Capítulo Quatro

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O clima no jantar foi tenso e silencioso, Samuel ficou à mesa apenas para fazer companhia as meninas, mas não tocou na comida, todos os seus pensamentos estavam voltados para Clara e seu primo, tentava imaginar como Otávio devia estar se sentindo, isso o fez voltar a pensar na ex, mesmo que de forma involuntária, por apenas uma fração de segundo. Mas foi o bastante para o fazer suspirar, como se estivesse cansado, quando realmente estava triste.

O abatimento súbito do músico não passou despercebido pelo moreno, que já havia notado o prato de comida limpo, pois Samuel jamais se serviu. Apesar da eterna preocupação com a alimentação, optou por não dizer nada, apenas observava tudo discretamente, percebendo cada sutil expressão.

Depois do jantar, Luz ficou emburrada outra vez quando Toni lembrou a ela que estava encarregada de lavar a louça toda e limpar a cozinha, imediatamente se voltou para o irmão mais velho, lembrando-se do episódio no escritório dele que havia rendido esse castigo. Encarou-o de forma acusatória, como se esperando ele sair em sua defesa e convencer o pai a lhe tirar a punição, mas Samuel nem percebeu a encarada, tão imerso estava em seus próprios pensamentos. Era um perfeito "cabeça de vento" como dizia Toni.

Por fim a menina bufou indignada e marchou para cozinha, as gêmeas se prontificaram em ajudar, decididas a praticar o que Samuel havia ensinado, foi até divertido, sorriam abobalhadas diante da panelas lustrosas depois de aplicar o "limpa alumínio", faziam caretas para seus reflexos embaçados, afinal aquilo não era um espelho, era uma panela. Magnólia vinha ver como estavam indo, tão satisfeita em ver sorrisos, que não se importava com o fato de terem molhado todo o piso no processo de lavar a louça, mesmo que não compreendesse como tinham feito isso.

Nesse clima meio mórbido, com o futuro de Clara e do bebê ainda incerto, os dias foram passando e logo o fim de semana chegou.

Numa evidente tentativa de animar as meninas, que parecia cada vez mais conscientes do tempo que a mãe estava internada, Toni deu a ideia de convidar algumas amigas, para fazerem qualquer coisa no domingo.

Surpreendentemente as meninas recusaram, não por abatimento ou desânimo, alegaram que não tinham tantas amigas assim, em resumo não se davam muito bem com as meninas da escola. Quando explicavam isso, Luz cutucou severamente a cintura de Isadora, que fez uma careta dolorida, a loira ainda sibilou algo entredentes, de forma não muito discreta, mas incompreensível que apenas as gêmeas puderam entender. Encerraram o assunto assim. 

No fim apenas Vitória veio, a afilhada de Toni havia crescido, deixado de ser um bebê fofinho, para ser uma menina peralta, muito carinhosa que gostava de ler e ouvir as histórias de quando Vó Mag, como chamava a dona da pensão, era mocinha.

Era quase noite, Samuel bebia café escorado no pilar de madeira da varanda, observava Isa e Bel, sentadas a mesa de plástico em baixo do pé de jambo, enquanto Lucas apenas mexia no celular, mostrava alguma coisa para a caçula da turma, Vitória, e ainda tinha mais duas meninas, filhas de um hóspede novo.

De repente foi abraçado por trás, apenas se recostou no corpo firme, que já conhecia muito bem.

— Quê que tá pegando hein? – questionou Toni, repousando o queixo no seu ombro, olhando para turma jovem no quintal.

— Como assim?

— Tu tá aí todo murcho que eu reparei meu bem, já saquei que não é de hoje. Então não vem de "como assim" para o meu lado. Brigou com a Luz de novo?

Samuel suspirou pesado, numa tentativa ridícula de aliviar aquele peso no peito.

— Não. Nós não brigamos, mas... ela perguntou sobre a nossos pais – contou desanimado.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now