Capítulo sessenta e nove

1.8K 172 57
                                    

Queria esganar aquele homem, agarrar ele pelo pescoço e apertar até ver o rosto congestionado de veias bem marcadas, a boca ficar roxa e os olhos saltando. Ele estava testando sua paciência de um jeito que ninguém ousava fazer há muito tempo.

— Eu sinto muito se estou sendo inconveniente, mas eu vou ter que insistir.

Era tão irritante o modo como ele estava sendo passivo-agressivo.

— Dan, por favor… porque você está fazendo isso?

Elvis já estava visivelmente aborrecido com a intromissão do seu amigo, mas ainda mantinha a educação e algo fraternal no jeito de olhar.

— Sua segurança é minha responsabilidade e agora é minha vez de dizer “com todo o respeito”, mas eu não conheço esse senhor.

Por impulso Toni tomou a frente da situação, se colocou mais perto do amigo do seu enteado, o corpo enorme fazendo volume na frente dele, cruzou os braços para evitar que fizesse algo que  se arrependesse depois. Sua voz soou alta e autoritária, afinal não havia tempo para essas picuinhas e mexericos.

— Oh cara de cu, o problema é justamente esse! O que eu tenho que tratar com o garoto é coisa pessoal, tipo muito pessoal e eu não te conheço não caralho! Por que diacho eu tenho que abrir a intimidade do meu marido pra um estranho?!

Daniel não hesitou nem por um segundo, tão pouco seu olhar firme e sério vacilou e isso era irritante, a calma com que ele insistia em continuar lhes importunando.

— E porque você teria que abrir sua intimidade com seu marido para um adolescente?! — contrapôs, firme e sério.

Toni bufou, respirando com força diante do esforço que fazia para se manter sob controle, imaginou seu punho afundando bem no meio do rosto pálido, mas em uma inspiração mais profunda, virou a cabeça, encarando o enteado com fervor.

— Eu vou dá um murro nele — comunicou com os dentes apertados e as veias saltando na sua testa, a tensão emanando por cada poro da sua pele.

Elvis rapidamente reagiu, ficando parcialmente entre os dois e Toni cedeu, se afastando um ou dois passos pequenos, embora ainda olhasse para o sujeito como um cão raivoso prestes a atacar.

— Dan, por favor, me dá um tempo, está bem, os meninos devem estar destruindo o quarto todo, porque não verifica eles por um momento e depois você volta — pediu Elvis, apaziguador, mas um pouco mais incisivo.

O tal Dan bufou, mostrando um pouco mais de irritação.

— Você é inacreditável! — protestou, perplexo.

— Eu agradeço pela sua preocupação, é claro, mas um assunto pessoal, é pessoal e pronto, você não pode obrigar alguém a te contar uma coisa assim — explicou, tocando o peitoral do amigo suavemente, de modo a manter ele afastado do personal trainer e ao mesmo tempo, tranquilizar o rapaz — Eu vou ficar bem, só estamos conversando.

Ele balançou a cabeça numa negativa, algo decepcionado no olhar, ainda mantendo as mãos nos bolsos da calça.

— Tudo bem, mas só para deixar bem claro, você não vai voltar lá sozinho — ditou com firmeza e se afastou com passos calmos sem olhar para trás.

Elvis coçou a nuca, sem jeito e um pouco preocupado com o amigo.

— Droga — praguejou baixinho.

— Quem é o cara de cu?

— Ah, ele é um amigo, conheci ele quando namorou minha mãe e depois eu comecei a prestar serviço voluntário no centro comunitário onde ele trabalha.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now