Capítulo Vinte e Sete

2.5K 241 83
                                    

Camilo era um menino gentil, como poucos, ele tinha um jeito meigo de comversar que transmitia serenidade genuína. Claramente se destacaria em qualquer ambiente com pessoas da mesma idade que ele, não porque ele tentasse chamar a atenção, mas justamente pelo contrário. Ele era uma adolescente não estava gritando, xingando, distribuindo sua opinião sobre tudo e todos gratuitamente como se fosse a única verdade do mundo e isso com certeza chamava a atenção.

Com uma breve conversa, evitando propositalmente falar sobre o pai do menino, já sabia perfeitamente que o garoto não gostava de ser tão magro, por isso usava roupas tão largas que faziam ter uma imagem desengonçada, ele deixava o cabelo crescer porque achava que era a parte mais bonita que tinha e os movimentos delicados e feminos deviam lhe causar muitos problemas e isso lhe deixava tímido.

— Você pensou sobre a minha proposta? Sobre a música? Não tem vontade de aprender algum instrumento? — questionou.

Camilo pareceu demorar um pouco para lembrar da conversa que tiveram no aniversário do músico.

— Ah, eu queria, mas eu não sei se meu pai vai deixar, a gente não tá tendo muito dinheiro sobrando ultimamente — contou, cheio de vergonha, mas fazendo uma careta.

— Mas eu não estou te oferecendo um contrato, apenas achei que gostaria de tentar, é como um favor. — explicou.

O menino olhou para o lado, claramente indeciso.

— Eu não sei, acho que de qualquer jeito o meu pai não ia deixar — falou baixinho.

Samuel se sentiu mal por ter tocado no assunto das aulas, pois a decepção do garoto era sincera. Sua mente habituada a encontrar soluções para conflitos com pais de aluno, trabalhou rapidamente, mas ainda ponderou se devia insistir no assunto. No entanto, desde o primeiro momento, Camilo lhe despertava empatia e foi impossível resistir a oportunidade de ajudá-lo.

Toni apareceu de repente, uma mão apertando de leve seu ombro.

— Ei parceiro, já comeu?

Samuel apenas acenou negativamente e ganhou dois tapinhas nas costas.

— Beleza, vou servir a gente então — anunciou, já foi se afastando.

— Eu não estou com fome — tentou avisar, falando um pouco alto para ser ouvido.

— Eu não te perguntei.

Foi a resposta malcriada que recebeu do marido. Apenas sorriu e balançou a cabeça.

— Sabe, você podia tentar falar com o César. — obviamente o garoto não compreendeu aonde queria chegar, então não esperou que perguntasse, explicou — Pelo pouco que eu pude observar, ele parece gostar de você e tenho certeza que ele não hesitaria em intervir junto ao seu pai se fosse necessário.

Camilo enrugou a testa por dois ou três segundos, demorando um pouco para compreender suas palavras ligeiramente rebuscadas não usuais para um adolescente.

— Acha que ele me ajudaria? — quis saber, começando a ter esperanças.

— Não tenho dúvida nenhuma. — garantiu.

Ambos olharam para o enfermeiro, o homem enorme estava conversando com a mãe da vizinha. Certamente a senhora idosa estava derramando suas queixas sobre a saúde para o profissional da saúde, tentando arrancar uma receita, isso era muito comum. Por onde César andasse, tinha sempre alguém para fazer uma pergunta, coisa rápida, era o que eles diziam, só uma dúvida, mas nunca era realmente só isso. Se César não prescrevesse nem um Dipirona 750mg, eles se aborreciam.

Camilo parecia ainda estar se debatendo em dúvidas.

— Acha que daria certo?

— Por experiência própria, acredito que sim. Sabe, quando a minha filha quer alguma coisa que sabe que eu não permitiria, ela pede primeiro para o meu marido e ele tanta me convencer a não dizer não. — contou.

Segredo de FamíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora