Quarenta e nove

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Toni abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o mosquiteiro balançando ao vento fresco do ventilador. A moleza que tomava conta do seu corpo era muito bem-vinda, não tinha vontade de mexer um músculo de tão relaxado que estava, era como se estivesse flutuando e não deitado na cama.

Ergueu a cabeça um pouco, verificando ao seu redor. Estava vestido apenas um short de dormir e Samuel ainda dormia ao seu lado, as pernas emboladas no lençol.

Levou um momento para esticar o braço e pegar o celular, apenas para verificar que passava um pouco das nove da manhã.

— Samy — chamou uma vez, xingando em seguida — puta merda!

Sua voz estava desconfortável e a constatação o fez sorrir enquanto pigarreava, afinal aquela foi realmente uma longa noite. Ainda sentia o gosto amargo do marido e as lembranças frescas na memória.

Samuel estremecendo com as pernas abertas enquanto o servia na quentura da sua boca, tantas vezes até que não podesse mais contar, até que ele estivesse tão louco que se empurrava por conta própria mais e mais, tensionado o corpo, afoito e apressado.

Samuel gemendo alto, curvando o corpo, totalmente desinibido enquanto massageava a coxa deformada pela cicatriz.

Samuel em pé, as mãos apoiadas na cama, as pernas ligeiramente flexionadas, gemendo seu nome com gosto enquanto o segurava pelos cabelos e se enfiava nele com força.

Nesse ponto, tinha que ser grato pela distância considerável entre os bangalôs, pois verdade seja dita, aquela foi uma noite barulhenta.

Não sabia exatamente quanto tempo fazia que não transavam daquele jeito, mas tinha a vaga lembrança do joelho do marido travando na melhor parte e isso já fazia algumas semanas. Provavelmente era natural que estivessem tão carentes, certo? Passaram horas na cama, apenas fazendo sexo e só porque tinham tanta vontade acumulada.

Carência, saudade, tesão, um pouco de loucura, provocação descarada que realmente fez o homem revirar os olhos e pedir que fosse mais forte, mais rápido, tão obsceno. Samuel gostava que fosse bruto, que o segurasse com força e não o deixasse escapar, gostava que não desse vez ao nervosismo estranho dele que apesar dos anos muitas vezes ainda o travava. Ele gostava que puxasse o cabelo, que xingasse e falasse coisas sujas ao pé do ouvido. Havia algo no modo como seu marido se tornava vulgar dentro de quatro paredes que conquistava o seu coração, afinal havia amor nisso tudo também.

— Mô... —  pigarreou outra vez, tentando não sorrir tão descaradamente, ou teria certeza que o homem ficaria constrangido.

Esticou a mão na direção do corpo do homem e sacudiu de leve, mas não obteve resposta. Virou de lado, apoiando a cabeça na mão direita, descendo a outra mão até a cintura do homem e sacudiu mais uma vez.

— Ei parceiro, a gente precisa comer alguma coisa — insistiu, o puxando para junto do seu corpo.

Samuel finalmente se mexeu, virou de frente para Toni e o abraçou, ajeitando o corpo, colocando a perna direita por entre as do marido, escondendo o rosto na curva do pescoço moreno.

— Hora de acordar parceiro.

Samuel se ajeitou mais, se acomodando ao corpo grande, no momento seguinte estava dormindo outra vez.

Toni pensou em insistir, pois não haviam jantado na noite anterior, mas apenas ficou ali, deitado de lado na cama, com o marido agarrado ao seu corpo, sentindo os movimentos torácicos da respiração tranquila e o calor da pele nua contra a sua. Cuidadosamente ajeitou o travesseiro que usava para ficar mais confortável e deixou os pensamentos fluírem, relembrando a noite anterior sorrindo vez ou outra quando imaginava o quão constrangido o mais velho ficaria quando acordasse.

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