Capítulo Treze

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Os empurrões fraquinhos que fizeram a palma da sua mão formigar, numa sensação engraçada, foram inesquecíveis. Clara tinha um sorriso lindo no rosto abatido e falava com sua voz tão doce e emocionada. Aquela foi a primeira e única vez que tocou a barriga de uma grávida. A experiência foi emocionante e lhe marcou como poucas, lhe remetendo a coisas do passado, que nada tinham a ver com Clara e os gêmeos, mas que tinham sua importância apesar do tempo, pois também foram experiências marcantes.

Pensava em tudo isso enquanto o carro corria veloz pelas ruas, o mais rápido que podiam sem infringir nenhuma lei.

Não conseguiu entender muito o que havia acontecido de fato, pois seu primo estava muito nervoso. A única certeza que tinha era que Clara passou mal e foi internada novamente. Mas aparentemente dessa vez a situação era mais delicada.

Obviamente Magnólia se prontificou a cuidar das meninas, até Luz estava colaborando e não fez caso quando Toni se arrumou rapidamente e anunciou que ia dirigir, geralmente fazia um dos seus comentários maliciosos sobre Samuel fazer de Toni um motorista sem remuneração.  Era um fato, Samuel não gostava de dirigir, mas fazia se fosse necessário. Mas em momentos de grande tensão, ou nervosismo Toni não permitia, porque o mais velho era uma pessoa naturalmente nervosa embora não demonstrasse.

A viagem até o hospital nunca pareceu tão longa e demorada, mas por fim pararam no estacionamento. Não havia necessidade de palavras, apenas desceram, se encaminharam para o prédio. Assim que entraram na recepção avistaram a figura masculina que procuravam.

Otávio estava sentado numa cadeira azul de plástico muito desconfortável, apoiava os cotovelos nas pernas e tinha a cabeça entre as mãos, os cabelos grisalhos completamente desalinhados, nem se quer os notou chegando.

Um homem estava sentado ao seu lado e lhe falava de forma branda, notavelmente tentando acalmá-lo. Era um pouco mais jovem que Otávio, mas era um homem maduro, com algumas marcas de expressão no rosto de traços severos e nariz adunco, mas seu olhar cheio de pena suavizava sua expressão.

Foi Samuel que pousou a mão no ombro do primo, daquele seu jeito gentil e sentou ao lado do primo, ombro a ombro, esperando ele se acalmar um pouco depois de vê-los.

—  Oi... o que aconteceu?

—  Ela teve uma convulsão, em casa... — contou abaixando a cabeça, as lágrimas já voltavam aos olhos obviamente.

—  Eclampsia? — tentou Toni, parado na frente dos três.

Otávio acenou afirmativamente, levou outro momento para se acalmar.

—  Nessa última semana, a pressão dela começou a subir...  aí hoje ela teve uma dor de cabeça esquisita.

—  O médico já disse alguma coisa? — continuou Samuel, mantendo a calma.

— Ela... vão interromper a gravidez, estão correndo contra o tempo, talvez... talvez os bebês... talvez já seja tarde para eles. — os olhos do policial se encheram de lágrimas rapidamente e seu amigo apertou seu ombro de forma compreensiva, enquanto Samuel tentava assimilar o que aquilo significava — Eles entraram em sofrimento... há uma hora... eu não sei o que isso quer dizer — comentou assim que recuperou a voz.

—  Provavelmente o quantidade de oxigênio que chega nos bebês caiu – explicou Toni outra vez.

O silêncio mortal que se instalou ali fez Samuel encarar o marido com um olhar ameaçador pela primeira vez na vida. Não só ele, mas também o outro homem que acompanhava Otávio o fulminou com os olhos. Era nítido que seus comentários sobre o que aprendeu nos livros do pai eram desnecessários. Pediu desculpa silenciosamente ao músico apenas movendo a boca.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now