Capítulo vinte e quatro

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Deu duas batidas na porta e abriu apenas o bastante para colocar a cabeça para dentro.

— E aí? Atrapalho?

— Claro que não Toni! A gente tava acertando umas coisas da academia, entra aí cara! É bom que tu já vai ficando por dentro também — cumprimentou Cauã, sempre espontâneo e de bom humor.

Mesmo pelo canto do olho Toni percebeu seu novo patrão se remexer na cadeira, claramente insatisfeito com qualquer coisa. Honestamente não estava com paciência para exercitar sua boa educação completamente forçada.

— Porra brother, foi mal aí mas dá não. Por mais interessante que seja ficar falando de papelada essa parada não é comigo, além disso tá na minha hora. Eu só queria mesmo era confirmar contigo aquela parada do Samuel, tava pensando em fazer hoje.

— Ah claro, sem problema. Pega aí.  — Cauã abriu a gaveta da mesa e pegou um molho de chaves, que jogou para o funcionário, Toni o parou no ar — Faz o que você precisar. Vou ficar torcendo pra tudo dar certo e ele fica bem com o treino.

— Valeu cara. Eu também tô esperando que não seja tão ruim.

Não quis prolongar a conversa já que não estavam sozinhos. Acenou silenciosamente para o outro chefe e saiu rapidamente.

Agora que anoitecia e a hora combinada se aproximava, se sentia cada vez mais apreensivo. Quando passou no hospital e viu o músico tão cansado foi como ter um balde de água fria jogada na sua cabeça, os planos para os exercícios da noite esfriando rapidamente. Ficou indeciso sobre confirmar ou não os planos para mais tarde durante todo o trajeto, afinal conversas sobre treinos eram sempre tensas.

— Como foi o trabalho hoje? — questionou Samuel, afundando um pouco mais no banco.

Olhou para o passageiro rapidamente, capitã do o máximo de informação visuais que podia.

— Hum, normal eu acho. Nem vi o tempo passar.

Samuel mostrou o esboço de um sorriso, embora ainda parecesse ligeiramente aborrecido.

— Isso é bom. Eu gostaria de poder dizer a mesma coisa, mas eu realmente contei os minutos hoje. Eu detesto hospitais. — desabafou casualmente.

Toni sorriu disso, parando num sinal vermelho e aproveitando para olhar o outro com mais atenção.

— Ninguém gosta. — concordou, mudou a mão da alavanca da marcha do carro para a coxa do mais velho, se debatendo num último momento de decisão — Então? Acha que tem disposição pra treinar hoje?

O ar no carro pareceu sofrer o efeito de súbito de alguma pressão atmosférica misteriosa.

— Se tu tiver muito cansado a gente pode deixar pra outro dia — ofereceu, mesmo sem pretensão, tentando deixar claro que não o estava pressionando.

Samuel deu uma risada curta, algo pequeno e natural, mas que pareceu seco para o personal trainer.

— Claro que vamos, eu não estou tão cansado assim, então não se preocupe.

Samuel estava tão neutro e calmo.

— Tem certeza? — questionou, estranhando toda aquela tranquilidade.

— Sim... o sinal está verde. 

Executou movimentos mecânicos e automáticos ao voltar a dirigir, fazendo o carro se misturar no tráfego calmamente.

No restante da noite Samuel ficou estupidamente pensativo, seus sorrisos eram vagos e fracos. O momento em que o mais velho realmente prestou total atenção na conversa, foi quando chegaram no restaurante e num primeiro momento se recusou a fazer qualquer pedido. Toni fez um esforço extra para não ficar irritado, já que sabia o motivo daquilo.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now