.